A Temporada iniciou
Amigos da Pirataria Alada...
meu cordial “Hola!”
A Temporada continua.
Definição de Panamá City na internet:
“ A Cidade do Panamá, capital do
Panamá, é uma cidade moderna cercada pelo Oceano Pacífico e pelo artificial
canal do Panamá. Casco Viejo, o seu centro histórico calcetado, é célebre por
pontos de referência da era colonial como o Palácio Presidencial neoclássico e
plazas preenchidas com buganvílias e repletas de cafés e bares. As Comportas de
Miraflores proporcionam vistas para os navios que atravessam o canal, uma rota
de navegação fundamental que faz a ligação entre o Atlântico e o Pacífico”.
Era o Comandante da Nau Trindade fundeada em Colón , pedindo
um apoio aéreo. Trocamos detalhes sobre o problema e acertamos a ida dos técnicos
para o dia seguinte. Eu teria que fazer , novamente, a complicada travessia da
cordilheira (sem sobrevoo proibido, do Canal).
Recepcionamos os 2 técnicos da MWM, na escada de desembarque
do avião proveniente do Brasil , e imediatamente embarcamos no Colibri, decolando
com destino de Colón. Foi uma travessia da cordilheira sem nenhum problema. Ao
sobrevoar a área de espera chamei o Trindade no rádio , anunciei minha chegada
e solicitei seu deslocamento para uma área isolada , visando evitar sobrevoo
das várias embarcações pequenas na área de espera de Colón. Me mantive em
órbita observando a movimentação e aguardando “luz verde” para pouso. Quando o
barco alcançou uma área isolada , ouvi no rádio:
“Colibri ... Trindade... rumo 350 ...5 nós...vento 025 BB
... 8 nós.... luz verde”
“Trindade ... Colibri.... na final”.
Ouvimos uma sirene. Era a lancha de Polícia Nacional Panamenha
que se aproximava , solicitando atracação a nosso contra bordo.
“buenos dias soy yo”. Respondi , já que o comandante do
Trindade estava na Praça de Máquinas com os técnicos da MWM.
O policial rascunhou um papel e me entregou dizendo :
“Los caballeros fueron multados por irregularidades en la
maniobra de aterrizaje a bordo. El plazo para pagar la multa es de una semana.
El yate solo podrá cruzar el Canal después de que se haya pagado la multa. Que
tenga un buen día”
... e se retirou me deixando mudo ... e pasmo. Nem ao menos
pude perguntar qual teria sido a irregularidade. Quando li o papel li o valor
da multa : “15 MIL Dólares Americanos”
Imediatamente liguei para o Pippo, meu agente. Contei o
ocorrido e depois de 30 minutos de conversa ele me disse que toda minha
documentação e autorização de pouso estavam corretas. Completou dizendo que
entraria imediatamente com um recurso na “ Autoridade do Canal do Panama “. Completou
dizendo:
“Regrese inmediatamente a Tocumen. Puede despegar. Yo
garantizo.”
Expliquei o ocorrido ao Comandante do Trindade e de comum acordo
decolei regressando a Tocumen , aproveitando o dia claro para travessia da Cordilheira.
No regresso a Tocumen , o Pippo me disse que teríamos uma
audiência na sede do “Autoridad del Canal de Panamá” no dia seguinte as 9
horas da manhã , pontualmente. Completou dizendo :
“Quédate tranquilo. Estamos en lo correcto. Nuestros
permisos fueron emitidos por ellos mismos.”
Depois das apresentações formais, expus todas as minhas
ações apoiado pela documentação , que o Pippo ao meu lado me fornecia , quando
ao final solicitei aos juízes :
“Considerando todos los hechos expuestos y la documentación
pertinente, solicito respetuosamente, la revocación de la infracción así como
la multa impuesta. Muchas gracias.”
A decisão veio rápida e respeitosa :
“Gracias por su explicación, sin embargo debo informarles
que la infracción no fue cometida por el Señor, sino por el Yate Trindade, el
cual viajó a un área prohibida sin autorización de la Policía Nacional en
Colón.
Si el comandante de Trindade hubiera aceptado contratar un
"despachador local" por valor de 200 dólares, ahora no tendría que
pagar 15.000 para cruzar el Canal.”
Eu estarrecido , escutei a decisão final :
“ Se mantiene la decisión final. Sin embargo, si el Capitán
quiere apelar, el Yate Trindade estará detenido por 30 días en Colón, para
investigación, y si la apelación no tiene éxito, los costos del proceso pueden
llegar hasta los US $ 100 MIL.”
... e o martelo foi batido ... e a audiência foi encerrada .
Os Juízes se levantaram nos cumprimentaram ... e se retiraram .Pippo e eu
ficamos com cara de bobos... ali parados ... mudos ... sem saber o que fazer.
Peguei o telefone , disquei e quem atendeu ouviu a minha
solicitação :
“ Chefe ... preciso que autorize a transferência de 15 mil
dólares para a Autoridade do Canal do Panama , em 2 dias , no máximo”
“ O QUÊ ???” foi a resposta que ouvi.
Expliquei sucintamente a situação. Recebi um “Ok” como
resposta e voltei para o Hotel. Na noite , fomos Junior e eu , acompanhados do Pippo “enchermos
a cara” no Bennigan’s. Era um 31 de maio e assistimos na Tv a França , campeã
do mundo em 1998 , quando ganhou do Brasil a final, perder do Senegal na
abertura da Copa de 2002. Os tempos haviam mudado.
Com a multa paga , o Trindade chegou a Marina Flamenco, enquanto o Colibri descansava em Tocumen sob os cuidados do Pippo. A equipe completa aguardava as ordens do patrão , e ela não demorou muito.
“ Preparem tudo para uma pescaria no arquipélago da Isla del
Rey , ao Sul . Chego amanhã e vou direto para o barco de Colibri. Quando chegarem
lá , aluguem uma lancha rápida “
Foi a ordem recebida via rádio HF. O Trindade se abasteceu e
partiu para Isla del Rey , 50 milhas sudeste da Marina. Eu aguardei e no dia
seguinte embarquei o patrão e convidados no Colibri “atopetado” de combustível
, para um voo de meia hora até o Barco.
No “briefing da caçada de peixes “ para o dia seguinte
fiquei sabendo que :
“O barco rápido de apoio alugado, deverá se posicionar na “Isla Galera” , cerca de 10 milhas sudeste
de “del Rey”, ao nascer do sol. O Colibri , com caçadores pousa na ilha deserta
com os caçadores, e lá aguarda até o
final do dia , quando então trará de volta a “caça e os caçadores”. O
cozinheiro do Trindade deve estar preparado para executar uma peixada, para o
jantar . Alguma dúvida ? “
Foram as ordens do patrão.
O calor estava grande
por volta do meio-dia e meu guaraná chegou ao fim. Não me conformava com a
quantidade de cocos longes do meu alcance. Pensei em várias formas de resolver
o “problema” executando um rápido PPM (processo de planejamento militar). Das várias LAs (Linhas de Ação) estudadas, as que previam “subir no coqueiro foram
reprovadas”. A Linha de Ação, vencedora foi : “pegar o coco usando o helicóptero”.
Recolhi rapidamente meu acampamento praiano , dei partida no Colibri , decolei , fiz um “pairado” sobre os coqueiros mais carregados e ... “ voilà”....o “downwash” do Colibri , balançou os coqueiros e fez “chover “ cocos verdes na praia. Problema resolvido ! Pousei satisfeito. Peguei uma chave “philips” no bagageiro. Catei os cocos maiores e mais bonitos e coloquei nas minhas piscininhas geladas. Voltei a minha leitura aguardando a natureza fazer a sua parte. No final da tarde vejo ao largo a lancha rápida se aproximando com os caçadores de peixes extenuados. Ajudei a colocar o produto da caçada em sacos plásticos grandes no bagageiro e ofereci água de coco gelada para o patrão e seus convidados. Todos olharam para os altos coqueiros quando o patrão perguntou :
“ você sabe subir em coqueiro?”
“claro “ respondi ...
e completei : ” no curso de aviador naval , aprendemos nas aulas e exercícios
de sobrevivência na selva , a técnica de “pecanha” ou alça, para subir em
coqueiros. Já estão gelando ali nas piscininhas “
Peguei um grande , apoiei na pedra e com outra pedra bati no
cabo da chave “Philips “ do helicóptero . Peguei canudos que trouxe do Trindade, para a latinha de
guaraná e servi primeiro a um dos convidados. Repeti a ação aos outros que,
mudos observavam a altura dos coqueiros com olhar de ... incredulidade. Decolamos
, retornando ao Trindade ,com muitos peixes caçados , e muitos cocos gelados no
bagageiro do Colibri. Foi um bom primeiro dia de Temporada Panamenha.
No dia seguinte , a excelente caçada de peixes do dia anterior , se repetiu. A estrutura de espera na Isla Galera foi aperfeiçoada . A refeição dos meus amigos “ermitões” foi providenciada com várias migalhas que espalhei sobre as conchas, me retirando em respeito a privacidade deles. Há distancia , sem me mover , me deleitei observando imóvel o “banquete” daqueles seres interessantes.
Ao entardecer retornamos ao Trindade fundeado. Depois do pouso, joguei uma água na estrutura do Colibri tirando o sal , acendi um cigarro, sozinho no convés admirando o pôr do sol deslumbrante , quando percebi uma lancha se aproximando em alta velocidade. Era um casco escuro.
Fixei o olhar e percebi 2 homens de pé na proa da embarcação portando grandes fuzis apontados na minha direção. Fiquei imóvel. Quando se aproximaram diminuíram a velocidade e começaram a rodear nossa embarcação sem baixar os fuzis apontados na minha direção . Não falaram nada. Não havia matrícula nem qualquer coisa que pudesse identificar aquela lancha tripulada por homens fortes , escuros , com capuzes cobrindo o rosto . Depois de 2 voltas em torno do Trindade , um deles se comunicou com alguém que comandava a lancha , baixaram as armas e arrancaram sem nada dizer. Relaxei, imaginei a minha perna bambear e joguei a bituca do meu cigarro (já apagado sem eu ter dado nenhum trago) no mar . Desci para a sala de jantar onde tripulação e caçadores de peixes , brindavam mais um dia de operação exitosa sem imaginar o que havia ocorrido na parte externa do barco. Preferi não contar nada porque estaríamos suspendendo com destino a Marina Flamenco encerrando aquela primeira etapa da , “feliz Temporada”. O Colibri permaneceu “spotado” no convés do Trindade atracado na Marina e se tornou atração turística.Contei a estranha aproximação ocorrida, para o Comodoro da Marina.
Ele me alertou que , depois do atentado terrorista de 11 de setembro no ano
anterior, o DEA (Drug Enforcement Administration) intensificou suas atividades
em águas próximas a região de Medelín na Colômbia. Provavelmente seriam eles ,
e quando identificaram o Trindade como embarcação legalmente registrada ,
abandonaram a abordagem .
O patrão retornaria ao Brasil em seu avião (um Falcon tri
reator) que estava estacionado em Tocumen no pátio executivo. Só trazia como única
bagagem, um “iglu” de plástico hermeticamente fechados com “silver tape’”
carregado com cerca de uns 20 kilos de Atum pescado por ele , conservados em
gelo . Eu o transportei de Colibri até o Aeroporto , onde fui o responsável de
fazer a burocracia aduaneira de embarque. Quando apresentei a “bagagem “ do
patrão para inspeção o policial me perguntou : “qué tienes ahí ?”.
“ pescado ! “
Respondi sem emoção. O policial , riu sarcasticamente e determinou : “Abrelo
“.
A partir daí começamos a discutir. Eu ponderei que estava
hermeticamente fechado e bastaria passar a caixa no raio X sem abri-la. Ele se empertigou
... e rispidamente determinou a abertura da caixa. O Pippo ao meu lado , com o
olhar me incentivou a abrir a caixa . Eu resolvi atendê-lo para não atrasar a
decolagem do patrão. Depois de constatar
que era PEIXE e passá-lo no raio X várias vezes , com cara decepcionada liberou
o Iglu cheio de gelo e “pescado”, para embarque.
“ ... pero que esto es pescado ... es pescado....algunos
pueden pagar por ello”. Respondi com sorriso sarcástico.
Deixei o Colibri em Tocumen hangarado para dar um ” trato no
costado”, sob responsabilidade do Pippo. Aluguei um carro e voltei para o
Trindade para assistir Brasil 4 X 0 China , na Copa. Tudo estava correndo a
contento na Temporada Panamenha.
Tinha missões a cumprir por ordem do Chefe : Explorar os arquipélagos de Coíba , no extremo oeste da
costa panamenha do Pacifico , Bocas del Toro e San Blas na costa panamenha no
mar do Caribe. Iniciei o planejamento.
” Buenos días señor . Veo que tienes buen gusto: tienes un
hermoso Corvette y lees un libro sobre "A-6 Intruder". Me llamo
Barreira. Soy piloto de helicóptero brasileño y necesito información local. ¿Me
puedes ayudar?.. Mucho gusto!”
O cara me olhou sem se mover , me “mediu” calado e respondeu em inglês :
“Sit down, pilot. I'm an American veteran of Vietnam, a Navy
helicopter pilot. What do you want? My name is Pirate....Sean Pirate....nice
to meet you”.
Estava nascendo uma nova parte da Temporada Panamenha ......
Mais um episódio sensacional!
ResponderExcluirFerraz e Luci
ExcluirVocês já podem ser considerados "seguidores" da "pirataria alada" do bem. Assim vou acabar fundando uma "Seita" ... do bem.
Mais uma vez obrigado pelo comentário.
Abraço e beijo (na Luci...com todo respeito)
Muito boas aventuras “Pirata Alado” afinal a vida vale pelo o que se vive e se faz, parabéns pelo relato de vida, mostra o quanto de aventuras somos capazes de ter, muito bom!
ResponderExcluirQue Deus continue iluminando a sua estrada e lhe dando esta jovialidade tão peculiar aos Pilotos do Ar, bravo!
Forte abraço 🤗 GALVÃO em RJ - 01/12/2021🇧🇷
Grande Maciel
Excluir"Ele" ilumina a todos nós sempre... (e cá entre nós , espero que nunca acabe a pilha).
Muito obrigado pelo seu carinho.
Grande abraço
Caro amigo Barreira e grande companheiro dos tempos de GFRHF, na Aerospatiale em Marignane, França e da equipe de volley de Marignane, amizade que se prolonga até hoje, como na semana passada quando tomamos um café com pão de queijo do Rio Design Barra, com o nosso também amigo de Aerospatiale, o Joel. Outra bela e instigante narrativa, parte II Panamá. Aguardando ansiosamente a parte III. Grande abraco
ResponderExcluirAthayde
Amigo "pirataço" e companheiro de piratarias aéreas francesas Athayde.
ExcluirBom tê-lo neste espaço literário de "fino trato". Nosso café ainda não acabou...só está adiado. Avisa aquele pirata de "farda azul" pra sair do armário e admitir que nas veias dele corre "sangue salgado pelo mar".
Pode subir a prancha que mando o contramestre abrir toque .
Seja bem vindo meu amigo
" Merci beaucoup, à bientôt"
Grande Barreira,
ResponderExcluirParabéns. Excelente narrativa sobre a trilogia composta por homem, máquina e amor pela profissão.
Forte abraço e saudações marinheiras
Maurillo
Meu caro pirata colega técnico Almirante e principalmente AMIGO Maurillo.
ExcluirÉ uma honra e um grade prazer tê-lo a bordo. Acredito que nossos pais (piratas alados, amigos de FAB ) de farda azul, seja lá de onde estejam , devem estar se divertindo com essas nossas histórias.
Bom falar contigo.
Obrigado
Forte abraço
complementando com muita diversão, é claro kkkkk
ResponderExcluircomplementando...sem diversão...a vida não tem graça kkkk
ExcluirEstá se tornando um vício. Quando chegamos ao final já estamos ávidos para saber o desfecho. BZ
ResponderExcluirPaulinho Presidente ... O final está chegando ....vide a parte 3. abraço
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