sábado, 28 de junho de 2025

VETERANO..... e o “Non ducor, duco”




Amigos da Pirataria Alada , meu cordial 

Olá... Uuurra Meu !

 ( popular cumprimento típico de paulistanos) 




Durante esta semana andei passando por emoções diversas . Passei o domingo (22 de junho) comemorando , mais um, aniversário 'meditativamente" solitário (por diversas razões) sob o , delicioso calor invernal proporcionado pelo nosso astro rei , na minha praia predileta da baixada santista , a do Embaré em Santos. Já me acostumei a comemorar  minha data natalina longe de familiares , devidos a vários compromissos profissionais, na atividade aérea (militar, executivo e comercial ) como é comum.


 


A Sereia , estava desfrutando à convivência de sua família em Campos do Jordão (lotada de turistas) como é normal nesta época do ano em meio ao um feriadão religioso (Corpos Christi ). 

Sentindo a brisa marinha , observando a linha do horizonte observando as gaivotas bailando no ar  demonstrando toda liberdade que o voo proporciona , meditava sobre o privilégio de ter tido a sorte de ter me tornado um Aviador da Marinha, quando meu celular tocou. Era uma mensagem da Revista Força Aérea digital , dando conta de uma doação, feita pela família do , falecido ,Comandante Rolim  Amaro (ex proprietário da TAM ), para o futuro Museu Aeronáutico Paulista , a ser inaugurado em São Paulo , localizado no popular Campo de Marte, naquela capital. 



Me senti feliz , afinal era o dia do meu aniversário e recebo a noticia de que haverá um Museu dedicado a Aviação , no mesmo local onde nasci à exatos 71 anos. Sorri internamente pensando se haveria , no futuro uma homenagem a este "humilde Pirata Alado paulista " (isso é uma raridade kkkk).

Meu pensamento viajou com as gaivotas : Homenagem ao Pirata seria demais mas, à Aviação Naval ... seria justo , porque afinal a Marinha foi a precursora da Aviação Militar no Brasil , além do Estado dispor do maior porto da América Latina que merece "defesa" por parte da Marinha ...e suas aeronaves treinadas e especializadas ... no mar. Uma das doações da família Amaro é justamente um F4U Cosair (Corsário ou Pirata , em inglês ) da Marinha Americana , que na Segunda Guerra Mundial fez história defendendo os Aliados . Aí me perguntei :- Por que não um exemplar semelhante da Marinha do Brasil que tenha operado a bordo do maior Porta Aviões dos Hemisfério Sul , que carregava uma homenagem ao Estado Paulista , pintada no seu costado NAe SÃO PAULO - A12 ?

Já sei o que muitos vão dizer : - ...mas o NAe São Paulo operou por pouco tempo e deu muitos problemas. Não tenho como discordar ! No entanto fez parte da nossa história e depois de tantas discussões , finalmente teve um fim "meritório ". Hoje " jaz " nas profundezas abissais em aguas internacionais dando abrigo a seres marinhos , já que os interesses políticos ,econômicos e pseudos-ecológicos , patrocinados por políticos de caráter questionável que andaram conduzindo o país , se abstiveram de torná-lo uma atração turista como em vários portos pelo mundo , tais como San Diego - USA , com seu Museu SS Midway .

Meu pensamento , voltou e pousou na minha praia . Olhei em volta e reparei as pessoas desfrutando a deliciosa praia ensolarada com poucos turistas paulistanos , cujas crianças se impressionavam com os enormes Navios Cargueiros  que desfilavam próximos a praia no seu vai e vem de entrada e saída do canal portuário . Imagino se essas crianças tivessem a disposição um verdadeiro Porta Aviões e suas aeronaves , além de uma profissional estrutura turística , dedicada a eles ( as crianças ). Poderiam se referir a Santos , não como a " cidade  dos prédios tortos " e passassem a querer visitar a cidade para caminhar por dentro do " Museu NAe São Paulo

 " e seus A4 Skyhawks  , SH3 Sea Kings , Super Pumas , Esquilos , Bells , WASP  e a até o mais Pirata Naval de todos .... os LYNX. Poderiam  descobrir que o melhor jogador do Santos , não foi o Neymar e sim um tal de Pelé ( que também tem um museu) . Até o café , tem museu aqui .

O sol começou a se aproximar do horizonte marítimo , proporcionando um espetáculo de cores impossível de ser visualizado em áreas turísticas serranas . Meu dia natalino estava se encerrando de forma deslumbrante e uma frase me veio a mente :

 "non ducor, duco"

na internet definida como : 

A frase em latim "non ducor, duco", que significa "não sou conduzido, conduzo", é o lema da cidade de São Paulo. Essa frase, presente no brasão da cidade, reflete o papel de liderança e protagonismo da capital paulista. 

... e era o Lema do A12- NAe SÃO PAULO...

A Sereia retornou de Campos do Jordão , e ganhei um saquinho de bolinhas de chocolate com recheio de café .... foi mais um aniversário para ser lembrado !

Forte abraço a todos queridos leitores da Pirataria Alada (cada vez mais .... VETERANA)

domingo, 8 de junho de 2025

Veterano ... e o país Brasil

 


Amigos da Pirataria Alada...

meu cordial...Olá 

Hoje , num domingo com pouco sol , este Veterano Pirata acordou disposto a desfrutar um dia televisivo "esportivamente " agradável.



Como o esporte em alta no nosso Brasil , é o Tênis ...em função da nova "joia esportista brazuca " ( o João Fonseca ) , resolvi assistir a final de Roland Garros . Liguei a tv e comecei a ver o jogo. Como a "aula de tênis " entre o italiano Sinner (01 no ranking ) e a joia espanhola Alcaraz (02 no ranking) estava se estendendo  resolvi , observar  (da minha janela) a "Parada Naval " anunciada pela Prefeitura da Cidade , (patrocinada pela Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos ) em comemoração ao "Dia da Marinha" (11de junho , data da Batalha Naval de Riachuelo, heroicamente vencida pela Esquadra Brasileira . 
Meio "confuso" , com o que vi , saí para comer os meu bolinho de bacalhau no boteco da esquina ( habito de Veterano Pirata aos domingos ), O jogo de tênis continuava na tv do boteco . Pude acompanhar o início da virada do "espanhol " sobre o "italiano ".
Na volta pra casa terminei de maratonar o tênis e ver o fim da "aula" e a garra dos dois naquela "batalha moderna " vencida pelo espanhol Alcaraz.

Cansado de ver tênis mudei de canal para ver outra "batalha " esportiva , desta feita sobre a agua. O Sail GP , etapa de New York sobre as aguas do Rio Hudson, Aí teria Brasil , batalhando contra vários países desenvolvidos. Comecei a vibrar , quando o barco brasileiro , o "MUBADALA BRASIL" , ganhou a primeira regata. Na segunda ficou em quinto lugar , se classificando para a final desclassificando a Espanha.
Infelizmente , os organizadores (poderosos ) resolveram fazer mais uma regata "classificatória" e o barco espanhol  acabou desclassificando o barco brasileiro , da final e acabou vencendo a etapa.
No final do dia esportivo "televisado" a Espanha acabou perdendo para Portugal a final da Copa de Futebol Europeia , para Portugal ! (menos mal , porque  se ela ganha eu ia acabar me achando "vingado" pela Espanha quando ainda como Lince Líder ativo afundei (teoricamente) o Príncipe de Astúrias (moderno Porta Aviões espanhol ) no exercício operativo da OTAN ,  a TAPON 98..nos bons tempos ativos de 1998. ( me senti aliviado ),

A noite chegou ... e uma "musiquinha chiclete" assaltou o meu pensamento : " Que país é esse ? " do grupo " Legião Urbana" em 1987  (um ano politicamente movimentado no Brasil e que eu vivia com a família na França , a serviço do Brasil podendo conhecer o respeito que existia na Europa sobre o "Poder Militar (e econômico) do Brasil " , naquela época.
Resolvi pesquisar na Internet : 


Situação Política no Brasil;

Diretas Já foi um movimento político de cunho popular que teve como objetivo a retomada das eleições diretas ao cargo de presidente da República no Brasil, durante a ditadura militar brasileira. A possibilidade de eleições diretas para a Presidência da República no Brasil durante o regime ditatorial, se concretizou com a votação da proposta de Emenda Constitucional Dante de Oliveira pelo Congresso. No entanto, a proposta foi rejeitada, frustrando a sociedade brasileira. Ainda assim, os adeptos do movimento conquistaram uma vitória parcial em janeiro do ano seguinte  quando Tancredo Neves foi eleito presidente pelo Colégio Eleitoral.[

Diretas Já

Manifestação por eleições diretas no plenário da Câmara dos Deputados do Brasil.


Localização : Maiores cidades do Brasil

Participantes :

Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Leonel Brizola, Miguel Arraes, André Franco Montoro, Dante de Oliveira, Mário Covas, Gérson Camata, Iris Rezende, Orestes Quércia, Luiz Inácio Lula da Silva, Eduardo Suplicy, Roberto Freire, Fernando Henrique Cardoso, Ricardo Tripoli e muitos outros.

Resultado :

• Eleição indireta de Tancredo Neves e aprovação de uma Assembleia Constituinte.

• Fim oficial do período da Ditadura Militar no Brasil.

• Início de uma nova fase de democracia para todo o Brasil.

• Criação da constituição brasileira de 1988, considerada a mais livre, justa e democrática da história do país.

 

Legião Urbana 1987

 A Legião Urbana foi uma banda brasileira de rock formada em 1982, em Brasília, por Renato Russo (vocais) e Marcelo Bonfá (bateria), que contou com Dado Villa-Lobos (guitarra) e Renato Rocha (baixo) em sua formação mais conhecida.[3]


Formação clássica da banda.

Da esquerda para a direita; Renato Rocha, Renato Russo, Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos



Que país é esse? 

favelas, no senado

Sujeira pra todo lado

Ninguém respeita a constituição

Mas todos acreditam no futuro da nação

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

No Amazonas, no Araguaia-ia-ia

Na Baixada Fluminense

Mato Grosso, Minas Gerais

E no nordeste tudo em paz

Na morte eu descanso

Mas o sangue anda solto

Manchando os papéis

Documentos fiéis

Ao descanso do patrão

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Terceiro mundo se for

Piada no exterior

Mas o Brasil vai ficar rico

Vamos faturar um milhão

Quando vendermos todas as alma

Dos nossos índios num leilão

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?

Que país é esse?



Depois de viver um domingo agradavelmente esportivo televisivo como VETERANO LINCE PIRATA,

Eu me pergunto :

- Por que a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos patrocinam uma "Parada Naval " comemorando o "Dia da Marinha " na data errada ( com 2 "pequenos "  Navios Patrulha... da Capitania dos Portos )  ?

- Por que a história  contada nas mídias, teimam em afirmar  que vivíamos num "regime autoritário ditatorial" nos anos 80. se o povo pedia "Diretas Já" ... e o voto não era "obrigatório" (como hoje) e havia eleições indiretas (como até hoje ocorre nas verdadeiras "DEMOCRACIAS LIBERAIS" ... tendo sido eleito um Presidente do partido de oposição (Tancredo Neves em 1985).?

- Por que uma banda roqueira , a Lenda Urbana criada em Brasília em 1982 (num regime autoritário) , não era censurada , "influenciando" sobre situações muito ruins sobre o país e que existem até hoje (em piores condições ) , onde censuram quem fala,? 

Assim sendo , finalmente me pergunto :

- QUE PAÍS É ESSE ?



Esquadra de um país respeitado no mundo inteiro nos anos 80


Um forte e agradecido abraço a todos pacientes leitores 

do VETERANO PIRATA ...  confuso !


segunda-feira, 2 de junho de 2025

VETERANO...e o " Caminhos do Tempo "



 Amigos da Pirataria Alada...

meu cordial ...

      Olá ... 

de Veterano (semi ativo)


Os " novos tempos " que vivemos me incentivaram a meditar sobre um texto do meu " xará" José Luiz Ricchetti (Engenheiro, Empresário e Escritor), que" copio abaixo...


*CAMINHOS DO TEMPO*

Há um silêncio que chega com os anos , e ele não é feito apenas da ausência de ruídos, mas da transição suave entre o que éramos e o que nos tornamos. Aos 65 , você começa a sentir a sutileza do distanciamento . 

A sala que antes pulsava com suas ideias agora parece cheia de vozes que não pedem mais sua opinião . Não é uma rejeição, é o ritmo da vida. É quando aprendemos que nossa contribuição não está no presente imediato, mas nos rastros que deixamos nos corações e mentes ao longo do caminho. 

Aos 70 , você percebe que o mundo corporativo, outrora tão vital, é um fluxo incessante. Ele segue, indiferente ao que você fez ou deixou de fazer. Não é uma derrota, é a libertação. Esse é o momento de olhar para si mesmo, despir-se do ego e vestir a serenidade. Não se trata mais de provar, mas de ensinar, de compartilhar, de ser mentor. A verdadeira realização não é a que se exibe, mas a que inspira.

Aos 75 , a sociedade parece lhe esquecer , mas será mesmo? 

Talvez seja apenas um convite para reavaliar o que realmente importa . Os jovens não o reconhecerão pelo que você foi, e isso é uma bênção disfarçada: você pode agora ser apenas quem você é. Sem máscaras, sem títulos, apenas a essência. 

Os velhos amigos, aqueles que não perguntam “quem você era”, mas “como você está”, tornam-se joias preciosas, diamantes que brilham no crepúsculo da vida.

E então, aos 80 ou 90, é a família que, na sua correria, se afasta um pouco mais.

Mas é aí que a sabedoria nos abraça com força . Entendemos que amor não é posse; é liberdade. 

Seus  filhos, seus netos, seguem suas vidas , como você seguiu a sua. A distância física não diminui o afeto, mas ensina que o amor verdadeiro é generoso, não exigente .

Quando a Terra finalmente chamar por você , não há motivo para medo. É a última dança de um ciclo natural, o encerramento de um capítulo escrito com suor, lágrimas, risos e memórias . 

Mas o que fica, o que realmente nunca será eliminado, *são as marcas que deixamos nas almas que tocamos. 

Portanto, enquanto há fôlego , energia, enquanto o coração bate firme, viva intensamente .

Abrace os encontros, ria alto, desfrute os prazeres simples e complexos da vida. Cultive suas amizades como quem cuida de um jardim . Porque, no final, o que resta não são as conquistas, nem os títulos, nem os aplausos. O que resta são os laços, os momentos partilhados, a luz que espalhamos.

Seja luz, seja presença, e você será eterno .

Dedico a todos que entendem que o tempo não apaga, mas apenas transforma...


 Texto de


 JOSÉ LUIZ RICCHETTI

 (Engenheiro, Empresário e Escritor)

(XARÁ do Pirata Alado)




Dito isso, tendo compartilhado este texto por WhatsApp com alguns familiares e amigos, há alguns dias , resolvi meditar sobre ...

O "XARÁ" está certíssimo. O Dr EUMI (meu terapeuta) ficou com inveja.

Agora, me aproximando de mais um degrau dos 70 , resolvi ... me adaptar a "transformação do tempo ",


Hoje , amanheceu um dia ensolarado de outono na minha querida Baixada Santista , um tanto quanto , "tumultuada " com a avenida da praia fechada para um evento de bicicletas , Isso não me animou a me dirigir a praia. Me lembrei do Guarujá (há muito não atravessava o canal que nos separa ). Então, enlacei a Sereia (veterana como eu) e a convidei para degustar um peixe a Belle Manier no "Fragoso" (restaurante dos bons tempos).

Descapotei o "careca azul calcinha" e partimos rumo ao Guarujá. Para minha surpresa , tanto a travessia da balsa foi tranquila sem espera , assim como , transito e praias sem nenhum movimento. 

Chegamos ao Fragoso e paramos o "careca" sob as sombras de uma árvore em frente aos restaurantes da praia da Enseda (sem precisar pagar estacionamento. No Fragoso vazio , me surpreendi com uma mudança , Não estavam servindo o prato de filé de peixe Belle Manier. Hoje seria um "festival de frutos do mar". Fiquei triste e a Sereia viu num restaurante ao lado uma Pizzaria e Restaurante , com mesas na calçada , muito arrumadas com cardápios sobre as mesas , com um atento garçom nos observando.  Ao consultar o cardápio, reparei num dos pratos oferecidos : " Meca santista Manier ". O garçom educadamente se aproximou perguntando se podia ajudar . Agradeci e perguntei sobre o Meca Manier, Ele me respondeu :

- Esse é o prato tradicional da Baixada e está em promoção para 2 pessoas . Bem servido.

Fiquei feliz e a Sereia perguntou se além da Meca , acompanhava camarões . O simpático e educado Igor (garçom) , confirmou e nos sentamos a mesa com vista para a linda praia da Enseada. Fizemos o pedido e os "Caminhos do Tempo " do meu xará me veio a mente.

Me lembrei que há 10 anos foi , salvo engano , a ultima vez que fiz este programa de passeio gastronômico em Guarujá. Ou seja , no período que eu ainda era "ativo" . Naquela época no perfil de "piloto sério de Offshore".  De acordo com o texto do Xará, aos 65 a gente começa a sentir a "sutileza do distanciamento ". Foi exatamente o que senti neste período e busquei aproximação de familiares e amigos. 

Hoje confesso que foi uma atitude egoística por me sentir culpado pelo afastamento. Não funcionou. Passei a me meter na vida daqueles que mais importam pra mim . Companheiras de vida , filhos e neta.

Hoje , desfrutando da minha Meca Manier observando a praia , acompanhada de uma "loira gelada " ORIGINAL (sem glamour comercial ) e preste a subir mais um degrau da faixa dos 70 , me lembrei de outro trecho do texto do Xará :   

"Aos 70 , você percebe que o mundo corporativo, outrora tão vital, é um fluxo incessante. Ele segue, indiferente ao que você fez ou deixou de fazer. Não é uma derrota, é a libertação. Esse é o momento de olhar para si mesmo, despir-se do ego e vestir a serenidade. Não se trata mais de provar, mas de ensinar, de compartilhar, de ser mentor. A verdadeira realização não é a que se exibe, mas a que inspira ".

Mais uma vez "BINGO"... para o Xará.

É exatamente isso que senti hoje . Realização não é aquilo que tento "exibir"... é aquilo que me inspira (como hoje) ... viver de forma simples ...fazendo algo simples...num lugar simples...acompanhado simplesmente da mulher que esteve ao meu lado nos últimos anos 25 anos suportando as minhas "variações" de humor (social e profissional ).

Divagando em pensamento , tomei um gole profundo da ORIGINAL , quando reparei no nome do restaurante ; " Boa Vida Pizzaria e Restaurante " , enquanto o Igor garçom trazia um limão cortado para acrescentar na deliciosa Meca . "Nada por Acaso", diz o livro do de Richard Bach  (aviador naval e escritor autor de Fernão Capelo Gaivota) de quem sou , também , admirador.

Bati um papo com o Igor, suficiente para saber que tinha 30 anos com pensamento profissional e vontade de progredir na profissão galgando outros patamares. Escutou atento algumas experiências do relacionamento "patrão X empregado " que vivi , no meu tempo de atividade comercial (como patrão ... e como empregado). Ele agradeceu e se retirou , atendendo outros clientes.

Me senti bem por estar exercendo o meu papel de  "ensinar, compartilhar e ser mentor ", como diz o meu XARÁ no paragrafo relativo aos setentões.

Aos 75 , a sociedade parece lhe esquecer , mas será mesmo? 

Não sei . Ainda não cheguei lá ! ... mas acredito no XARÁ .

Talvez seja apenas um convite para reavaliar o que realmente importa . Os jovens não o reconhecerão pelo que você foi, e isso é uma bênção disfarçada: você pode agora ser apenas quem você é. Sem máscaras, sem títulos, apenas a essência. 

Os velhos amigos, aqueles que não perguntam “quem você era”, mas “como você está”, tornam-se joias preciosas, diamantes que brilham no crepúsculo da vida.

Acho que posso ir me preparando para os 75 . Chamei o Igor , pedi um café e a  conta. Paguei um preço honesto com gorjeta incluída , elogiei o delicioso prato e o atendimento , prometendo me tornar cliente fiel (fora de altas temporadas ) e regressamos descapotados para Santos (Sereia e Pirata Veteranos e felizes ).

Chegamos em casa a tempo de ver na TV  os minutos finais de Santos X Botafogo , onde o Neymar foi expulso depois de fazer um gol com a mão ! ( ele deve ter esquecido que hoje existe VAR ). 

Quem nasce para ser Maradona ... nunca vai ser Pelé (nem na Vila Belmiro) .

Ao chegar em casa , a Sereia me presenteou com um delicioso "pudim de leite condensado " ,  produzido por ela mesma , na noite anterior ... e foi encontrar com amigas .

Eu , degustando o pudim , fiquei observando a beleza da nossa pequena cozinha  , que eu havia pintado com tinta epóxi ontem , sábado em Santos com praias cheias e tumultuadas por aqui.  

Ficamos felizes com o resultado de nossos "trabalhos de veteranos".

O fato do XARÁ RICCHETTI  ser Engenheiro, Empresário e Escritor setentão (além de paulista ) , não nos aproximou por essas coincidências (Nada por Acaso explica). A minha admiração à ele é por uma perfeita identidade de filosofia de vida. Sem conhecê-lo pessoalmente , já me sinto um amigo. 

Acredito que não precisarei chegar até os 80/90 para constatar a filosofia do XARÁ. Eu acredito nele ... agora.

Hoje as palavras dele já me fazem sentido :

Mas é aí que a sabedoria nos abraça com força . Entendemos que amor não é posse; é liberdade.

Liberdade é a "palavra magica" que me move . 

Assim sendo :

Dedico a todos que entendem que o tempo não apaga, mas apenas transforma...


Aos meus amigos ... um Fraterno Abraço 

do Veterano Pirata Alado.





terça-feira, 15 de abril de 2025

Veterano....e o Bell 206




Amigos da Pirataria Alada ... meu cordial Bom-dia

Hoje, incorporando o VETERANO, de tantas recordações, triste com o recente acidente aéreo em New York, resolvi contar o meu relacionamento com o " belzinho piaba " como nós Aviadores Navais. carinhosamente, conhecemos o Bell 206.


O site da FAB ( Força Aérea Brasileira) , publica este texto sobre o Bell 206A

O BELL 206A é um helicóptero leve, com capacidade para três tripulantes e dois passageiros, destinado a missões emprego geral e transporte presidencial. Voou pela primeira vez em 1966 e figura entre os helicópteros de maior sucesso de todos os tempos.

A Força Aérea Brasileira utilizou 17 helicópteros “Jet Ranger” em missões de emprego geral e transporte de autoridades, de 1969 a 1992. O exemplar em exposição (matrícula FAB 8571) serviu à Presidência da República de 1969 a 1992, quando foi desativado e enviado para a Escola de Especialistas da Aeronáutica, como recurso para a instrução, sendo transferido para o Museu Aeroespacial em junho de 2000.


A minha particular história com essa maravilhosa aeronave começou em 1966 quando a aeronave fez um " tour " de demonstração pela América do Sul comandado por um piloto americano do fabricante.

Uma dessas demonstrações ocorreu no Campo de Marte em São Paulo, quando meu pai ( oficial da FAB) era um dos convidados pelo piloto americano à alguns oficiais para desfrutarem de um voo sobre São Paulo.

Eu , garoto de uns 11 anos que vivia por lá (desfrutando a convivência  com aquelas maquinas voadoras ) quando meu pai  perguntou se eu podia acompanhá-lo neste voo " turístico" . O piloto americano autorizou de bom grado.

Decolamos do Campo de Marte no sentido da pista 30 e fizemos um circuito pela direita sobrevoando o bairro de Santana ( onde eu morava) . Quando sobrevoamos a minha casa , me emocionei olhando pra baixo . O piloto gringo percebeu minha emoção e disse no seu “portunhol” típico de vendedor gringo :

- Eih boy ! mostra onde sua casa !

Eu apontei enquanto ele baixava a altitude e velocidade dando um sobrevoo ( quase pairado ) sobre a minha casa. Percebi , minha mãe saindo ao terraço de casa abanando para o helicóptero a baixa altitude. Ela não sabia que eu estava a bordo acenando de volta.

No regresso para pouso no campo de Marte eu pensava calado ,internamente : - É isso que quero fazer na vida !

Já pousados , com o Bellzinho com rotor parado , desembarcamos e o piloto gringo desceu e me chamou .

-Eih boy ...gostou ? ustê ser primeira criança a voar um Bell 206 no mundo . Congratulations !

Meu EGO infantil transbordou confirmando aquilo que havia pensado calado em voo.

O tempo passou rápido. Em 1969 , quando a FAB começou a operar o 206 e com minha decisão tomada no alto dos meus 15 anos , comuniquei ao meu pai minha decisão .

- Vou prestar concurso para EPCAR (Escola de Preparação de Cadetes do Ar ). Disse ao meu pai.

- Você vai ser o que quiser , menos piloto da FAB. – disse meu pai autoritariamente .

Não entendi nada, mas não questionei. Sabia que meu pai “oficial especialista não aviador “ deveria ter seus motivos . Sabia que ele tinha grande admiração pela Marinha , adquirida durante as patrulhas anti submarinas que ele realizavam a bordo dos Catalina da FAB observando os Navios da Marinha do Brasil atacando os Submarinos Alemães , por vezes com sucesso.


Sem saber as razões da decisão dele , mudei a minha : - Então vou prestar concurso para o Colégio Naval !

Ele ficou feliz e eu triste porque nunca tinha entrado num navio e não sabia que a Marinha tinha uma Aviação Naval ( com helicópteros ).


Foram 6 anos de estudos (Colégio e Escola Naval). Já formado passei 2 anos a bordo de Navio Patrulha Fluvial ( o Roraima no caso) optei pela especialização de Aviador Naval . Era um concurso médico , físico e psicotécnico de poucas vagas . Por sorte fui selecionado, e fui para São Pedro da Aldeia. Foi a primeira realização em 1979 quando me deparei no HI-1 ( Primeiro Esquadrão de Helicópteros de Instrução ) com qual era a “ferramenta “ de instrução , o Bell Jet Ranger 206 !


Ao iniciar a parte prática do curso , o voo efetivamente , depois da longa parte teórica no CIAAN (Centro de Instrução e Adestramento Aero Naval ) que envolveu várias matérias afins como aerodinâmica, aerotécnica, meteorologia , navegação aérea , tráfego aéreo visual e instrumento , além de exercícios reais de combate a incêndio , e sobrevivências na selva e no mar . Visitas técnicas ao COMDABRA e CINDACTA , em Brasília e a CTA , ITA e EMBRAER em São Jose dos Campos. Ou seja, eu estava teoricamente pronto para aprender a pilotar o Bell 206, depois do “ground scool”, no HI-1.


Ao iniciar os voos do estágio ALPHA ( o primeiro pilotando ) tive a sorte de ter sido o primeiro aluno da turma a dominar o Bell 206 , dando confiança ao instrutor responsável a me perguntar :

 - Aluno você considera que está pronto para voar sozinho ?

- Claro ! Foi minha resposta imediata.

Ele desceu do helicóptero

- Então decola sozinho , faz um circuito completo e pousa exatamente aqui no quadrado da área de instrução . Disse o meu “pai de aviação “ Capitão Tenente ( AvN - Fuzileiro Naval ) Castanheira.

Eu acabava de me tornar um piloto qualificado em Bell 206 , de acordo com as exigências civis do, na época , DAC ( hoje ANAC ) , mas para a Marinha ainda , eu não era um Aviador Naval (teria que completar a parte operativa da Marinha que implicava pouso a bordo , voos a baixa atitude diurno e noturno , voos por instrumento , voos em altitudes pouso em áreas restritas ( com o Bell 206 ).


Por haver uma cerimônia em terra para o primeiro aluno a “solar “ a aeronave que consistia em um banho de óleo iniciado pelo Almirante Comandante da Força Aeronaval , conhecida como “batismo”, me preparei emotivamente . Comentei com os amigos de curso, que o “ Boy” que havia sido a primeira criança a ter voado um Bell 206 , agora seria o primeiro jovem da turma a se qualificar como piloto de Bell 206.


Foi o suficiente para que os meus “amigos” providenciassem um cartaz que deveria portar na cerimônia de batismo , pendurado pelo pescoço onde dizia “ BABY BELL “ ,além de estar vestido apenas com uma grande frauda . Assim fui “besuntado “ de óleo , orgulhosamente.

O estágio BRAVO ( operativo ) se iniciava , agora com todos os outros instrutores (não só com o meu “ pai de aviação “)

Entre outros voos operativos , um deles era o de “altitude “. Este voo exigiria ascender até 10 Mil pés , sobre a área de instrução da Marinha , próximo a Cabo Frio. Para tal tínhamos que ter autorização de controle de tráfego do Centro Brasília , por ser uma altitude controlada sendo utilizada por aeronaves voando IFR (instrumento). O dia estava claro sem nuvens e fomos autorizados a subir , mantendo a frequência daquele órgão. O meu instrutor na posição de 2P ( copiloto instrutor) mantinha a frequência do Esquadrão HI-1.

A subida de 1 Mil para 10 Mil pés no regime de subida padrão do Bell 206 (500 pés por minuto) levou pelo menos 18 minutos até atingir a altitude do exercício. Nessa altitude o comportamento de um helicóptero é completamente diferente em função do “Ar Rarefeito” que atua tanto na sustentação aerodinâmica , quanto na potência do único motor (turbina ) da confiável Allison que equipava o 206.

Neste momento o meu instrutor CT EWERTON ( AvN - Fuzileiro Naval) , recebe uma ordem pela frequência radio do Esquadrão HI  (setada só no radio do instrutor , enquanto eu mantinha contato com o Controle Brasília ,no meu radio ) de regressar ao Esquadrão por estarmos atrasados pela demora na subida , sugerindo que entrássemos em Auto Rotação ( manobra de descida em caso de perda de motor ) . Para tal deveríamos colocar o motor em” ralanti “( na manete de combustível “ponto morto” sem potência ).

Comuniquei minha intenção de executar esta manobra ao Centro Brasília que autorizou . Ao manobrar a manete de combustível para “ralanti “ .... Piii Piii Piii alarme vermelho no painel de ENG OUT . Havíamos apagado o motor ! Neste momento deixou de ser treinamento e passou a ser "emergência real ".

O Ewerton assumiu os comandos quando entramos em auto rotação a 10 mil pés .

Sem problema o Bell 206 desce nestas condições com facilidade de comandos , inclusive por ser bi pá de boa sustentação em condições normais (mas não com ar rarefeito naquela altitude ).

Recebi a ordem do meu instrutor no controle dos comandos na posição de 2P (copiloto) . Nessa posição não há no coletivo o botão de “start”, então caberia a mim (aluno) dar uma partida em voo , atividade para qual eu não havia sido preparado ainda .

Já estávamos a 8 mil pés quando executei a partida patrão (em terra ). Apertei o botão de start , quando atingiu a rotação de Ng (rotação da turbina de gás acionada pelo gerador abri a manete de combustível , observando a temperatura gerada dentro da câmara de combustão ( TOT ). Levei um susto , quando a temperatura de TOT , imediatamente atingiu o “limite máximo” do instrumento 1000 °C . Cortei imediatamente o combustível apagando novamente o motor . Havia dado uma partida “quente” (imperdoável, mas perdoável para um piloto em formação e ainda mais naquela altitude com ar rarefeito )

- PÔ ... você apagou de novo o motor ! - foram as palavras duras do meu instrutor ;

- Apaguei porque o TOT atingiu 1000 °C e se continuasse poderia explodir o motor em algum momento. – Foi a minha resposta .

- Vamos dar uma partida monitorada . – Foi a ordem seguinte do instrutor quando já havíamos atingido 5 MIL pés se aproximando da nossa Base Aérea em São Pedro da Aldeia .

Declaramos emergência para o controle “ Macega “ que já mantínhamos contato .

Cumprindo as ordens , apertei o botão de start , aguardamos o valor de Ng , quando o Ewerton foi abrindo a manete de combustível no coletivo de 2P “ monitorando a vazão de combustível , controlando a temperatura de TOT , dentro dos limites normais quando já atingíamos a altitude de tráfego aéreo de SBES (nossa Base ).

Observei em terra toda movimentação de segurança , bombeiros , ambulâncias e todos os hangares com tripulação preparadas para ajudar no que fosse solicitado .

Declaramos aproximação normal para a pista , por segurança com motor funcionando.

Pousamos sem problemas e cortamos o motor , já condenado a inspeção (pelo menos) pela “partida quente” , sem maiores danos .

Foi aberta uma investigação por “incidente aeronáutico “. Na conclusão , o maior “fator contribuinte “ , foi a tentativa de executar treinamento de auto rotação a 10 mil pés por condições de rarefação do ar nessas condições . Em função deste apagamento , a Bell fez constar no manual a proibição de executar esse treinamento nessas condições .

Eu como , recente batizado de “BABY BELL “ pelo Esquadrão HI-1, fiquei satisfeito de saber que havia protagonizado como um dos pilotos envolvido no primeiro apagamento de motor em voo de um Bell 206 ( pelo menos no Brasil) e pousado com segurança , contribuindo assim para que não ocorresse novamente .


Aprendi muito nessa aula com meu instrutor CT Ewerton ( AvN-FN ) , como manter a calma em situações difíceis e tomar decisões corretas preservando vidas (prioritariamente ) e de material público , quando possível.

Me formei Aviador Naval , depois de 1 ano de curso tendo voado o Bell 206 no HI-1 , e pedi para fazer parte do DAE FLOTAM (Destacamento Aéreo Embarcado da Flotilha do Amazonas ) criado naquele ano do recebimento da minha ASA de Aviador Naval pilotando o Bell 206 . Eu havia passado 2 anos navegando por “todos” os rios da região , portanto conhecendo todas as “características “ amazônicas . Não fui atendido . Como bem classificado no curso de formação , a Marinha resolveu me presentear com um prêmio me enviando para o recém-criado Esquadrão HA-1 (Primeiro Esquadrão de Esclarecimento e Ataque Anti Submarino ) . Fui o único recém-formado enviado para aquela Unidade .


O HA-1 , operava com aeronaves SAH-11 (WG 13) LYNX da Westland inglesa . Eram aeronaves moderníssima a época (praticamente protótipos só operados pela Royal Navy e pela Marinha do Brasil ) . Como todo bom protótipo sofisticado , este também apresentou vários problemas , principalmente em relação aos novíssimos motores GEM 2 ( projetados exclusivamente para o WG 13) . Esses motores apagavam em voo (sem aviso prévio) . A sorte é que nesta aeronave havia 2 motores , não sendo necessário adotar auto rotação imediata , mas era uma emergência porque a aeronave permanecia em voo com apenas 1 motor , mas não foi projetada para operar nestas condições.


Ao longo dos muitos anos que operei no HA-1, desfrutei de 4 apagamentos de motor em voo conseguindo pousar monomotor a bordo das Fragatas da Marinha (inclusive um noturno ) em segurança e sem nenhum dano (pessoal ou material ).

Eu havia deixado de ser o BABY BELL , para ser um LINCE ARPOADOR. .... esse foi o meu prêmio de formatura no HI-1 ( talvez porque eu havia participado do primeiro apagamento de motor em voo de um BELL 206, com pouso em segurança) .


O BELL 206 se tornou para mim um grande “ antigo amor mecânico" (o primeiro a gente nunca esquece ) e posso afirmar que sempre foi uma aeronave extremamente segura por tantos anos , estatisticamente .


A ocorrência recente em Nova York, em princípio , é absurda e inexplicável como pode ter ocorrido envolvendo esta aeronave , mas como nada na aviação é “inexplicável “ tenho convicção que após as investigações técnicas forem concluídas, os fatores contribuintes serão divulgados , sejam técnicos ou humanos , como já disse um conhecido Aviador / escritor Richard Bach : “ Nada por Acaso “.

Minha profunda condolência aos familiares desta tragédia nova-iorquina , envolvendo o meu primeiro amor mecânico o Bell Jet Ranger 206 .

Meu particular agradecimento ao CMG ( AvN-FN) Ewerton pelo ensinamento e tranquilidade em uma emergência real que acabou se traduzindo num final feliz.

 Fraterno abraço a todos leitores  , do Veterano Pirata Aldo.


quinta-feira, 3 de abril de 2025

Pirata... e o " Windhuk "

 



Amigos da Pirataria Alada meu cordial Olá 

Passada a fase da série familiar " Vovô e Netinha" (agora uma moça debutada), voltemos a " pirataria" de fato. Assim sendo resolvi piratear uma estória do livro que ganhei de Natal da minha Filhota ( agora em nova fase profissional , menos Global).



"HITÓRIAS 

DO MAR" 

200 casos verídicos 

escrito por Jorge de Souza.



Estou pirateando esta estória porque além de interessante envolve o porto de Santos e explica muita coisa sobre a influência da migração estrangeira que influência até hoje a cultura do Paulista.

Portanto curta esta estória do Jorge de Souza :


O porto de Hamburgo estava particularmente agitado na manhã de 21 de julho de 1939. Entusiasmados com a boa performance da economia alemá, depois da crise desencadeada com o fim da Primeira Guerra, e embalados pelo forte sentimento nacionalista que tomava conta do país nos dias que antecederam o início de um novo conflito mundial, mais de uma centena de passageiros preparava-se para embarcar em um longo cruzeiro de ida e volta à África, a bordo de um dos melhores transatlânticos alemães da época: o Windhuk ("canto do vento", em alemão). O navio era tão luxuoso que tinha uma tripulação quase duas vezes maior que o número de passageiros: 250 tripulantes, quase todos tão alemães quanto o próprio comandante, Wilhelm Brauer.

A viagem estava prevista para durar 60 dias, com escalas em diversos países da Europa antes de descer até Moçambique, de onde o navio regressaria ao mesmo porto da Alemanha. Mas o Windhuk jamais voltou embora nenhuma tragédia tenha acontecido naquela viagem. Ao contrário, ela teve um final feliz para todos os  tripulantes do navio, mesmo tendo o Windhuk ido parar do outro lado do Atlântico, no porto brasileiro de Santos, cinco meses depois.

 Quando em 1 de setembro de 1939. a Alemanha invadiu a Polônia dando início a Segunda Guerra Mundial. O Windhuk estava atracado no porto da Cidade do Cabo na África do Sul. com seus passageiros aproveitando as mordomias de bordo, que incluíam uma requintada gastronomia. Mas a ordem era clara: o Windhuk deveria sair imediatamente daquela então colônia inglesa e retornar à Alemanha. Avisados, quase todos passageiros  decidiram desembarcar ali mesmo, ficando a bordo apenas tripulantes , exceto иm deles, que havia saído para passar em terra seu dia de folga e não conseguiu voltar para o navio a tempo.


As 22 horas do mesmo dia, o navio saiu do porto as pressas e com pouco combustível, o que levou o comandante Brauer a optar por navegar só até cidade de Lobito, na costa da atual Angola, que nada tinha a ver com o conflito. Ali, ele  esperava abastecer o navio e seguir viagem para a Alemanha. Mas, no precário porto angolano, o Windhuk teve que esperar dois longos meses até conseguir pouco mais de combustível para poder voltar ao mar. Confinados no navio, os tripulantes do Windhuk, inocentes garçons, camareiros, engenheiros e marinheiro todos civis em nada envolvidos com a guerra, não faziam a menor ideia do que se passava na distante Europa. Tampouco o que o destino lhes reservaria dali diante. Só restava esperar e torcer para que o navio conseguisse, finalmente, partir.

Cinco deles não suportaram a angústia da espera e traçaram um plano para voltar para casa por conta própria, com um dos barcos salva-vidas do navio. Certa noite, colocaram o bote na água e partiram a remo. Dois meses e meio depois e após receberem a ajuda de um navio português que lhe forneceu mantimentos no meio do caminho, o grupo foi dar numa praia das distantes Ilhas Canárias, num feito e tanto. Já o comandante do Windhuk tinha outras preocupações além da fuga de tripulantes e da carência de suprimentos, inclusive comida para tanta gente a bordo, durante tanto tempo: ele não sabia como driblar os navios ingleses que já patrulhavam trechos da costa africana.

No início de novembro, depois de conseguir um pouco de combustível surgiu uma brecha na patrulha dos ingleses. O Windhuk, então, partiu mais escondido que da primeira vez, juntamente com outro navio alemão , o Adolf Woermann, que também aguardava uma chance de escapar do cerco dos ingleses aquartelado naquele porto angolano. A bordo, não havia comida suficiente para toda a tripulação na longa viagem que o Windhuk faria ( uma ironia num navio famoso justamente por sua gastronomia), nem tampouco era garantido que o combustível desse para chegar a Alemanha

Mesmo assim, o comandante Brauer mandou soltar as amarras, apagar todas as luzes do navio e ganhou o mar, seguido pelo Adolf Woermann, que, no entanto, não foi longe. Descoberto pelos ingleses, ele foi atacado e afundado logo após sair de Angola. Já o Windhuk seguiu em frente. Mas nem o seu comandante sabia exatamente para onde. Importante era escapar do cerco.

No afã de driblar os ingleses, o Windhuk navegou em linha reta Atlântico adentro, saindo da rota natural para a Europa e alongando a distância até a Alemanha um grande problema frente a questão do combustível. Seria, portanto, necessário parar em outro porto, para reabastecer. Mas, qual, se os ingleses patrulhavam praticamente toda a costa africana? Foi quando Brauer teve a ideia de seguir em frente, cruzar todo o oceano e buscar recursos em algum país sul-americano, todos ainda neutros na guerra.

A fim de evitar as rotas mais usadas pelos navios, o comandante do Windhuk decidiu navegar bem mais ao sul do que o habitual. E quase foi parar nas ilhas Malvinas. O acréscimo extra no percurso tornou o nível do combustível ainda mais crítico. Para economizar, o Windhuk passou a se arrastar no mar, a míseros seis nós de velocidade, quando tinha capacidade de navegar três vezes mais rápido do que isso, em velocidade de cruzeiro. Além disso, para escapar o mais rápido possível da crítica área da costa africana, ele chegou a navegar a 22 nós de velocidade, o que sugou sobre-maneira os seus tanques.

A bordo do Windhuk, a situação dos tripulantes era angustiante. Eles não tinham comida, nem destino fixo, tampouco sabiam se o combustível daria para chegar a algum porto seguro. Gastavam os dias vendo o mar passar, lentamente, sob o casco, sem saber para onde estavam indo. Nem o comandante Brauer arriscava um palpite mais certeiro sobre para qual porto seguir. Sem muita convicção, acabou optando por rumar para Baia Blanca, na costa da Argentina. Mas, para complicar ainda mais as coisas, foi informado dos ataques que o couraçado alemão Graf Spee vinha sofrendo na região e resolveu evitá-la. Foi quando o porto de Santos, na costa brasileira, surgiu como a melhor opção.

O Brasil ainda não havia entrado na guerra e, portanto, era seguro para um navio alemão. Ainda assim, Brauer tomou uma precaução: mandou camuflar o Windhuk com outro nome, outra bandeira e até outra cor no casco, que deixou de ser cinza e virou preto. A pintura, feita com latas de tinta que restavam no porão, aconteceu em pleno mar, durante a própria navegação e foi uma arriscada epopeia que durou vários dias. Os marinheiros ficavam dependurados sobre a água, com o navio em movimento. Quem caísse estaria perdido, porque o comandante avisara que não haveria como manobrar navio. Por sorte, ninguém caiu.

O novo nome e a nova "nacionalidade" do Windhuk foi escolhida ao acaso. Como havia alguns asiáticos trabalhando na lavanderia do navio, Brauer optou pelo nome de um navio japonês que costumava visitar o porto para o qual estavam indo, o Santos Maru, e mandou que os tripulantes orientais escrevessem num pedaço de papel, para ser copiado a confecção de uma bandeira, algo fácil no caso da japonesa, que se resume uma bola vermelha sobre fundo branco. E assim foi feito. Só que os tripulantes eram chineses, não japoneses, e o novo nome do Windhuk acabou escrita com caracteres errados.

Mas ninguém percebeu o erro. Nem mesmo os práticos do porto de Santos, que, ao verem o navio chegando, estranharam apenas o fato de o verdadeiro Santos Maru ter voltado tão rápido, já que havia partido dali dia antes. E, ainda por cima, voltou com duas chaminés em vez de apenas um A confusão foi esclarecida, entre risos e tapinhas nas costas, assim que o funcionários do porto subiram a bordo e deram de cara com uma tripulação de alemães de olhos azuis e não japoneses de olhos puxados. Como o Brasil ainda não tinha se posicionado na guerra, nada aconteceu com eles. Apena o navio ficou retido, como era praxe nos tempos de guerra. Era o dia 7 de dezembro de 1939 data que, até hoje, é comemorada pelos descendente daqueles mais de 200 alemães, que nunca mais quiseram sair do Brasil.

Para os 244 tripulantes do Windhuk, a nova e tranquila vida em Santos passou a ser uma espécie de recompensa pelas privações e temores que passaram durante aquela longa e tensa viagem. Eles ganharam a liberdade de fazer o que bem quisessem, desde que não saíssem do munícipio. Inclusive deixar o navio e ir morar na cidade. Alguns começaram a namorar garotas locais. Outros se casaram, como os tripulantes Hildegard e August Braak cuja cerimônia aconteceu no próprio navio e com a presença até do prefeito.

Para os moradores de Santos, aquele grupo de alemães boas-praças na tinha a ver com as notícias ruins que chegavam da Europa. E não tinham mesmo, porque não passavam de pacíficos marinheiros transformados vítimas indiretas da guerra. Eles ficaram na cidade por mais de dois anos, em total harmonia com os brasileiros.

A situação só começou a mudar em janeiro de 1942. quando, em resposta ao afundamento de navios brasileiros na costa do Nordeste, o Brasil decretou guerra aos países do Eixo. Imediatamente, todos os tripulantes do Windbuk foram presos, na mesma cidade onde já se sentiam em casa. Contribuiu também para isso o gesto patriótico de alguns deles, a começar pelo comandante Brauer, de sabotar o próprio navio no porto de Santos. Quando ficaram sabendo que o Windhuk seria confiscado e vendido aos americanos, então já em guerra contra a Alemanha, cles levaram sacos de areia, pedra e cimento para dentro do navio e atiraram dentro de seu maquinário, que ficou inutilizado, O objetivo era que o Windhuk não pudesse mais navegar e assim não saisse do Brasil. Mas não foi o que aconteceu.


Rebocado, o navio acabou sendo levado para os Estados Unidos, onde foi recuperado e convertido em navio de combate. Já o destino dos seus tripulantes foi ainda mais improvável. Depois de passarem uma temporada na Casa de Detenção de Imigrantes, em São Paulo (eles eram tão numerosos que não cabiam na pequena cadeia de Santos), acabaram se transformando nos primeiros ocupantes dos campos de concentração em território brasileiro, aqui chamados de "campos de internação", para onde, depois, também foram levados italianos e japoneses.

A bordo de um trem lacrado e com a patética escolta de soldados fortemente armados, os pacatos tripulantes alemães foram divididos em grupos e mandados para cinco destes campos, todos no interior do estado de São Paulo: Bauru, Ribeirão Preto, Pirassununga, Guaratinguetá e Pindamonhangaba, este o maior do gênero no país. Neles, no entanto, a despeito do trabalho por vezes forçado, seguiram gozando quase a mesma liberdade de antes, já que não representavam perigo algum ao país.

No campo de concentração de Pindamonhangaba, em clima de total camaradagem com os guardas, os marinheiros alemães receberam autorização para construir suas próprias casas, criaram galinhas, ordenharam vacas, jogavam futebol contra times que vinham de fora, assavam pães para vender aos visitantes até saiam para fazer compras na cidade ocasião em que chegavam a dividir rodadas de cerveja com os próprios guardas que os vigiavam. Também os músicos da orquestra do navio eram frequentemente convidados para tocar em festas na cidade, e os cozinheiros do Windhuk passaram a preparar jantares sofisticados para os oficiais do próprio campo. De presidiários, eles nada tinham.

Na maior parte do tempo, a vida era tão agradável nos campos de internação que o mesmo casal Hildegard e August, que havia se casado quando Windhak estava atracado no porto de Santos, resolveu ter um filho ali mesmo. Nasceu assim Carl Beraak, o único brasileiro que veio ao mundo dentro de um campo de concentração. Hoje, ele é o principal convidado nos encontros anuais que os descendentes dos tripulantes do Windhuk, já que todos já morreram, organizam em um restaurante de São Paulo, que não por acaso leva o mesmo nome do navio, sempre no dia 7 de dezembro, data que ele chegou ao Brasil. O último tripulante morreu em 2015.


Nos campos de internação, onde viveram por mais de três anos, os marinheiros do Windhuk se habituaram ainda mais com a vida no país, Quando a guerrа terminou, em 1945, o governo brasileiro, sem saber o que fazer com aquele incomodo grupo, deu a eles duas opções: voltar para a Alemanha, arrasada pela guerra, ou ficar de vez no Brasil, com direito a cidadania. Praticamente todos escolheram a segunda opção. Apesar do sotaque carregado, já eram brasileiros de coração.

Em seguida, eles se espalharam por cidades de São Paulo, Santa Catarina Minas Gerais e Rio de Janeiro, e foram trabalhar em diversas áreas. Um deles. chegou a vice-presidência da Coca-Cola no Brasil. Já Hildegard, mãe de Carl tornou-se uma das maiores especialistas do país em ortóptica, uma área da oftalmologia que trata de desvios oculares. Muitos, porém, preferiram subir a serra que brotava aos pés do campo de internação de Pindamonhangaba e foram trabalhar, como cozinheiros, no recém-criado Grande Hotel de Campos do Jordão, cidade que, até então, era apenas um centro de tratamento para tuberculosos.


Com a experiência culinária que tinham do navio, os alemães do Windhuk transformaram aquele hotel em um centro de excelência gastronómica e foram praticamente os responsáveis por implantar as bases do que viria a ser a estância turística de Campos do Jordão nos dias de hoje. Outro tripulante, porém, prefe riu abrir um bar em São Paulo, batizá-lo com o nome do navio, e passar a reunir os antigos companheiros para relembrar as histórias do passado o precursor do restaurante Windhuk, onde os seus descendentes se encontram até hoje.


Já o navio deixou de existir há muito tempo. Depois de servir nas guerras do Vietna e da Coreia, sob bandeira americana e com o nome USS Le Jeune, o ex-Windhuk acabou seus dias num ferro-velho asiático. Mas o seu sino foi preservado e ainda toca, todos os dias, em um quartel de treinamento do exército americano, na Califórnia, onde, no entanto, quase ninguém sabe que o navio de onde ele veio acabou decidindo o improvável destino de mais de 200 alemães, durante a guerra.


Pois é amigos da Pirataria . A estória foi longa , mas eu achei interessante como "local " dos fatos descritos. Quanto ao Livro do Jorge de Souza , não sou crítico literário muito menos "influencers" , mas gostei e recomendo a todos os "nautas",

Caro leitor , se chegou até aqui agradeço ...

Forte abraço do Pirata Alado ( versão "culturally ligth " )