quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Pirata......e a Terceira Ponte de Vitória

 

Amigos da pirataria alada....meu cordial Bom Dia.

Hoje , incorporado como VETERANO , pedi autorização ao Pirata Alado para transcrever aqui, matéria publicada pela respeitável Revista do Clube Naval, em sua ultima edição.

Mais uma vez me permito divulgar publicações de outros espaços literários, com o único intuito de enaltecer a nossa querida Marinha do Brasil. Desta maneira , desfrutem mais uma das aventuras vividas pelos Piratas do Bem que  povoam nosso dia a dia.

A Terceira Ponte salva vidas

Vitória sempre foi um dos portos mais visitados pela Esquadra nos anos 80. A localização geográfica de Vitoria do Espírito Santo , assim como Santos no Estado de São Paulo, tanto pela qualidade dos serviços portuários quanto pela proximidade da Base Naval do Rio de Janeiro, sede da Esquadra, ofereciam economia logística e facilidade de planejamento para os diversos exercícios de adestramento e preparo para nossas tripulações embarcadas. Numa dessas Operações realizadas pela Esquadra, havia o PAD / CIASA onde um navio era inspecionado em todas as suas atividades visando a sua prontidão operativa.

A Fragata Independência era ,em 1990 , um dos navios mais modernos construídos no Brasil .

Foi em junho que a Fragata Independência , cumprindo a FASE III de seu PAD /CIASA aportou em Vitória. A bordo da F44 estava um Lynx SAH 11 do Primeiro Esquadrão de Helicópteros de Esclarecimento e Ataque A/S (HA-1) . Eu era o chefe do DAE (destacamento aéreo embarcado) sendo acompanhado pelo jovem tenente do Esquadrão, CT Carneiro, que viria a ser o meu fiel Imediato 8 anos depois, quando assumi o Comando do Esquadrão. Atracamos em Vitória depois de intensos exercícios. Vitória sempre foi uma adorável cidade . Sua beleza e culinária típica, além da famosa  simpatia capixaba  sempre atraiu os marinheiros. Conosco , não foi diferente. No dia da partida, uma forte frente fria se apossou do céu, despejando uma tempestade com ventos muito violentos , diminuindo a visibilidade e tornando o mar um desafio para qualquer “lobo do mar”. A brava Independência deixou a “alcateia” para sua prova definitiva nessas condições.

Durante a navegação pelo canal portuário fui para convés de voo para observar as condições meteorológica , me preparando para os próximos, difíceis , voos que viriam naquelas condições. Ao cruzarmos o vão central  da Terceira Ponte, observei a boreste as instalações da Escola de Aprendizes de Marinheiros em Vila Velha e apreciei a grandeza  da obra civil da ponte projetada sob responsabilidade do escritório Figueiredo Ferraz Engenharia de Projetos S.A. Era uma obra de arte e pensei : “seria até perfeitamente seguro passar voando sob este vão central de 260 metros , de altura ,se fosse permitido “ .

Deixamos o canal e botamos a “cara a tapa com balanço” no mar aberto. Os exercícios internos a bordo começaram intensos. A Independência se portava como uma verdadeira” Nau Veterana” apesar da pouca idade. Já havíamos navegado cerca de 50 milhas náuticas, quando um alarme de postos de combate soou no fonoclama. Rapidamente corri para o passadiço para me inteirar da situação. “Seria apenas um exercício”, pensei. Não era!

Ao chegar ao passadiço fui informado pelo Comandante sobre a situação: ”encontramos um barco pesqueiro  naufragando. Tudo indica que há dois homens na água e um se segurando no mastro do barco afundado , vamos realizar o resgate dos homens com as lanchas do navio . Esteja preparado para transportar para terra se não tivermos condições de tratá-los a bordo “ .

Imediatamente determinei ao DAE a preparação do helicóptero para transporte de acidentado e fui me inteirar das condições para um voo para Vitoria. Não eram boas as condições de voo : chuva torrencial , visibilidade próxima de zero , ventos fortes e mar com intensa movimentação para uma decolagem segura. Além disso Aeroporto de Vitória (SBVT) estava fechado para operações VFR/IFR (instrumento). Consultei a Escola de Aprendizes em Vila Velha sobre a capacidade sanitária , que confirmou ter condições de atender emergências e caso fosse necessário, teriam uma ambulância para translado para hospitais mais capacitados. Só me restava aguardar o resgate dos náufragos e esperar a decisão do comandante do navio.

A faina de resgate foi complicada , o estado do mar dificultava todas as ações. Depois de muito esforço os três pescadores foram resgatados e trazidos para a enfermaria do navio. O médico de bordo providenciou todos os exames necessários e constatou que um deles estava em condições criticas e diagnosticou que não teria condições de garantir sua sobrevivência com os recursos a bordo. Pediu a remoção do náufrago que seria acompanhado por ele até um hospital. O comandante do navio analisou toda a situação e decidiu pelo translado de helicóptero para o aeroporto de Vitória que teria uma ambulância aguardando. Seria a decisão mais apropriada , caso SBVT não estivesse fechado para operações IFR (regras de voo por instrumentos).

A missão me foi passada e ponderei com o comandante : posso até pousar na “marra” em SBVT , no entanto isso vai gerar um “incidente aeronáutico” onde talvez eu tenha que perder tempo me explicando. Mesmo que tudo fique explicado (se não ocorrer nenhum imprevisto ) terei atrasado a operação do navio . Na minha opinião o desembarque do acidentado pode ser feito na Escola de Aprendizes , de médico para médico com todo apoio , sem interferência da burocracia aeronáutica civil , nesses casos .”

“ Imediato, faça contato com a Escola de Aprendizes em Vila Velha para se prepararem para receber o Lynx com um naufrago em emergência !” foi a rápida decisão do Comandante.

Decolamos , Carneiro e eu , com o médico do navio monitorando o náufrago deitado na maca. A visibilidade era quase nula quando deixamos o convoo pela intensidade da chuva. Decidi manter 100 pés vendo a espuma do mar bravio até atingir visual da areia da praia de Camboriú . Dali para Vila Velha “praiodrômico” seria fácil ( segundo o velha águia “Tio Ney “ que dizia : me dê uma praia e chegarei ao Alaska) . Não foi fácil , nem precisei chegar ao Alaska, mas precisava chegar a Vila Velha, e no caminho existia uma ponte de 300 metros de altura ( cerca de 1000 pés) que a mantinha invisível nas nuvens , em sua estrutura mais alta e altitude muito maior que me mantinha com visual do mar (e da praia). Quando atingimos as proximidades da Terceira Ponte, perguntei ao meu copila Carneiro : alguma restrição para cruzar a ponte por baixo?

“não”. Foi a seca, simples, rápida e confiante resposta do Carneiro.

Cruzei a ponte pelo vão central a 50 pés , com visual das colunas do vão central em baixa velocidade (cerca de 40 nós) e pousamos com toda segurança na Escola de Aprendizes, que nos aguardava com a ambulância pronta. Nosso médico transferiu as informações sobre o paciente para o colega em terra , que na ambulância ligou a sirene e partiram para um hospital.

Missão cumprida... “borracha no ar”.... caminho da roça (por baixo ponte) .... raios e trovões da tempestade , assim como Netuno , comemorando o sucesso da missão, ofereceram condições de pouso a bordo na IDEPENDENCIA bem mais tranquilas que na decolagem.

De volta ao isolamento do meu camarote a bordo  pensei:

“ A Terceira Ponte pode se orgulhar de ter salvado, pelo menos, uma vida “



Esse é o CARNEIRO →→→

(meu fiel escudeiro)

Isso é HA-1

Isso é Aviação Naval

Isso é MARINHA !







                                             e isso , é um bando de 

                                                PIRATAS DO BEM














4 comentários:

  1. Mais uma oportunidade para viajar no tempo meu querido amigo Zé pirata. BZ!

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    1. Grande Paulinho
      Bom saber que estou dando carona nas minhas viagens no tempo.
      Nesta Nau Pirata tem espaço pra quem quiser embarcar.
      Obrigado
      Forte abraço.

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  2. Show de bola, Comandante!
    Mais uma vez!
    E tenho muito orgulho de fazer parte da foto do bando de PIRATAS DO BEM!

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    1. Grande Pirata, escudeiro e principalmente AMIGO PLI.
      Essa galera toda é inesquecível pra mim.
      Para aqueles que não foram publicados (por falta de espaço ou por falta de fotos nos meus arquivos), .... fiquem tranquilos . Em algum momento se tornarão "personagens". Ser "PIRATA DO BEM ".....faz bem pra alma...e quase todos se orgulham ...mas, poucos admitem.
      Obrigado.
      Forte abraço

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Obrigado.👍👍
Pirata Alado