terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Temporada Borneo - Parte 2


Amigos da Pirataria Alada...Hai

A  temporada Borneo estava começando em Kota Kinabalu , na parte da Malásia . Portanto achei interessante saber o que a internet diz sobre o pais :

Malasia na Internet : O país é multiétnico e multicultural, o que desempenha um grande papel na política. A constituição declara o islamismo como a religião oficial, ao mesmo tempo em que protege a liberdade de religião. A Malásia é uma monarquia eletiva constitucional federal e seu sistema de governo é muito semelhante ao modelo do Sistema Westminster. Seu sistema legal é baseado na common law. O chefe de Estado é o rei, conhecido como o Yang di-Pertuan Agong (Líder Supremo). Ele é um monarca eleito entre os governantes hereditários dos nove estados malaios a cada cinco anos. O chefe de governo é o primeiro-ministro.

Desde a independência, a Malásia teve um dos melhores registros econômicos na Ásia, com uma economia crescendo em média 6,5% ao ano. A economia tem sido tradicionalmente alimentada por seus recursos naturais, mas está em expansão nos setores de ciência, turismo, comércio e turismo médico. Hoje, a Malásia tem uma economia de mercado recém-industrializada, ficando em terceiro lugar no Sudeste Asiático e sendo a 29.ª maior economia no mundo. É membro fundador da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), da Cúpula do Leste Asiático e da Organização para a Cooperação Islâmica, e tornou-se membro da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, da Comunidade de Nações e do Movimento Não Alinhado.

Agora instalado confortavelmente no “Sutera Harbour Resort” eu tinha como principal preocupação executar a inspeção de 100 horas do SeaBaboon . Assim sendo busquei opções técnicas compatíveis.

 A primeira opção  técnica seria um deslocamento em voo até Cingapura para executar a inspeção na Airbus local. Essa opção foi logo descartada devido a autonomia do SeaBaboon. Cruzar cerca 800 milhas náuticas sobre o mar era inviável mesmo havendo algumas ilhas intermediarias .

Restou a alternativa local ..., mas onde?


Deveria ser um local homologado pela Airbus para manutenção de AS-350B2 e ao mesmo tempo homologado pelo DCA (Department of Civil Aviation) de Bermuda (matrícula do SeaBaboon).

Por que a matricula do SeaBaboon é de Bermudas ?

Bermudas na Internet 

As ilhas Bermudas, em inglês chamadas Bermuda (no singular), são um território britânico ultramarino membro da comunidade do Caribe localizadas no Oceano Atlântico, constituídas por uma ilha principal e um conjunto de pequenas ilhas separadas por estreitos canais, hoje ligadas por pontes rodoviárias. O território mais próximo é a costa leste dos Estados Unidos da América, mais especificamente o Cabo Hatteras, e por esse motivo (e também porque as ilhas fazem parte da Placa Norte-Americana), incluem-se as Bermudas na América do Norte. Trata-se de uma das ilhas que se situa sobre a cordilheira submarina Dorsal Mesoatlântica.

Uma das maiores inovações da moda foi criada nas Bermudas, se trata do calção tipo bermuda. Na época da criação da roupa, havia uma lei que proibia as mulheres de mostrar as pernas, então elas usavam shorts grandes, abaixo do joelho, que foram batizados com o nome da ilha e hoje são usados por homens e mulheres.

Descoberta pelo espanhol Juan Bermúdez, provavelmente entre 1503 e 1511, Bermudas é ocupada pelos britânicos em 1609, mas apenas em 1684 se torna colônia.

A Constituição de 1968 garante ao arquipélago autonomia em assuntos internos, mantendo sob responsabilidade metrópole as políticas externa e de defesa.

Desde as primeiras eleições legislativas sob essa Constituição, a maioria das cadeiras do Parlamento pertence ao Partido das Bermudas Unidas (UBP).

Sua política é baseada na cooperação racial e na defesa do status de território dependente do Reino Unido. A principal oposição ao UBP é o Partido Trabalhista Progressista (PLP), constituído principalmente de negros e cuja maior bandeira é a independência de Bermudas.

Em 1978, uma comissão britânica defende a independência do território e uma reforma eleitoral que permita maior representação do PLP. A maioria da população, no entanto, rejeita.

A tensão racial foi violenta na década de 1970. Bases militares canadenses, norte-americanas e inglesas, instaladas durante a Guerra Fria em virtude da posição estratégica do território, retiram-se entre 1993 e 1995.

Em 27 de março de 1997, Pamela F. Gordon (UBP) torna-se a primeira mulher em Bermudas a exercer o cargo de primeira-ministra.

A Economia de Bermudas é baseada na prestação de serviços financeiros e no turismo de luxo. Bermudas possui baixas taxas de impostos sobre seu rendimento e um sistema jurídico seguro, derivado do Reino Unido, o que faz com que leve vantagem na economia global. Desfruta de uma das mais altas renda per capita do mundo, 50% maior que a dos EUA.

Em Bermudas se concentram diversas empresas de Resseguro, que instalaram-se no país após os Ataques de 11 de setembro em 2001 e a passagem do Furacão Katrina, em 2005, ano em que o PIB do país chegou a US$ 4,857 bilhões.

O setor de turismo também é considerado o segundo mais importante. Devido principalmente a proximidade com os EUA e seu alto padrão, 80% dos visitantes são estadunidenses.

Os setores primário e secundário têm pouca participação na economia bermudense. A maior parte dos bens, máquinas e alimentos são importados, e apenas 20% do seu território é destinado a agricultura.

 Sua moeda, o Dólar de Bermudas, possui câmbio igual ao do dólar americano.

Explicação dada , voltemos a Borneo.
Em Kota Kinabalu havia apenas um helicóptero que fazia voos panorâmicos e por sorte ele era um AS-350. A empresa que ele voava tinha que ser homologada Airbus.... e era !  ... só não era pelo DCA Bermuda. Eu tinha que providenciar isto.

Do meu “escritório” na varanda do meu quarto no Sutera Resort , de posse do meu Laptop iniciei os trabalhos respeitando a diferença de fuso horário entre Kota Kinabalu em Borneo e Hamilton na Bermuda . Eram “apenas” de 12 horas de diferença de fuso horário. BINGO! Era exatamente do outro lado do mundo.

Fui conhecer a Layang -Layang operadora do único AS-350. Fiquei pasmo com as condições encontradas em 2010. Era um fundo de quintal com algumas ferramentas, semelhante a um barracão de beira de estrada no interior do Brasil. Me preocupei.

Fui muito bem atendido pelos responsáveis . Expliquei a minha situação a eles.

Pausa para uma explicação para os leigos em aviação sobre a complexidade da manutenção de aeronaves (aviões e helicópteros) . Esta explicação se torna necessária para que os queridos leitores entendam o tamanho do desafio que me vi envolvido visando fazer jus ao conceito técnico mundialmente conhecido: “o meio de transporte mais seguro que existe...é a aviação !”.

A manutenção de aeronaves tem dois tipos preventivos obrigatórios :

CALENDÁRICA – executada sempre que a aeronave atingir um determinado tempo de vida ( tendo voado ou não).

HORÁRIA – executada sempre que aeronave atingir um determinado número de horas voadas (independente do tempo de vida da aeronave).

Independente do tipo de manutenção , grande parte das peças e equipamentos das aeronaves , tem “tempo de validade”(horário e calendário) e são substituídos obrigatoriamente (em bom ou mal estado)

As  manutenções em geral, são controladas tanto pelos operadores e proprietários , assim como pelos órgãos de fiscalização aérea de cada país , principalmente pelo órgão de fiscalização do país onde a aeronave foi registrada . É esse órgão que é responsável pela investigação em caso de acidente , juntamente com o órgão de fiscalização aérea do país onde ocorre o acidente.

Como envolve riscos de vida humana , a bordo das aeronaves e das pessoas em terra , as indenizações são astronômicas em caso de acidente aéreo. Assim sendo , as Seguradoras responsáveis por essas máquinas impõe uma série de exigências que tornam as atividades aéreas, além de extremamente seguras ...também ...caríssimas!!!

Há três tipos de operações aéreas :


MILITAR – nesta operação por razões obvias não incidem os custos da Seguradora , considerando que os riscos envolvidos são incalculáveis , tanto no caso de uma Guerra ou mesmo na paz quando utilizadas em missões de resgate ou transporte de autoridades (sabotagem e terrorismo ... por exemplo). Neste caso , o custo de manutenção é bancado pelo “contribuinte”.



COMERCIAL – Esta operação é a mais cara , porque envolve o maior número de vidas humanas e suas indenizações em caso de acidente. Portanto, se torna a atividade mais fiscalizada ,segura e  cara! Estes custos são pagos pelos milhões de utilizadores ao redor do mundo, repassados pelas Empresas que fazem uso das aeronaves em atividades “lucrativas”.



PRIVADA – Esta é a operação que nos interessa particularmente. Envolve vidas humanas em menor quantidade. O tipo de risco envolvido depende do utilizador proprietário . Assim sendo as Seguradoras é que estipularão o valor e tipo de seguro , que o proprietário estiver disposto a pagar. A responsabilidade recai totalmente sobre os ombros do proprietário que é terminantemente proibido de fazer uso comercial da sua aeronave. É aí que mora o perigo ! Existem proprietários de variada consciência sobre segurança (e poder econômico), o que torna esta atividade com alto índice de acidentes aéreos.  Eu tive sorte......

Explicação dada , voltemos a Layan-Layang (de 2010) em Kota Kinabalu em Borneo.

“Ok comandante as instalações da nossa Empresa estarão a sua disposição depois que for homologada pelo DCA Bermuda, que o senhor vai providenciar. Nosso preço padrão para os serviços que serão realizados na sua aeronave será de 10 mil Dollares Americanos.”

Essa foi a resposta (em inglês) do simpático malaio responsável da Layang-Layang.

“ Thanks for all. See you later...have a nice day Mr Mohamed”

Foram as únicas palavras que consegui emitir diante da situação. Era minha única opção viável no tempo que dispunha. Voltei para o Sutera Harbour para trazer o SeaBaboon a vida.

Encontrei o SeaBaboon em seu "ninho" e providenciei sua remoção. Montei as pás .Fiz uma inspeção pré voo detalhada. Ele estava em perfeito estado. Decolei da Marina Sutera sem problemas e pousei no heliponto da Layang-Lyang , liberando a Nau Karima para  deslocamento para o“ Bintulu Port ”  , a sudoeste de Kota Kinabalu.

De volta ao “escritório” liguei para Airbus Austrália:

“Preciso dois mecânicos em Kota Kinabalu para executarem inspeção de 100 horas na semana que vem “. Pedi resumidamente em inglês.

“Ok comandante . Estarão aí . Faça reserva no seu hotel para os dois e nós providenciaremos as passagens aéreas. A conta relativa será apresentada ao fim dos trabalhos incluindo as diárias “fora de sede” dos mecânicos . Passe o número do cartão de crédito como garantia e posteriormente o “código de segurança” por e-mail que lhe será enviado”.

Passei o número do cartão de crédito e código de segurança da minha Empresa, como determinado. Problema de mecânicos resolvido. Esperei a noite se instalar em Borneo para o dia chegar no Caribe. No horário comercial caribenho , liguei para o DCA de Bermuda.

“Sem problemas Comandante. Estarei aí em 3 dias para inspeção na Layang-Layang. Solicito reserva no seu hotel e um número de cartão de crédito por garantia”.

Essas foram as palavras finais do Arthur (inglês, inspetor do DCA Bermuda, já meu conhecido de outras inspeções).


Mais um problema internacional estruturado para obter sucesso na minha missão profissional. Agora deveria aguardar e torcer para tudo funcionar. Aproveitei a madrugada asiática para fazer contato com o Brasil de fuso próximo ao do Caribe.

Depois de saber que a família estava bem e que minha neta estava cada vez mais charmosa , “apaguei “ no meu quarto/escritório do Sutera Resort, sonhando com a minha “piratinha” desabrochando.


O dia seguinte amanheceu ensolarado e quente próximo a linha do Equador. Aproveitei a praia a piscina e a mordomia do Resort. A tarde fui bater perna para conhecer a cidade de Kota Kinabalu. As favelas sobre palafitas muito organizadas me chamaram a atenção. Descobri por informações que entre outras coisas “Alá” determina aos mulçumanos que os humanos não tem direito a "propriedade" em terra que pertence a Ele (não discuto religião e respeito todas crenças). Assim sendo, quem necessita de moradia ilegal deve se estabelecer sobre as águas, em comunidades sobre palafitas diferentemente das favelas nas encostas de morros brasileiros ,sujeitas a deslizamentos durante temporais. São culturas distintas. Os ecologistas de lá .... são diferentes dos ecologistas de cá.

Percebi um intenso movimento social, e político, no sentido de aproximação ao capitalismo ocidental em 2010 . Hoje, podemos constatar que obtiveram um imenso sucesso.

Como em todo lugar equatorial , por volta do meio-dia caiu uma chuva torrencial que me obrigou a retornar rapidamente ao hotel.

Na semana seguinte “meus profissionais convidados” chegaram de Bermuda e da Austrália, “bancados” pelo número do cartão de crédito da minha Empresa, se hospedando no Sutera Resort. Fizemos uma reunião no jantar e decidimos iniciar os trabalhos no dia seguinte.

A Nau Karima já estava atracada no Bintulu Port se abastecendo e se preparando para a Temporada Borneo. Os mecânicos australianos iniciaram a inspeção do SeaBaboon com as ferramentas Airbus trazidas de Brisbane .

“ Comandante , você tem certeza de que deseja que eu homologue esta oficina ?”

Era o Mr Arthur , inspetor da DCA Bermuda, questionando as condições técnicas da Layang-Layang.”

“ Eu desejo ... e “ preciso “ que o senhor homologue esta Empresa. A garantia de segurança dos serviços executados serão fornecidas pela Airbus Australia por meio de seus mecânicos com a supervisão do meu amigo e fiel escudeiro Humberto, mecânico permanente do SeaBaboon , formado pela Marinha do Brasil “.

Respondi recebendo a cópia do certificado de homologação da Layang-Layang de Kota Kinabalu da Malasia, em papel timbrado do DCA (Department of Civil Aviation) de Bermuda, para executar manutenção primaria de AS-350 .

Ao final dos trabalhos decolei com Humberto ao meu lado para o voo Check de aceitação da inspeção. Em 30 minutos de voo sobrevoei o Monte Kota Kinabalu chegando a 12mil pés. Constatei que o SeaBaboon estava em perfeitas condições e que a paisagem era deslumbrante. Pousei satisfeito e orgulhoso. Agradeci a todos envolvidos pela eficiência. Recebi o documento de garantia da Airbus Australia . Paguei os 10 mil dólares americanos a Layang-Layang com o cartão de crédito da minha Empresa . Todos se despediram e cada um seguiu seu rumo.

Naquela noite, Humberto e eu nos oferecemos um jantar comemorativo digno de profissionais , saudosos das famílias , mas orgulhosos do trabalho bem executado. Brindamos e fomos para os nossos quartos cansados.

No meu quarto liguei para o patrão:

“Chefe...Karima abastecido  com 30 horas de QAV (querosene de aviação ) no tanque para o SeaBaboon  pronto com 100 horas de disponibilidade pra voo. Podemos iniciar as operações”.

“Ok ... se desloquem para as proximidades das “Turtle Islands” e aguardem instruções. Faremos uma caça submarina por lá . Bom trabalho”.

O patrão estava feliz e eu comecei a meditar:

Diz o ditado popular que “ o dinheiro não traz a felicidade “. Pode ser , mas que “o número de um cartão de crédito com uma senha de segurança dando respaldo a um polpudo crédito nele contido”, pode facilitar o acesso a felicidade .... ah , isso eu não tenho dúvida !


Senti saudade da minha netinha recém-nascida. Como ela lidaria com a vida para ser feliz? O tempo diria... era só esperar.



No dia seguinte decolei para um voo total de quase 3 horas de Kota Kinabalu para Bintulu Port,  fazendo escala para abastecer em Brunei (fiquei receoso, vai qui... resolvem me destruir que nem iam fazer com a minha bagagem no aeroporto!) . Abasteci e pousei sem problema, no Karima atracado.


As Operações Aero-Matimas Karima / SeaBaboon ,em Borneo iriam "efetivamente" começar em "Turtle Island".

Eu vos espero na Parte 3 da Temporada Borneo do Pirata Alado.


See you soon ...there !!!


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Temporada Borneo - Parte 1


Amigos da Pirataria Alada ....meu cordial Hai (em "malaio " como convém)


 Passados 12 anos desta aventura, recuperada pela memória, resolvi contar esta exótica história dividida em partes , tal a variedade de situações que me envolveram nesta , pouco conhecida, ilha asiática. Assim sendo aproveitei para compartilhar algumas curiosidades das que tive o privilégio de viver.

 

  Chegada a Borneo

 

De acordo com a Internet:

Bornéu (em Malaio: Pulau Borneo; e em Indonésio: Kalimantan, aportuguesado para Calimantã) é uma grande ilha localizada na Ásia, na região das grandes Ilhas da Sonda, sendo considerada a terceira ilha maior do mundo. Situada em meio às grandes rotas marítimas do Sudeste Asiático, está ao norte de Java, a oeste de Celebes, a leste de Sumatra e da península da Malásia, e ao sul do mar do Sul da China. Está dividida em três partes, com soberania, respectivamente, da Indonésia, ao sul; da Malásia e de Bruneano, ao norte. A Indonésia tem soberania sobre, aproximadamente, 73% da área de Bornéu, enquanto os estados malaios de Sabá e Sarawak, ao norte, ocupam 26% da ilha. Além disso, o território federal de Labuan, também pertencente à Malásia, situa-se numa pequena ilha próxima à costa de Bornéu. Já o sultanato de Brunei tem seu território inteiramente em 1% da área da ilha.

Aproximadamente metade da área Bornéu está no hemisfério norte e metade no hemisfério sul, estando as porções malaia e bruneana no norte, e a parte indonésia distribuindo-se entre o norte e o sul.

Bornéu possui uma das mais antigas florestas equatoriais do mundo.

Em agosto de 2019, o presidente Indonésio Joko Widodo revelou planos de transferir a capital de seu país de Jacarta para a ilha, em algum ponto não definido da província de Bornéu Oriental. Ela é conhecida pelas praias e pela antiga floresta tropical, que abriga uma incrível biodiversidade de animais selvagens, como orangotangos e leopardos-nebulosos. Em Sabá, encontra-se o maior pico da ilha, o monte Kinabalu, com 4.095 metros de altitude, e, na costa, fica a ilha Sipadan, um famoso ponto de mergulho.

 

O ano de 2010 foi muito movimentado para mim.

Depois da frustrada ida para a África em função das atividades dos piratas da Somália em 2009, o proprietário do Karima , determinou que a Nau se deslocasse para Borneo , quando estávamos nas Ilhas Maldivas . Eu, tinha preocupação com a grande inspeção de 600 hrs do Seababoon onde eu negociava para ser executada na Austrália , quando lá chegássemos. Antes disso, haveria uma pequena inspeção de 100hrs que deveria ser executada em Borneo. Eu teria uma oportunidade de vir ao Brasil para testemunhar o nascimento da minha primeira (e única) neta Lelê...e assim , embarquei para o Brasil.

A Lelê nasceu linda e esplendorosa na minha cidade natal São Paulo, me enchendo de alegria e orgulho. Ela seria mais uma "paulistana marrenta" ...( Huurra Meu !).

No hospital meu celular tocou:

" Pirata onde você está?"

"Estou em Sampa...Hurra Meu"

"Ta bom ...então pega um voo e vá para Kota Kinabalu !... preciso de você por lá na semana que vem".

"KOTA  KINABALU ???....ok ...estarei lá !"

" Boa viagem ...abraço".

....ouvi um "click" de encerramento da chamada do meu patrão. 

Kota Kinabalu na internet: ...... é a capital do estado de Sabá, na parte norte da ilha de Bornéu, localizada na Malásia. Muitas vezes chamada de KK, trata-se de uma cidade costeira parcialmente cercada por floresta tropical e conhecida pelos mercados movimentados, pelo calçadão moderno, pelas praias e pela Mesquita da Cidade de Kota Kinabalu, à beira-mar. A cidade também é a porta de entrada para o Parque Nacional do Kinabalu, que abriga o Monte Kinabalu, com 4.095 m de altitude.


Iniciei o planejamento da viagem. Seria um extenso voo começando em Guarulhos com destino a Joanesburgo nas asas da SAA (South África Airlines). Eu já conhecia esse voo que apelidei de “afro voo” com suas angolanas muambeiras da 25 de março carregando suas enormes bolsas na cabine do avião. É um voo “surreal”. Em Joanesburgo uma conexão para Cingapura pela Singapore Airlines e suas “gueixas” comissárias de bordo. Eu adorava este confortável e luxuoso voo. Em Cingapura e seu incomparável aeroporto eu faria uma conexão de 6 horas com direito a um descanso providencial num pequeno quarto com chuveiro na área de “transfer” do próprio aeroporto. A partir de Cingapura , a bordo da Malaysia Airlines iria fazer um voo para Kuala Lumpur conectando para Bandar Seri Begawan, capital de Brunei. De lá com troca de aviões eu embarcaria para o destino final Kota Kinabalu. (Ufa! Seria uma longa jornada).

No Check in em Guarulhos a primeira surpresa:

“ Kota Kinabalu ???... onde fica isso ?”

Foram as palavras da atendente da South África Airlines quando apresentei meu bilhete .

Antes que eu tentasse responder , ela consultou o seu computador e começou a digitar os dados do bilhete e conferir meus documentos. Depois de uns 5 minutos pesou minha única bagagem e tentou afixar uma extensa “tripa” de papel com as conexões previstas . Ela teve que separar a “tripa” em duas para poder afixar na minha única mala.

“Prontinho...sua bagagem foi despachada até Kota Kinabalu, na Malásia onde será retirada. Aqui está seu comprovante de despacho de bagagem e seu cartão de embarque do seu voo. Tenha um bom voo !”.

Fiquei feliz com a eficiência da funcionária da SAA, mesmo tendo sido surpreendida. Agradeci formalizando o elogio, retribuído por um simpático sorriso.

Embarquei , e achei meu assento da classe econômica no corredor. Depois de algumas “bolsadas” das senhoras angolanas “muambeiras” em busca de seus lugares, o avião decolou para cerca de 6 horas de voo atravessando o Oceano Atlântico até Joanesburgo na África do Sul. O voo foi tranquilo e sem turbulência o que permitiu uma “resenha” intensa das angolanas sobre suas compras na 25 de março em São Paulo.

Em Joanesburgo eu deveria fazer novo Check in na Singapore Airlines. O funcionário africano que me atendeu me surpreendeu :

“ Seu Check in só pode ser feito no ano que vem!

“COMO ? meu embarque é imediato!”...ponderei

“seu voo está marcado para 2011 e estamos em 2010”... e me mostrou o bilhete (emitido pela SAA , São Paulo) comprovando.

Fiquei desesperado e tentei ponderar procurando entender onde havia o erro . O funcionário sem mexer uma ruga , com muita calma me tranquilizou:

“ Se o senhor realmente precisa embarcar hoje , eu posso dar um jeito.... mas como seria irregular vai lhe custar um pouco mais”.

“Claro que preciso embarcar hoje !”

“ Nesse caso o senhor pegue este envelope, coloque 200 dólares. Eu irei ao banheiro fazer xixi . O senhor , um minuto depois, vá ao banheiro fazer xixi e se posicione ao meu lado e me passe o envelope. Eu sairei e o aguardarei, no guichê, para emitir o seu cartão de embarque”.


Decolei da África a bordo da Singapore  Airlines (depois de fazer xixi). Quando o avião estabilizou aceitei um “drink” oferecido pela “gueixa” comissária de bordo. Relaxei e curti um voo confortável por cerca de 6 horas até pousar na moderna Cingapura. No maravilhoso aeroporto local, comprei um livro e me instalei no pequeno hotel na área de transfer. Tomei um belo banho e descansei. No horário previsto embarquei pela Malaysia Airlines com destino a Bandar Seri Begawan capital de Brunei com escala em Kuala Lumpur. Pousamos e haveria uma troca de aviões em Brunei.   

Brunei pela internet:

Brunei é uma nação minúscula situada na ilha de Bornéu e dividida em 2 seções distintas cercadas pela Malásia e pelo Mar da China Meridional. O país é conhecido por suas praias e pela floresta tropical rica em biodiversidade, boa parte da qual é protegida por reservas. A capital, Bandar Seri Begawan, abriga a opulenta mesquita Jame’Asr Hassanil Bolkiah e seus 29 domos dourados. Istana Nurul Iman, o enorme palácio da capital, é a residência do sultão governante de Brunei.

Quando desembarquei para troca de aviões , percebi que havia esquecido meu livro a bordo. Quando tentei voltar fui impedido por uma agente de segurança vestida com uma “burca azul” (uniforme das funcionárias do Sultanato mulçumano radical). Depois de explicações em inglês fui orientado a seguir a funcionária mulçumana até uma sala onde li na entrada em inglês “Lost and found”

Na sala havia muitas coisas. Meu livro lá estava. Reparei um monte de malas próximas a saída e sorri quando reconheci a minha despachada em São Paulo.

“ O que minha mala estaria fazendo numa sala “Lost and found” em Bandar Seri Begawan capital de Brunei ???”

Me apavorei e perguntei a agente totalmente coberta pela “burca”. Ela gentilmente me explicou que aquela mala havia chegado ao aeroporto no dia anterior. Não havia sido recolhida por ninguém permanecendo na esteira. Por medida de segurança seria destruída porque não foi reclamada. A partir daí uma discussão acalorada por meio de um “inglês” deficiente até que consegui provar que a mala era minha.

Uma das faixas da “tripa” de conexões afixada no Check in da South África Airlines em São Paulo havia se desprendido da minha bagagem . Dessa forma , minha mala ficou despachada para o destino final :” Bandar Seri Begawan “.

Por pouco não fiquei sem minha única bagagem. Novamente despachada , pousamos juntos em Kota Kinabalu (finalmente).

Do aeroporto fomos (eu e a mala) de taxi para o “Sutera Harbour Resort”. La estava a Nau Karima atracada na marina , trazendo no seu bojo hangarada a “SeaBaboon” , acompanhada pelo seu mecânico e meu fiel escudeiro, Humberto. Me hospedei no Resort para montar a “base” e planejar a temporada de Borneo. A Nau iria se deslocar para o “ Terminal Bintulu”, para manutenção e abastecimento enquanto eu organizaria a inspeção de 100 horas do SeaBaboon em Kota Kinabalu.

A temporada de Borneo havia apenas começado. Acompanhe a "Temporada Borneo - Parte 2

 


  



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