Amigos da Pirataria Alado
Meu cordial ... Bom dia (como convém no inicio da fase "Piloto sério comercial" )
Iniciando uma nova fase da vida do Pirata , fui buscar recordações fotográficas e memórias de como um Pirata de formação militar acabou se tornando um Pirata Alado na aviação executiva e por várias razões , se transformou num piloto sério na Aviação Comercial.
Assim sendo, descobri que essa fase começou em dezembro 1984, quando em Macaé , eclodiu "a greve dos pilotos de helicópteros ", que prestavam serviços a Petrobras , na atividade hoje conhecida como "Aviação Offshore "
A internet define assim esta atividade :
O transporte aéreo para este tipo de serviço apresenta características peculiares, como pouso em unidades marítimas móveis – sujeitas à movimentação de ondas do mar – e em espaço restritos, entre outros quesitos. Fatores estes que exigem rigorosos procedimentos de segurança.
O filme abaixo com reportagens do Jornal Nacional da época (divulgado pelo Sindicato dos Aeronautas ) dava " ideia ", do tamanho do problema causado na época pela "Greve dos tripulantes de Helicópteros" "
( no minuto 2:54 do filminho há uma "breve" alusão aos helicópteros militares que minimizaram o tamanho do problema causado a economia do país )👇
https://youtu.be/QRPqjHtxzI8
Naquele dezembro de 1984, o país era governado pelo General Figueiredo que se preparava para executar eleições presidenciais em janeiro de 1985 ( ou seja , plena campanha eleitoral que viria a eleger de forma indireta o Senador Tancredo Neves , candidato da oposição ),
O HA-1, era o Esquadrão de helicópteros mais moderno da Marinha com as "novíssimas " aeronaves SAH 11, de esclarecimento e ataque , que haviam em 1982 feito seu "batismo de fogo"(portando a bandeira da Grã-Bretanha) na Guerra das Malvinas , afundando algumas embarcações do nossos Hermanos argentinos , aqui pelas bandas do Atlântico Sul.
Os Piratas do HA-1, eram batizados com uma poção mágica conhecida como "Sangue do Lince" e após esta cerimônia se tornavam "Linces", e com esse perfil ... executavam suas tarefas em defesa do país. Eu era um desses Piratas Alados, sob pele de Lince.
O Esquadrão foi acionado para , junto com alguns Pumas da FAB, executarem as trocas de funcionários da Petrobras, das quinzenas nas plataformas da Bacia de Campos.( um pequeno detalhe : a greve começou no dia 13 de dezembro - dia do Marinheiro) , claramente visando tumultuar a troca de quinzena próxima do Natal ).
Lá fomos nós. Foi o meu primeiro pouso numa plataforma de petróleo " Offshore".
( Sem querer ser arrogante , eu diria que perto dos pousos em Fragatas (diurno e noturno) essa nova plataforma de operação parecia como "tirar doce de criança ". Recebíamos na Base Macaé os números das plataformas a serem atendidas , Conferíamos nas cartas da "bacia" as posições geográficas , lançávamos as posições no nosso TANS ( Tactical Air Navegation System), computador de navegação dopller do Lynx (não existia GPS na época) e decolávamos . A rapidez do Lynx naquela época , garantia cumprimento das trocas com mais eficiência. Missões médicas podiam ocorrer com rapidez , diurno ou noturno ).
Numa dessas missões , ao pousar de volta em Macaé , me lembro de um dos funcionários da Petrobras ao desembarcar , se aproximou de mim depois dos rotores parados para abastecimento , e me disse :
-" Comandante , obrigado . Hoje é aniversario da minha filha e sem vocês eu não poderia estar com ela fazendo 1 ano. Por mim essa greve poderia continuar pra sempre se vocês continuassem por aqui ."
-"Parabéns para tua filha ... dá um beijo nela e diz que a Marinha deu a ela ,o pai presente no aniversário de um ano dela ".
Foi uma experiência inesquecível pra mim aquela GREVE.
O tempo passou , e entre várias outras missões , quis o destino que em 1988 , ao voltar da França onde recebi 6 Super Pumas (AS 332 F1) e 11 Esquilos Bi (AS 155 F2) tendo testado o Dauphin AS 366 N (da Arábia Saudita) a bordo de uma Fragata Francesa no mar, fui designado para a DAerM (Diretoria de Aeronáutica da Marinha., para exercer funções técnicas. Uma delas seria inspecionar a operação de aeronaves nas plataformas que iriam operar pela Petrobras Offshore.
Num determinado dia , recebi a ordem de comparecer ao Aeroporto Santos Dumont e encontrar um Comandante civil na sala de tráfego que me levaria a Plataforma para executar a inspeção de segurança. lá chegando ... SURPRESA ! . Não era um Comandante ... era UMA Comandante de Bell Jet Ranger de Taxi Aéreo. Nos apresentamos e partimos para o voo. A Comandante dominava perfeitamente o Bellzinho semelhante ao que eu me formei Aviador Naval em 1980 , no HI-1(Esquadrão de Instrução da Marinha).
O dia estava perfeito para o voo. A paisagem do Rio de Janeiro é sempre linda nesses dias . Nos afastamos de terra mantendo 1000 pés e depois de alguns minutos de voo sobre o mar a ComandantA me ofereceu os comandos. Agradeci polidamente alegando que não era mais qualificado naquele modelo, pois agora exercia funções técnicas apenas de inspeção. Minha função era apenas inspecionar as atividades aéreas da Plataforma e não as funções da pilota de Taxi Aéreo que me foi colocado a disposição para transporte . Isso era função do DAC (Diretoria de Aviação Civil da FAB ) . Pousamos sem problema na Plataforma. Realizei a minha inspeção e aprovei a Plataforma . Na hora da decolagem do alto convoo , a Comandanta , não sei se querendo me impressionar , fez uma decolagem ....digamos ...um tanto "hot" para os padrões do Bellzinho mono motor sem flutuador , em cima d'água. Depois de estabilizar a 1000 pés a Comandanta , olhou pra mim sorrindo e perguntou :
-" Gostou da decolagem Comandante ? O senhor acha que eu seria aceita na Aviação da Marinha ?
- " Adorei a decolagem ! Não tenho a menor dúvida que você seria aceita na Marinha .... quando ela admitir mulheres militares em atividades operativas, você passar no concurso para Aviação Naval e depois de um ano se formar na teoria no CIAAN (Centro de Instrução e Adestramento Aero Naval) e na parte prática de voo do HI-1. Quem sabe no futuro sejamos colegas de cabine ".
Pousamos no Santos Dumont . Agradeci o voo . Nos despedimos e nunca mais ouvi falar dela.(não me lembro do nome da Comandanta , mas pode ser que esteja voando hoje no Offshore).
Em 1994, depois de ter sido encarregado da formações de pilotos da Marinha e do Exercito, e ter sido encarregado de táticas operativas aéreas e ter contribuído para a confecção do envelope de pouso da novas Corvetas da classe Inhaúma , fui envido para Brasília para representar a Marinha no COMDABRA (Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro). Era uma honra e uma oportunidade de conviver num ambiente que desfrutei como criança , já que eu havia nascido numa Base Aérea da FAB, o PASP (Parque de Aeronáutica de São Paulo) há exatos 40 anos , quando ainda meu pai era oficial daquela Força. Aproveitei estar no Planalto, próximo ao DAC (Diretoria de Aviação Civil) e tirei minha habilitação de PP ( Piloto Privado). Essa era a única qualificação possível para um piloto militar na ativa (independente de sua experiência de voo). Foi um período maravilhoso no Planalto . Consegui ajudar na Aproximação das autoridades de ambas Forças (FAB e Marinha) que andavam meio "estremecidas" desde 1941 quando a FAB foi criada levando pilotos e aviões da Marinha, por ordem do Presidente Getúlio Vargas.
Essa aproximação ajudou a arrefecer os ânimos entre as duas quando em 1998 , a Marinha anunciou que havia comprado aviões do Kuwait (sobra da Guerra do Iraque) e passaria a opera-los a bordo do Navio Aeródromo Minas Gerais , a revelia da Lei (coisa de Piratas). O Presidente a época político (Fernando Henrique) e Comandante das Forças Armadas, botou "panos quentes" e em 1999 criou o Ministério da Defesa , retirando o Poder de "Ministérios" das 3 Forças Armadas. (sábios esses políticos ).
No ano 2000 , tendo completado meus 30 anos de Marinha resolvi ganhar dinheiro na vida privada com a experiência Offshores que a Marinha tinha me oferecido . Primeiro passo : apresentar minhas fichas de voo (da Marinha e da Aérospatiale ) ao DAC para ter a minha habilitação civil para trabalhar. O DAC atualizou minha carteira de PP para PLAH ( Piloto de Linhas Aéreas - Helicóptero). Pronto.
Agora estava pronto para ganhar dinheiro e para procurar emprego. Não precisei, porque logo apareceu um "maluco cheio de grana" que me desfiou a operar um pequeno helicóptero a bordo de um pequeno iate rápido pela costa brasileira.
Aceitei o desafio . A grana era boa , e deu certo. Nos 10 anos seguintes a operação evoluiu . O helicóptero cresceu . Os Iates se multiplicaram e cresceram . A costa brasileira ficou pequena. Passei a voar Offshores e operar em iates por todo mundo e diversos países. A grana honesta paga cresceu na mesma proporção.
Em 2005 a ANAC (Agencia Nacional de Aviação Civil) foi criada, sob as ordem do Presidente Lula , diminuindo o Poder de fiscalização da FAB , sobre a aviação civil, dando Poder aos políticos , hoje subordinada ao Ministério de Portos e Aeroportos.
Depois disso continuei renovando minha licença de PLA-H , passando todos os anos por avalições de vários "pilotos inspetores da ANAC".
Nesta atividade adquiri experiências das mais variadas voando pelo mundo alguns tipos de aeronaves (visuais VFR e instrumento IFR ) como piloto executivo , na "aviação privada" (não comercial ).
Em 2010, cansado de ficar longe de casa por muito tempo , resolvi deitar o "burro na sombra" e curtir minha neta. Senti falta de voar nessa sombra do burro, até que o Offshore me fez uma proposta irrecusável:
"Voar 15 dias ,por mês, transportando funcionários da Petrobrás para plataformas de petróleo, por todo o Brasil e depois 15 dias em casa curtindo a família, com salário de mercado para atividade ."
Não tive dúvidas e abracei a atividade , me tornando um " Piloto Sério de Offshore" na atividade aérea comercial " cheia de regras e fiscalizações. Me adaptei cumprindo tudo que me exigiam até começar a perceber na atividade " comercial " quem manda é o " dinheiro " ! Assim sendo , regras e fiscalizações tomam um rumo apoiadas em interesses muito ... " políticos / financeiros ".
Comecei a não gostar do que tentavam me transformar..." motorista de helicóptero " de um voo chato e sem emoção ( muitas vezes carentes de compromisso com as reais necessidades do país).
A história política do Brasil não deixa dúvidas de como eu estava certo. Fui demitido em 2015 (ano politicamente complicado ). numa quinzena de Natal. Recebi todos meus direitos corretamente pagos . Dinheiro nunca foi prioridade pra mim ( desapegado ... voltei para a sobra fresca com meu burro ). Já atividade aérea comercial de offshore ( totalmente apegada), parece que se reorganizou , cresceu e hoje mantem a atividade petrolífera brasileira em alto padrão
Hoje ...a história mostra que muita coisa devia ser corrigida ... e , acredito que foi .
A mim restaram , além de experiência na atividade comercial, muitas boas lembranças e alguns amigos, assim como algumas más lembranças e muitos críticos.
A minha vida de Pirata Alado , sempre foi assim....militar , executiva ou comercial .
Voar foi feito para os pássaros...mas os humanos não se conformam com isso ...kkk
Vida longa para o Offshores !!!
Ass:
PIRATA ALADO
Hoje , 23 de agosto de 2024, dia que a
Aviação Naval do Brasil
comemora 108 anos.
Dizem por aí que a " Red Bull " te dá ASAS.
Eu nunca tomei Red Bull e acredito que teria que beber muito desse isotônico caro
para tentar sair do chão...e não posso afirmar que sairia voando.
No entanto sei que, estudando muito , sem eu ter gasto nenhum tostão, a
MARINHA do BRASIL
me deu a minha
ASA