terça-feira, 6 de setembro de 2022

Pirata .... e as sobrevivências

 

Amigos da Pirataria Alada.... meu cordial Olá

Neste domingo ensolarado de outono em Santos , depois do almoço fui consultar um álbum  de fotos antigas e algumas me chamaram a atenção. Revi fotos do meu curso de Aviador Naval (CAAVO) iniciado em 1979 no CIAAN (Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval ) em São Pedro da Aldeia. Na sequência me deparei com algumas fotos do Panamá em 2002 (já como Pirata Alado ) quando tive oportunidade de colocar em prática, alguns dos ensinamento que recebi durante a Sobrevivência na Selva , ministrada no curso do CIAAN.

Minha mente começou a viajar pelos anos pensando em todas transformações e experiências que passei profissionalmente até o dia de hoje como um  “veterano Pirata Alado “ , (blogueiro amador realizado)..

Na minha viagem mental , estacionei em maio de 2005 , quando iniciava a Etapa Europeia da Pirataria Alada :


 Era um novo e enorme desafio que estava iniciando.
Eu acabara de pousar o SeaBaboon em Cannes , acompanhado pela Sereia , quando meu agente contratado me alertou que deveria fazer um curso específico para adquirir uma” licença especial francesa “, para ser autorizado a operar helicóptero no tráfego aéreo da Cote D’Azur, no auge do verão. Preocupado corri atrás para obter tal licença formal , antes de embarcar no Karima que estava em Livorno na Itália , aguardando a chegada do patrão  com seus convidados , iniciando seu lazer no Motor Yacht Karima, naquele verão de 2005.

Eu estava ansioso e busquei um curso que oferecesse tal qualificação entre Cannes e Livorno. Encontrei um curso em Mônaco , ministrado ´pela MONACAIR (taxi aéreo instalado no Principado). Para lá me dirigi acompanhado pela Sereia , nos hospedando no hotel Columbus . 

Durante o curso , assisti várias aulas durante os dias e aproveitava as noites com a Sereia. Passei a estudar as instruções do manual do curso sobre toda parte teórica , aguardando o extenso voo (prova final), sobrevoando toda a Cote D’Azur para conhecer os pontos de referência a serem reportados ao controlador , demonstrando todo o meu conhecimento geográfico da região , além da minha proficiência no idioma francês. Uma matéria em particular , me chamou atenção. Dizia respeito aos meus conhecimentos sobre “Sobrevivência na Selva “ ( Selva! ... mas na Cote D’Azur ?). Sorri e comecei a pensar nesta “matéria “ que havia cursado na Marinha do Brasil em 1979 durante o CAAVO :😏😑😔


“ ... Éramos 16 jovens e ansiosos Oficiais de Marinha cursando a especialidade que pautaria o nosso futuro profissional. Haveria  várias matérias teóricas e treinamentos práticos, antes de iniciarmos as instruções de voo. Logo no inicio do curso , o Comandante Alves (encarregado do CAAVO ) nos comunicou que iniciaríamos o treinamento de Sobrevivência na Selva no Morro de São João (próximo a São Pedro da Aldeia) . Passaríamos um período separados em grupos de 4 oficiais, distanciados na Selva . Não poderíamos levar “nenhum “ tipo de ferramenta (apenas um Kit de Sobrevivência da aeronave). Deveríamos colocar em prática toda teoria ministrada pelo instrutor ,o Sargento Fuzileiro Naval Bianchi. Teríamos que sobreviver com os meios naturais que a Selva nos oferecesse para nos protegermos dos animais peçonhentos (cobras, aranhas , mosquitos e etc) Nos alimentaríamos com todo tipo de vegetal, animais e peixes que pudéssemos encontrar. Seriamos resgatados depois de um alguns dias por helicóptero (vivos ou mortos ... só dependeria de nós mesmos).


Fomos separados em GRUPOS de 4. Fomos deixados ao pé do morro , transportados por um helicóptero “VACA” do HU-1 ( 1° Esquadrão de Emprego Geral da Marinha). Cada GRUPO foi levado individualmente pelo instrutor a posição na Selva onde deveríamos construir nosso abrigo. Antes de deixar o nosso GRUPO constituído , além deste Pirata , pelos meus amigos e colegas de curso conhecidos pelos “call sing” como : Xereta, Camelo e Ogro. Antes de nos abandonar , o Instrutor meio ressabiado perguntou :

“ Algum de vocês tem no macacão , algum tipo de alimento ou ferramenta ? “


Fez-se silencio por alguns segundos, até que o Ogro não conseguindo disfarçar o volume num dos muitos bolsos do macacão de voo, se manifestasse :

“ eu só tenho esta “pequena machadinha”.... para cortar árvores pequenas ... “

Em respeito a credibilidade do curso ,  a “pequena machadinha” foi devidamente confiscada pelo instrutor que prometeu manter “sigilo” sobre o ocorrido no nosso grupo... antes de se despedir sorrindo , desejando a nós “boa sobrevivência “. Ele nos deixou um capacete de aço (portado por qualquer combatente que se preza ) e um Kit sobrevivência que é portado no colete de qualquer piloto militar operativo)

Fizemos um planejamento de divisão de trabalhos. O Xereta foi procurar uma fonte de água. O Camelo saiu em busca de algum tipo de alimento (frutas ou algo parecido) e eu iniciei um projeto de moradia suspensa usando  galhos e cipó de amarração... Pedi ao Ogro para pegar alguns galhos enquanto amarrava outros.

“ Não vou fazer nada ! “  Disse um Ogro revoltado com o confisco de sua “pequena machadinha “

“ Ta bom ... então você vai dormir no chão a noite “  Foram minhas últimas palavras até o regresso do Xereta e do Camelo.

“ Boa notícia... temos água em abundância num córrego próximo “ Era o Xereta trazendo uma pequena quantidade de água dentro de uma folha grande fechada e amarrada.

“ Temos o que comer  hoje .... PALMITO “ Anunciou o Camelo portando dois grandes palmitos que conseguiu arrancar de dois palmiteiros.

Nos dedicamos a acender uma fogueira para espantar animais , nos aquecer e iluminar a noite que se aproximava.


Nosso abrigo suspenso e coberto com folhas de palmiteiros entrelaçadas já estava pronto e nos preparamos para o Jantar. O cardápio daquela noite seria “Palmito in natura”. Nos reunimos em torno da fogueira contando “ causos “ ouvidos de aviadores mais antigos. O cansaço bateu e nos deitamos na cama/estrado de bambus suspensa . Foi uma noite desconfortável e o Ogro se mantinha em silêncio , mas se abasteceu de sua dose de palmito.

Acordamos na madrugada com um som : “ ooooooGRÔOOÔO” .

O som era persistente e repetitivo e vinha de várias direções da Selva e nos levantamos assustados quando o Ogro de pé começou a gritar no meio da escuridão :

“ Seus FILHOS  DA ,,!@#$%&*$#@...VENHAM AQUI SE SÃO MACHOS !!! “

O som só aumentou de intensidade .... e persistiu por um bom tempo. Ninguém apareceu ... e nós dormimos sem dar uma palavra sequer.

No dia seguinte, cobrimos nosso colchão de bambus com folhas macias . O Ogro começou a nos ajudar pegando galhos secos para manter o fogo. Fizemos algumas armadilhas para pegar algum animal noturno ou pássaro , mas não tivemos sucesso e assim sendo providenciamos um cardápio alternativo : “ PALMITO COSIDO no CAPACETE “. Estava uma delícia !!

Mais uma noite chegou e não foi muito diferente , mas mais confortável sobre o colchão de folhas macias .

O fundo sonoro da noite foi semelhante com menor intensidade : ooooogrÔôôô.... e terminou mais cedo.

Mais tarde identificamos a origem do “coro noturno” coordenado e produzido pelos nossos colegas de curso, os saudosos " Caroço e Botina ", que sobreviviam em outro GRUPO.

Dormi desejando o resgate de helicóptero....



RRRRRRROOORRROOOORRRrrrrrrrrrr  .... Acordei assustado era um barulho de helicóptero....pulei da poltrona rapidamente sem ter ideia de onde estava ....olhei em volta e vi a Sereia sorrindo... e me acalmando .....

“ Calma ... Calma .... você estava sonhando !!!” A Sereia falou tentando me acalmar .

“Foi só um helicóptero que decolou do heliponto e passou baixo aqui no hotel... Senta e toma um gole dessa Champagne “


“Não quero nenhuma Champagne...onde estamos ? “ perguntei assustado.

“Ta bom ...então tira uma foto minha ....”

 Disse a Sereia posando com uma garrafa de Dom Pérignon sobre a cama

“ Estamos no Hotel Columbus em Mônaco ...Você estava estudando e acabou cochilando....e acordou assustado . Daqui há pouco você tem um voo pela Cote D’Azur ... e eu vou com você ... vai tomar um banho para despertar.” 

“Vou tomar banho ...e você nem pense em abrir essa garrafa “

Disse meio revoltado depois de tirar a foto. O Dom Pérignon voltou para o frigobar do Hotel Columbus de Monte Carlo (sem ser aberto e consumido ).

Realizamos um voo maravilhoso de Mônaco a Marseille no corredor demarcado para voos de helicóptero durante o verão, a bordo de um EC-120 Colibri . Como já era qualificado neste modelo de helicóptero , fui autorizado pelo instrutor a assumir o comando. Tudo correu “maravilhosamente” bem . Vislumbrei algumas vegetações nas elevações dos Alpes próximos a Mônaco (nada que se compare a uma “Selva”...mas ...).A Sereia adorou ver a Cote D’Azur do alto. No regresso , pousamos em Monte Carlo . Fui aprovado e recebi meu certificado da MONACAIR.



Voltamos para o hotel e nos preparamos para curtir a noite Monegasca , acompanhado do Humberto ( Fiel escudeiro do Pirata , mecânico do SeaBaboon) que se reuniu a nós vindo de Cannes. Descobrimos que Mônaco a noite ....é mais Mônaco que durante o dia...perfeito (pra quem pode )



Missão cumprida. A Sereia deveria voltar ao Brasil e eu permaneceria na Europa para iniciar a minha primeira temporada Europeia a bordo do M.Y. Karima, começando pela Grécia, Turquia e Mar Adriático, terminando na Cote D’Azur( agora perfeitamente qualificado).

 Tudo certo ! ( só que não !).

Fui fazer Check out no Hotel Columbus de Monte Carlo.

Quando conferi a conta , constatei um valor absurdo e identifiquei o consumo de “ 1 Champagne Dom Pérignon “.

“Pardon... désolé mais je n'ai pas consommé ce champagne”. Disse ao elegante funcionário encarregado pelo Check out.

Ele prontamente corrigiu a fatura , sem questionar. Paguei com o cartão empresarial que portava e antes que agradecesse para sair,  o funcionário me perguntou :

“Avez-vous retiré le champagne du minibar ?”

Constrangido disse que iria consumi-lo ... mas desisti porque teria que pilotar um helicóptero. Falei em francês olhando para a Sereia que nada entendia.

“Ah... d'accord merci”.

O funcionário respondeu e completou dizendo que o minibar do quarto tem um sensor eletrônico que acusa qualquer retirada diretamente para a conta.

“Ah... d'accord merci... et  au revoir” .  Disse agradecendo e me despedindo. Fomos embora para embarque da Sereia para o Brasil.




Findas minhas lembranças de 2005, retornei meu pensamento  ao ano  vigente de 2022.


Como estava dizendo , hoje foi um dia ensolarado de outono em Santos que viajei por meio das minhas gratas recordações fotográficas , por algumas Sobrevivências ( seja na Selva do morro de São João ... no Mar Mediterrâneo.... ou ...no céu  ...da Cote D'Azur ....).

A Marinha me formou um Aviador Naval preparado para tudo .... até pra nada...😉

Forte abraço e um beijo no coração de todos , que me honram com vossa leitura

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Pirata Alado