Ao retornar foquei o olhar a distância e reparei algumas moças espaçadas ao longo do meu trajeto , todas isoladas se contorcendo . Imaginei serem adeptas de exercícios físicos de contorcionismo ou uma nova técnica de YOGA divulgada por alguma “influenciadora da moda” .
sábado, 30 de dezembro de 2023
Pirata....e a Invasão do ano A
Ao retornar foquei o olhar a distância e reparei algumas moças espaçadas ao longo do meu trajeto , todas isoladas se contorcendo . Imaginei serem adeptas de exercícios físicos de contorcionismo ou uma nova técnica de YOGA divulgada por alguma “influenciadora da moda” .
domingo, 3 de dezembro de 2023
Pirata...num dia de Forest Gump
Amigos da pirataria alada... meu cordial olá
Hoje no último dia 30 do mês de novembro de 2023, resolvi
caminhar de forma meditativa na minha praia predileta de Santos. O sol de
primavera da tarde anunciava uma caminhada , pé molhado, extremamente agradável
, refrescado pela brisa marinha proveniente do sul. A trilha sonora das ondas
que quebravam sem grande alarde compunham um ambiente perfeito para minha
caminhada meditativa. Com o passar do tempo e de alguns quilômetros percorridos , pé molhado, resolvi me sentar
num dos bancos do calçadão instalado no maior jardim litorâneo do mundo , na
minha praia predileta. Busquei uma posição privilegiada de frente para o mar e
para o sol poente. Reparei que a minha frente , na areia, um professor de futevôlei
desenvolvia o momento final de sua aula para três moças que seguiam suas instruções.
Uma delas levava jeito para o esporte , no entanto as outras duas estavam ali
sem nenhuma intenção de se dedicarem efetivamente ao esporte. Imaginei que
estavam ali só para “prestigiar” o jovem rapaz forte , bem apessoado , que
ministrava as instruções ,técnicas e físicas, as meninas.
O sol já ensaiava seu caminho descendente rumo a linha do horizonte começando a tingir o céu de tonalidades que variavam do azul celeste ao vermelho sangue passando pelo amarelo ouro a meia altura. Com este cenário, um casal de braços dados, de idades semelhantes à minha, cruzaram com dificuldade a minha frente e param .
-“Senhor boa tarde. Podemos nos sentar um momento no seu
banco?” Perguntou a senhora de características afros sob a cabeleira branca
bem peteada .
-“Claro que sim , mesmo que o banco fosse só meu , e não de todos”
. Respondi tentando ser engraçado e simpático. Acho que consegui porque o casal sorriu. Me senti bem com essa reação. Eles sentaram aliviados.-“Senhor me desculpe, mas meu marido precisa descansar um
pouco antes de continuarmos. Ele está com problemas de locomoção e fora
receitado: caminhadas em locais tranquilos e cá estamos cumprindo as determinações
médicas”. Disse a senhora sentada ao lado do marido que ouvia atento.
-“Fiquem à vontade e curtam o sol e a paisagem”. Disse procurando ser respeitoso.
-“ O Senhor mora aqui ?... ou é de fora?” Perguntou a
senhora e completou antes que eu pudesse responder .” Seu sotaque me indica
que o senhor é carioca “ .Afirmou a senhora .
-“Sim , moro aqui ,,,e Não , não sou carioca só meio
carioca. Parte da minha família é do Rio e lá morei por alguns anos”.
Respondi sendo atencioso.
-“ Nós moramos aqui há 8 meses por indicação do meu
médico. Somos paulistanos ! “. Afirmou o senhor sentado entre mim e a
esposa.
Olhei fixamente para ele e avaliei ter uns 70 e poucos anos
, grisalho de olhar penetrante por meio de olhos claros, de pele alva que compunham um perfil de ariano. Formavam um
casal interessante sem nenhum tipo de preconceito aparente.
-“ Cura a alma ?” Perguntou a senhora espantada.
Antes de responder , vi que a aula de futevôlei havia terminado e o grupo saiu sorrindo indo para uma barraquinha de praia curtindo umas cervejinhas.
Ao mesmo tempo reparei que o Navio Patrulha GURUPI da Marinha se posicionava a nossa frente no mar distante umas 2 milhas náuticas , enquanto um enorme navio mercante apontava na saída do canal do porto, a esquerda do nosso visual. Me preparei para responder à pergunta da senhora sobre a “cura da alma”. Antes que eu começasse a falar, a senhora se antecipou e fez nova pergunta :
- “ Nossa ... que navio enorme ...ele não vai encalhar? Essa praia é muito rasa e ele está tão perto! “.
- “ Não senhora . Ele está seguindo um canal profundo
balizado por aquelas boias a nossa frente, assessorado por um prático que é um profissional
que tem experiencia neste porto , além de toda tecnologia que temos hoje .As
posições são enviadas por satélites de navegação que instruem o computador do
piloto automático que deve estar controlando o navio. Além disso a profundidade
desse canal é mantida acima de 20 metros de profundidade por meio de dragagens
constantes monitoradas por vários órgãos responsáveis fiscalizados pela Marinha
, que está representada ali na frente por aquele Navio Patrulha que executa o
papel de “DETRAN MARITIMO”. Fique tranquila porque aquele Navio enorme não vai
encalhar na nossa praia”.
- “ Como o senhor sabe disso ?” Perguntou o senhor
ariano , sentado ao meu lado.
- “ O senhor é casado ? “ Foi a pergunta que veio da
senhora curiosa , depois que ela observou que minha pele estava muito bronzeada
pelo sol.
A chuva de perguntas que o casal disparava na minha direção,
me fez pensar numa resposta que atendesse a curiosidade de ambos.
- “ Mas onde está a sua Sereia? Qual é o nome dela ?
A curiosidade do casal e minhas respostas descompromissadas , os incentivavam a
novas perguntas .
- “ Maria , é o nome da Sereia que foi ao Shopping.
Afinal em tempos natalinos , até o sol perde na concorrência , para os shoppings”.
- “Ah ,,, eu também me chamo Maria , e também adoro
Shoppings. Em São Paulo eu vivia nos Shoppings “.Disse a senhora Maria , “shoppeira”
paulistana.
Aquela resposta me incentivou a viajar no tempo.
- “Maria , se me permite a intimidade , sabe qual foi o
primeiro Shopping do Brasil ?” Perguntei sem compromisso e com educação ,
-“ Não “. Foi a resposta curta e incisiva da Maria
sob o olhar interrogativo do marido.
-“ Em novembro de 1966 , o país vivia sob um regime militar democrático . Eu vivia em São Paulo, em Pinheiros mais precisamente , quando foi inaugurado o primeiro Shopping Center do Brasil , o Shopping Iguatemi. O empreendimento comercial situava-se na antiga Rua Iguatemi, próximo de onde eu morava , há cerca de uns 3 ou 4 quarteirões. Foi um grande evento para toda sociedade paulistana , na maior cidade de um país que era conhecido internacionalmente como “milagre brasileiro”. Eu , era um menino de 13 anos que amava os Beatles e os Rolling Stones. O Shopping Iguatemi oferecia uma loja de discos de vinil , chamada Hi-Fi , onde podíamos fazer um “test drive” em cabines individuais , antes de adquirir determinados sucessos lançados, principalmente pelos Beatles. Eu gostei tanto da novidade que me tornei assíduo frequentador. Isso não me fez bem .
O céu a nossa frente já adotava a tonalidade vermelha ponteada
pela bola de fogo amarela que teimava em atingir a linha do horizonte plácida
sobre o mar infinito.
- “Nada” . Respondi .
- ” COMO NADA ? “ Perguntou surpreso o homem ao meu
lado.
- “ Na verdade, ele está ali , só para ser visto. Isso se
chama : Dissuasão ! Ele está ali , como uma demonstração de força para os
malfeitores. Ele , o Navio de Guerra, está dizendo a todos que ele tem um
canhão capaz de destruir e matar qualquer pessoa mal-intencionada que queira
causar mal as pessoas , ou danos materiais , privados ou públicos além das
instituições estatais mantidas pelo dinheiro que pagamos por meio dos nossos
impostos. Ele está ali impondo respeito a nossa sociedade. Só não sei o que ele
faria contra o adolescente de bicicleta, que há dias arrancou minha correntinha
de ouro que portava a imagem de São Jose , colocado no meu pescoço há 70 anos
pela minha madrinha , para me proteger, quando fui batizado. Eu estava apenas
caminhando na praia , como faço todos os dias. Corri atras do adolescente
pedalante na areia e consegui agarrar sua camiseta. Ele me deu uma cotovelada
no braço me derrubando na areia. Por azar meu , caí numa área preservada da
areia , onde os destroços de um antigo barco encalhado há anos, virou atração
turística da cidade. Ao me apoiar na queda fui ferido na mão direita , pelos
destroços enterrados. A tampa arrancada da palma da minha mão direita ( a boa
porque sou destro) sangrava muito . A
praia estava vazia. Sozinho enrolei a minha camiseta visando estancar o forte
sangramento ( como aprendi nas minhas antigas instituições de ensino). Me
apressei na volta para casa onde poderia desinfetar e proceder um curativo.
Procurei lavar bem a grande ferida com água salgada do mar. Ardeu muito, mas
funcionou. Olha só a cicatriz, ficou muito boa. A sorte do adolescente
pedalante da praia , foi que no meu regresso para casa , encontrei uma viatura
da Polícia Militar estacionada na calçada do grande jardim litorâneo fazendo
“dissuasão”, ou patrulhando estaticamente a praia , e não viram a agressão . A
policial militar , chefe da viatura , me disse que não poderia fazer nada ,
porque a bicicleta não possuía registro visível e a minha descrição sobre o
criminoso era insuficiente : adolescente , magro , afrodescendente pedalando na
areia numa bicicleta preta. Agradeci muito a atenção da Policial Militar paga
em parte pelos meus impostos . Cheguei em casa e completei o tratamento da
ferida que meu ótimo organismo de coagulação já havia estancado o sangramento .
Já salvo fiquei imaginando : Ah ....se naquele dia o Navio Patrulha Gurupi estivesse
garantindo a lei e a ordem , vendo tudo pelas lentes poderosas de seus
equipamentos de guerra , seguiriam o meliante com seus radares de precisão e
cumpririam , sem dúvida sua função acionando o seu canhão de extrema precisão
eliminando definitivamente aquela ameaça em flagrante delito a Lei e a Ordem. Não
precisaria nem se preocupar com as consequências jurídicas , já que o mesmo Ministério
da Justiça que respaldou a implantação da GLO no porto de Santos , seria
julgada pelos Ministros de inquestionável sabedoria que compõe a Supremo Tribunal
de Justiça. O ladrão deu sorte e eu fiquei preocupado porque o São Jose da minha medalhinha roubada,
resolveu proteger outro cidadão. Faz parte da vida.”
A linda bola solar tocava a linha do meu horizonte. Senti que estava bem estabilizado curtido aquele visual .... e melhor, respondendo à perguntas que me fazia um simpático casal , interessado no que eu dizia . Esse era um momento raro.
-“Puxa vida....e se tivesse um Porta Aviões , que nem aquele Americano que está atacando os palestinos no Oriente médio ?”. Perguntou a curiosa Maria com olhos esbugalhados.
Esperei um pouco antes de responder aquela pergunta . Olhei
em volta e não vi mais o catador de latas drogado. Deve ter ficado satisfeito
com a coleta. Já imaginando o rumo daquela conversa, perguntei de surpresa .
-“ Vocês tem filhos ? “
-“Temos três . Uma de 57, uma de 46 e um de 38”.
Respondeu a Maria se antecipando ao marido com um sorriso
maroto estampado no rosto.
-“ Que legal . Devem ser uma família feliz com um belo
time “. Afirmei sinceramente dando continuidade as minhas respostas.
-“ o Porta Aviões de propulsão nuclear Gerald Ford, americano,
é o maior do mundo ..... e não... ele não está atacando palestinos . Ele está
fazendo lá no Oriente Médio , guardada a
devida proporção , o mesmo papel que que
o nosso Navio Patrulha Gurupi está fazendo ali
na nossa frente. Dissuasão. O Ford , está dizendo a todos envolvidos que
não se metam nessa guerra, caso contrário as consequências serão maiores que as
atuais. Ele está dizendo para o mundo : os judeus são meus amigos e foram
atacados por terroristas , e isso não aceitamos como civilização. Estamos aqui
para garantir que “outros” não achem que isso é possível ser feito , sem consequências
duras para todos. Tipo aqui na nossa praia , quando um adolescente de bicicleta
, rouba uma correntinha de ouro com São Jose, de um idoso e não acontece nada .
Os palestinos dão abrigo a terroristas e estão sofrendo
as consequências danosas das atrocidades cometidas pelos seus protegidos....sejam
lá as razões que os movem a fazer isso. Quem está atacando os palestinos são os
israelenses, tentando recuperarem seus entes queridos sequestrados e , de certa
forma , vingar os que foram mortos de maneira hedionda dentro de seu país. Aí
eu pergunto a vocês : Se, hipoteticamente, uma de suas filhas estivesse grávida
de seu futuro neto, e sua casa fosse invadida por um ladrão de correntinhas de
São Jose, e além da correntinha , sob efeito de drogas , resolvesse assassinar
toda sua família e sequestrar alguns vizinhos e fugir de bicicleta para a
favela mais próxima, onde o senhor não consegue nem chegar perto sem levar um
tiro, eu pergunto , O que vocês fariam ? Iriam ficar a distância rezando pra
São Jose? Pediriam para a Polícia Militar invadir a favela atirando em todo
mundo que se opusesse , para salvar seus vizinhos reféns sequestrados ?
Pediriam para o Navio Patrulha Gurupi e toda Marinha , sustentada pelos
impostos que vocês pagam ,Garantidora da Lei e da Ordem , bombardear a favela
com todos que habitam a favela ? É uma decisão difícil . É mais fácil ficar em
casa , no ar-condicionado, esfregando celular e vendo televisão ouvindo e vendo
as opiniões defendendo os mais variados interesses econômicos ,comerciais, políticos
e repetir essas opiniões , feito papagaio. Pensar cansa! ....melhor não gastar
energia pensando . “
Diante do silencio momentâneo que se instalou , continuei.
-“ Prezado casal . Obrigado pela companhia . A Sereia
deve estar preocupada me esperando. Foi um prazer conhecê-los. Fiquem bem e curtam a vida , porque o relógio não para
“.
O casal que estava mudo olhando surpreso na minha direção ,
perguntou uníssono:
-“ Qual é o seu nome ?”
-“ Zé..... Zé Pirata
....Tenham uma excelente noite e que se vossas almas estavam... tristes , espero que este ambiente tenha contribuído hoje , para curar ou pelo menos amenizar essa tristeza. Aquela estrelinha brilhando no céu me passou a garantia dela”. Respondi apontando para a Alpha Crux.Ofereci ajuda, que foi recusada e me retirei satisfeito por
ter vivido aquele momento de “Forrest Gump “, com minha alma... revigorada.
A Sereia estava em casa com ar de felicidade , envolta em
muitas compras natalinas .
Assim a “VIDA” anda...há milhões de anos...uns chegam , sem
saber de onde vieram ...e outros se vão ,da maneira que chegaram , sem saber
para onde vão . Simples assim. Não há mistério.
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