Amigos da Pirataria Alada ....meu respeitoso ...Olá
Em tempos de Amazônia na ordem do dia, resolvi contar uma história vivida por um jovem desabrochando para a vida profissional , cheio de idealismo sem ambições financeiras e disposto a sacrificar , conforto , segurança ... por aquilo que acreditava... , e que por juramento a bandeira do Brasil , ... executaria até...com o sacrifício da própria vida
O que
acontece na Amazônia .... fica na Amazônia
A Região Amazônica é uma extensa área de terra ao noroeste
da América do Sul que envolve ,ao menos, parte de 9 países do continente ,
coberta pela maior floresta tropical do mundo, cortada por milhares de rios que
cobrem , uma imensurável riqueza mineral .
Essa curta e simplista definição, acredito ser suficiente
para que possamos imaginar a complexidade de interesses , dos mais variados,
que despertam em todo o mundo, civilizado ou não. O Brasil , dos 9 países que
fazem parte da Região , é o que detém a maior e grande parte. Desta forma , o
Brasil é o país que sofre os maiores ônus sobre a manutenção das
características muito particulares , em
que pese todo tipo de dificuldade natural tais como , distância , extensão,
condições extremas meteorológicas e biodiversidade inóspita para a manutenção
da vida de seus habitantes. Entenda-se aqui “ônus sobre a manutenção das
características”, os recursos materiais , humanos e econômicos necessários a
essa manutenção , em contrapartida aos teóricos, bônus de sua propriedade e
soberania. Até então , essa propriedade e soberania não eram questionados
internacionalmente , até que o planeta , tal como o conhecemos , desenvolveu
tecnologias que , por interesses econômicos , criou a teoria de
“compartilhamento social”, o que contraria a natureza ( predadores e predados que o digam).
Um dos maiores ônus que a Amazônia
proporciona ao Brasil é o policiamento da sua extensa , inóspita , variada e
complexa fronteira com seus outros 7 vizinhos (apenas Equador dos “amazônicos”
não tem fronteira com Brasil). A invasão constante dessa fronteira , pelas inúmeras razões , sejam por traficantes de
armas , drogas e contrabandos os mais variados, exige um grande esforço de
apoio ao setor policial ( Federal ou Estadual), por parte do setor de segurança
representado pelas Forças Armadas, garantindo a manutenção da “Soberania”.
A viagem de instrução, depois de visitar grande parte do mundo, regressou ao Brasil em setembro. Já como segundo tenente, me casei no Rio de Janeiro uma semana depois . Casado e depois de rápida lua de mel de uma semana em Cabo Frio , fomos nos apresentar em Manaus para começar a minha vida profissional. Em Manaus fui surpreendido na Flotilha do Amazonas . Não iria para o Pedro Teixeira. Deveria me apresentar ao NaPaFlu Roraima que estava suspendendo no dia seguinte para uma missão de um mês pelo Alto Solimões.
Contando com o apoio de meus dois colegas de turma (e
grandes amigos) Gasparello e Valente , embarquei no dia seguinte , deixando
minha jovem esposa sob os cuidados dos meus amigos, só ,numa casa alugada, sem
meio de transporte próprio, no meio da Região Amazônica , desconhecida para nós
dois. Sobrevivemos dignamente, ao período.
Naquele mês aprendi mais sobre tudo , do que em todas as escolas que frequentei até aquele momento . O NaPaFlu Roraima era um navio construído no estaleiro MacLaren em Niterói por meio de um projeto brasileiro produzido pela engenharia naval nacional. Ele se mostrou perfeito para a atividade militar fluvial da Amazonia. Como armamento principal ostentava um canhão de 40 mm na proa , perfeito para impor respeito a curta distância , como eram as margens dos rios. Minha primeira função foi “Ajudante da primeira divisão (convés). Isso traduzia que eu seria o encarregado de toda logística, como “Gestor” do Navio, principalmente de bens de consumo de difícil aquisição no meio da maior floresta do mundo. Aprendi a me” safar” já que o meu primeiro comandante e o Imediato eram muito exigentes.
Partindo da Estação Naval do Rio Negro, cruzamos o encontro das águas e guinamos a boreste . Nosso destino seria o alto do Solimões ( nome do Amazonas antes do encontro com as águas do Negro). Eu acompanhava o imediato nos quartos de serviço de navegação . Durante o dia aprendi a reparar nos trocos de arvores que desciam o rio e desviar quando o canal permitia. Quando não, parávamos máquinas protegendo os hélices em movimento . Durante a noite era quase impossível desviar, apesar do holofote na proa. Era emocionante. Me emocionei com os atendimentos médicos aos ribeirinhos, executado pela equipe medica de bordo.
O navio atracava nos barrancos e era amarrado em arvores. No policiamento de embarcações suspeitas , além de infrações de segurança a navegação apreendemos pelo menos uma embarcação transportando ilegalmente peles de jacaré que seriam enviadas para a Europa. Quando atingimos águas rasas na proximidade de Tabatinga , na tríplice fronteira , Brasil , Colômbia e Peru , iniciamos linhas de sondagem por ecobatimetro confeccionando “croquis” que seriam as ferramentas básicas para a confecção de futuras cartas de navegação da DHN. Nesta região tivemos a companhia de dois AvHi (avisos hidrográficos da Marinha) , o Paraibano e o Rio Branco da COLAM ( Comissão de Levantamento da Amazonia).
Chegando a Tabatinga ( no alto Solimões) , descobri que estava na chamada “Terra de Ninguém”. Era uma fronteira terrestre com a Colômbia sem nenhum tipo de posto policial , ou qualquer demarcação física, e uma fronteira fluvial com o Peru, patrulhada por um Pelotão de Fronteira do Exército Brasileiro (sem embarcações). A Terra de Ninguém era o lugar perfeito para todos os tipos de ilícitos , desde contrabandos variados, até fugitivos da justiça internacional . Nas redondezas observei algumas cruzes vermelhas , plantadas nas margens, com inscrições incompressíveis , que posteriormente fiquei sabendo ser a demarcação de uma seita chamada “Irmãos da Cruz”.
Era uma quantidade de informação que eu jamais soube durante a minha formação escolar (civil e militar). O SNI (Serviço Nacional de Informações)solicitou ao nosso Navio que colhesse informações sobre a seita Irmãos da Cruz. Assim me transformei em aprendiz de “James Bond “, da noite para o dia. De barba crescida , roupa suja e tentando parecer um jovem desgarrado de uma família sulista em busca de aventura , me apresentei a um aliciador local em busca de abrigo. Foi o suficiente para descobrir , que a seita comandada por um peruano, se utilizava de jovens desgarrados , como força de trabalho escravo numa fazenda produtora de drogas em troca de abrigo.Depois de um mês de viagem , eu já havia aplicado injeções de vitamina K ( ajudando aos dentistas ,nos atendimentos médicos/odontológicos) , feito levantamento hidrográfico em rios desconhecidos, investigações secretas infiltrado e executado navegação visual , diurna e noturna , sem referências visuais em águas rasas e restritas com forte correntada usando apenas radar e eco batímetro, atividades para as quais nunca havia recebido treinamento na Escola Naval. Assim sendo decidi que no regresso colocaria em pratica meus conhecimentos técnicos de navegação astronômica adquiridos no planetário da Escola Naval e treinados durante a Viagem de Instrução do Custodio de Mello, lidando com maestria um sextante. (na época não existia GPS, nem celular , nem Laptop ). Me frustrei quando percebi que a Amazônia não me oferecia um horizonte perfeito que pudesse servir de referência para “baixar” uma estrela (se ela aparecesse entre as enormes nuvens que descarregavam chuvas torrenciais).
Já havia aprendido muito em pouco tempo, quando regressei e encontrei
minha jovem esposa ansiosa, cerca de 50 dias sem casa própria.
Soube que já havia uma casa na Vila Humaitá da Marinha para nós,
mas nossa mudança ( presentes de casamento e nosso carro Bug) ainda não haviam
chegado a Manaus. Comuniquei a ela que o NaPaFlu Roraima sairia de novo em 10
dias , agora para uma viagem de 2 meses. Frustrados, decidimos que seria melhor
que ela voltasse ao Rio aproveitando uma carona de avião da FAB até que nossa
mudança chegasse e eu parasse de viajar por algum tempo. Ela concordou e
embarcou para o Rio de Janeiro , num cargueiro da FAB.
A nova viagem foi semelhante com o mesmo tipo de atividades
com a diferença que agora não eram mais novidades para mim. Já era um “Lobo do rio”.
1978 já era um ano em plena vigência. Recebi minha casa na vila Humaitá. A
mudança chegou junto com meu Bug Bugre Branco em perfeito estado. Projetei e
mandei um artesão confeccionar os moveis necessários para equipar nossa
primeira casa . Seriam moveis grandes (compatíveis com as dimensões da casa) ,
confeccionados em madeira nobre e brutas (como era hábito na região). A casa
tinha uma vista maravilhosa do encontro
das águas posicionada no alto de um grande barranco , as margens do Rio Negro,
além de um grande quintal (que se transformaria num grande viveiro de animais
presenteados pelos ribeirinhos agradecidos pelos atendimentos médicos
realizados pelo Roraima).
No navio , 1978 marcou grandes mudanças. O comandante foi substituído . O novo Comandante, assumiu demonstrando ser muito mais exigente , o que me animou , uma vez que a função requeria, nas condições extremas que trabalhávamos . Além do Imediato, éramos 3 tenentes e os outros dois foram aprovados no concurso para o CAAVO (Curso de Aperfeiçoamento de Aviação para Oficiais) . Esse seria o meu objetivo para o ano seguinte. O Macedo e o Cintra desembarcaram para iniciarem o curso me tornado o tenente mais experiente a bordo. Assumi a Chefia de Máquinas , além da Divisão de Convés e da gestoria do navio , até a apresentação de novos oficiais. Fizemos uma viagem nestas condições quando tivemos a ajuda do meu amigo Valente para compor os quartos de serviço de navegação.
Navegamos por
vários afluentes executando as mesmas funções cheio de surpresas para as quais
tínhamos que nos adaptar. Neste período descobri que poderia comprar , a
escassa na região, carne bovina (viva) trocando por escasso, óleo diesel que
moveriam os geradores elétricos dos povoados. Na contabilidade do navio era
apenas uma alteração burocrática de orçamento especifico, sem envolvimento de
custo monetário. Institui também a atividade de “pesca pela borda” para a tripulação
que estivesse disponível durante o atendimento médico aos ribeirinhos. O
produto da atividade era recolhido a frigorifica , criando assim economia da
verba de alimentação. Funcionou perfeitamente gerando uma bela caixa de
economias para o Navio. Foi mais uma viagem produtiva. Regressamos para Manaus e
agora poderia reencontrar minha jovem esposa com uma casa nova montada e com
nosso carro em perfeitas condições para termos um início de vida o mais próximo
da normalidade. Compramos um bilhete aéreo Rio – Manaus para alguns dias depois.
No Roraima mais uma novidade . O Imediato iria cursar o CCEM (curso de comando e estado maior ) na EGN (Escola de Guerra Naval) e seria substituído . O navio também recebeu 2 novos oficiais , aliviando as minhas funções, quando passei a ser apenas Chefe de Máquinas e Encarregado de Navegação.
Fizemos uma cerimônia de passagem de funções a bordo , no mesmo dia que minha esposa desembarcaria em Manaus vindo do Rio. Por coincidência , a esposa do novo imediato , viria no mesmo voo. Decidimos que após a cerimônia iriamos para o Aeroporto Eduardo Gomes, onde ele seguiria no seu carro o meu Bug por desconhecer o trânsito de Manaus. Terminada a cerimônia a bordo , percebi que estávamos atrasados para recebê-las no aeroporto e assim sendo nos apressamos. Quis o destino que depois de atingirmos a rotatória conhecida como “Bola da Suframa” na BR319 em alta velocidade , meu Bug capotou sendo observado a curta distância pelo Imediato, alguns metros atrás. Ele me socorreu e com ajuda de um carro da Polícia Militar me levou para o Hospital do Exército . De lá foi encontrar nossas esposas no Aeroporto. Minha esposa depois da notícia foi ao Hospital encontrar o que havia sobrado do jovem marido bastante avariado. Depois de obtida alta do hospital fomos para nossa nova casa, onde ainda conseguia me deslocar todo enfaixado sobre uma cadeira de rodas. Não sobrou nada do meu Bug , só um motor ainda em condições de uso que foi trocado por uma moto de 200cc, como meio de transporte. Eu fui me recuperando e uma semana depois consegui voltar a embarcar , ainda com restrições , para saber que em 5 dias estaríamos suspendendo para nova missão de um mês, no Alto Solimões. Agora minha esposa morava na nossa casa numa vila naval segura com uma bela vista do encontro das águas e tinha sido presenteada no seu aniversário, com um Mini Honda ( antigo, mas em condições de uso ) para se locomover em Manaus ( o salário de segundo tenente não permitia , na Amazônia, aquisição de coisa melhor).
Atracamos em Tefé para 2 dias de descanso após 20 dias de
intensa atividades de atendimentos médicos , levantamentos hidrográficos com
navegações noturnas perigosas com oficiais inexperientes que dependiam da minha
instrução enquanto ainda convalescia do meu grave acidente.
No meu camarote , eu filosofava sobre tudo que havia aprendido naquele último ano. Era muito, mas nada sobre aquilo que eu havia sido preparado ... o combate naval , quando o navio soou um alarme para toda a tripulação. Deveríamos suspender imediatamente para nos deslocarmos para Santo Antônio do Iça. La havia ocorrido um acidente aéreo com um Catalina do CAN (Correio Aéreo Nacional) da FAB onde deveríamos prestar socorro às vítimas . Nos deslocamos em velocidade máxima chegando na escuridão da noite e atracamos num barranco próximo a pobre comunidade para obtermos mais informações. As primeiras informações deram conta de uma verdadeira tragédia:
Um hidroavião Catalina da FAB , pilotado por dois Coronéis,
executando transporte de ribeirinhos entre várias localidades amazonenses ,
capotou durante o procedimento de pouso nas águas do Rio Solimões. Emborcado o
avião teria flutuado e boiado , quando então alguns sobreviventes conseguiram
sair e ficaram apoiados nas asas e foram visto pelos ribeirinhos. Muitos locais
, pegaram suas canoas e se aproximaram do avião emborcado , mas ainda na
superfície. Quando se iniciava o corajoso resgate por meio de várias canoas , o
avião explodiu e rapidamente afundou sendo carregado pela forte correnteza destruindo as vidas de sobreviventes e
socorristas.
No dia seguinte, planejamos um padrão de busca próximo ao local de afundamento rebocando uma garateia pesada e profunda, pelas barrentas águas do Solimões. Depois de um dia inteiro tivemos sucesso na localização dos destroços. Fundeamos o NaPaFlu na posição fixando , no navio, o cabo da garateia presa aos destroços do avião no fundo . Pelo ecobatimetro constatamos a profundidade local em 20 metros e estimamos uma corrente fluvial em pelo menos 5 nós . Eram condições críticas para um mergulho sem visibilidade para mergulhadores de combate que estavam sendo transportados para o local , juntamente com uma equipe de resgate do PARASAR da FAB . A noite voltou interrompendo todos os esforços daquele dia estafante para todos.
No dia seguinte, além dos Mergulhadores de Combate da Marinha e pessoal especialista em resgate do PARASAR , chegaram também os dois AvHi Paraibano e Rio Branco , que interromperam suas tarefas hidrográficas . Ficamos sabendo por eles , que o avião transportava uma mala cheia de dinheiro , acompanhada por um funcionário da COLAM , que visava prover dinheiro vivo para subsistência das tripulações dos dois AvHI nas condições inóspitas que desenvolviam suas atividades profissionais sem qualquer tipo de apoio próximo. Da parte da FAB , além do resgate de possíveis (porém improváveis) sobreviventes , deveríamos encontrar os militares da tripulação da FAB , visando amenizar os problemas legais que incidem nos direitos das viúvas , quando as vítimas são classificadas de “desaparecidos”. Eram dois problemas materiais , mas muito reais dentro de tanta comoção envolvida.
Os dias foram passando. Os mergulhos se mostraram infrutíferos devido as condições extremas , e perigosas , do mergulho sem visibilidade , com uma corrente muito forte , a 20 metros de profundidade , em meio a metal retorcido com cardumes de peixes piranha devorando tudo que estava ao alcance. Conseguimos recolher várias partes de corpos já em estado de decomposição, parcialmente comidos e sem nada que pudesse identificá-los . A única exceção , foi um pedaço de corpo coberto por parte de um macacão da FAB que comprovava que “a TRIPULAÇÂO “ da FAB havia falecido. Cada caixão destinado a tripulação, recebeu um pedaço desse macacão , foi lacrado e enviado para os familiares procederem o enterro , resolvendo na pratica o problema burocrático das viúvas. Nem a mala da COLAM , nem o funcionário foram encontrados, mas é certo que a família do funcionário foi devidamente atendida nos seus direitos.
Ao final do vigésimo dia, depois que todas as partes envolvidas concluíram que não havia mais nada que pudesse ser feito no local, começamos os preparativos para cada setor deixar o local. Eu, convidei alguns dos oficiais para irmos à cidade enlutada a noite para agradecermos alguns dos moradores que nos ajudaram nesse período. Um deles era o dono de um bar que nos convidou a tomar uma cerveja gelada ( algo raro na região , que só foi possível devido ao tambor de 200Lt de diesel doado pelo Chefe de Máquinas do Roraima) . Ao chegarmos no bar , para minha surpresa encontrei vários marinheiros fardados , com uniforme da Marinha “Colombiana”.
Ao questioná-los de forma cordial ( já que eu estava à paisana) ,
o marinheiro já visivelmente embriagado me disse que era de um Grupo Tarefa de
4 navios de guerra colombianos que estavam atracados no barranco da margem
esquerda do Rio Iça um pouco ao norte da localidade de Santo Antônio do Iça, e
que tinham sido liberados para tomar uma “biritas” em terra e trazer umas “muchachas”
para bordo para se divertirem . Agradeci e rapidamente me desloquei até as
proximidades onde os navios se encontravam.
Era verdade, havia 4 navios
militares estrangeiros no interior do território brasileiro sem conhecimento das
autoridades. Voltei rapidamente ao Roraima e contei ao Comandante . Ele
rapidamente entrou em contato com o EMA (Estado
Maior da Armada) que não sabia de nada e determinou que ficássemos atentos e
prontos. O Roraima tocou “Postos de
Combate”. A tripulação atendeu rapidamente . O canhão de 40 mm da proa foi
desencapado e conteirado para a foz do Rio Iça. Da nossa posição a jusante da
cidade no Rio Solimões não visualizávamos os navios colombianos a montante da
cidade no Rio Iça. Estávamos separados por uma curva dos rios, e isolados
visualmente pelo barranco alto e pelas arvores.
A situação havia sido levada ao conhecimento do Itamarati ,
que pediu explicações ao Embaixador da Colômbia.
Durante as 2 horas que se seguiram aguardando por instruções
do alto comando sobre a situação, eu de capacete pensei.
“ Fui preparado para a Guerra... e tudo indica que ela vai
acontecer !”
A explicações chegaram. Eram navios em deslocamento entre
duas Bases Fluviais Colombianas , a de Tarapacá , no Rio Iça e a de Leticia, no
Rio Solimões, que não tinham ligação fluvial por território colombiano. Sendo
assim , confiando que um encontro com unidades militares brasileiras seria
improvável, há muito tempo invadiam nosso território, sem as devidas
autorizações fazendo o translado de suas forças fluviais a nossa revelia. Tudo
isso não seria tão grave , se durante essas movimentações , os navios não
atracassem nos barrancos para aliciarem jovens ribeirinhas (muchachas) para
distraírem marinheiros colombianos “borrachos” a bordo de “territórios
flutuantes colombianos” fora das vistas das leis brasileiras de respeito ao cidadão.
Diplomaticamente , o Embaixador da Colômbia pediu desculpas
formais ao Itamarati , garantindo que dali para frente todas essas incursões
seriam comunicadas a Marinha do Brasil , e que seus navios não tocariam nas
margens brasileiras e seus tripulantes jamais baixariam terra sem conhecimento
e autorização das autoridades brasileiras.
As desculpas foram aceitas pelo Itamarati que comunicou ao
EMA.
O EMA comunicou ao Comandante Pimentel que os navios colombianos em breve iriam cruzar a nossa proa autorizados a passar em paz....mas que seria recomendável que neste momento o Roraima estivesse iluminado , em postos de combate e com o canhão de 40 mm “conteirado” acompanhando o movimento dos colombianos...ostensivamente.
Eu , segundo tenente de capacete ao lado do meu Comandante
no passadiço do Roraima iluminado , com o AvHi Rio Branco a boreste e o Avhi
Paraibano a bombordo, observei os 4 navios colombianos desfilarem na nossa proa
... um atras do outro ... devagar e em paz. Pelo canal 06 VHF ...alguém que se
apresentou como Comandante do GT Colombiano cumprimentou o Roraima , pediu
desculpas , agradeceu ... e desejou boa missão. O comandante respondeu ... e
desejou boa missão. Foi um encontro inusitados de homens do mar ... num rio.
Quando tudo acabou e tocou no fonoclama :
“ PAPA 30.....volta aos postos de combate”
Eu pensei:
“ O que acontece na Amazonia.... fica na Amazonia!”
Suspendemos no dia seguinte e voltamos para Manaus , depois de
mais uma , “triste” missão cumprida. Eu senti que eu estava preparado pela Escola Naval pra
tudo...até pra nada !
Finalmente eu tive um mês inteiro , ao lado da minha esposa depois
de um ano de casado.
Homenagem particular ao Almirante Pimentel que balizou a minha vida profissional
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Aos meus amigos GASPARELLO e TAKETANI que me ajudaram a construir essas histórias ... o meu carinho e admiração....seja lá onde estejam
🙏
Ficou excelente com as fotos!!!!
ResponderExcluirObrigado
ExcluirHistórias existem para serem contadas....se possível...materializadas.
Abraço do Pirata
Boas histórias.. .
ResponderExcluirA MB também me forneceu algumas.
Mas principalmente bons amigos.
Um abraço
Obrigado "Unknown" pelo comentário.
ExcluirA MB fornece boas histórias e aventuras.... mas principalmente bons amigos.
Você está certíssimo.
Abraço (cuidado com o gancho na mão esquerda)
Caro amigo Barreira, com a aparencia digna de um pirata, "alado", agradeço essas boas historias de um jovem tenente nas aguas dos rios da Amazonia. Muito interessante. Agradeço pelo conteudo carregado de experiencia e emoção, que acendem os coracoes de outros jovens tenentes que na navegaram na regiao, dentre os quais me incluo, porem na foz do Rio Amazonas, no estreito de Breves e no rio Oiapoque. Uma experiência marcante impossível de esquecer,como bem demonstrado neste relato incrivel. Forte abraco do parceiro de estrada Colegio Naval-Angra-Rio-Sao Paulo em nossos valentes fuscas..Lanzellotti
ResponderExcluirCaro Lanza.
ResponderExcluirComo esquecer as estradas do sudeste com seus fuscas endiabrados da nossa juventude.
A experiência amazônica é incompararavel e inesquecível.
Obrigado pelo elogio , pela lembrança e pela sincera amizade.
" SELVA "
Forte abraço