sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Pirata....e os Canibais da Polinésia


 


Amigos da pirataria alada ....

 meu cordial ça va

 (como dizem os franceses) 




Nada como mexer em baús de tesouros guardados há muito, num dia chato de chuvinha fina que não para. Foi nessas condições que uma chave antiga que encontrei num canto do armário, me chamou atenção.
  Num primeiro momento olhei para a chave e senti que a conhecia... mas não me lembrava de quais dos segredos guardados aquela ferramenta poderia liberta-lo 

Forcei a mente e me lembre de um velho baú dos tempos de pirataria. Assoprei a poeira e fiz uso da velha chave. Ela funcionou perfeitamente e tive acesso aos segredos guardados. Muitas lembranças surgiram . Pequenos objetos garimpados pelo mundo e um amarrotado caderno de anotações me chamou a atenção e resolvi folheá-lo ao acaso. Parei numa página que tinha por título “ canibais da Polinésia”. Curioso , li e me surpreendi com as anotações que agora compartilho ;

O ano era 2009. A Nau Karima navegava em águas da Polinésia Francesa com destino ao Atol de Moruroa , no Arquipélago de Tuamotu. (um dos 5 arquipélagos que formam a Polinésia ).

O Atol de Moruroa foi palco de testes nucleares franceses entre 1966 e 1974 . Depois que os testes se encerraram a ilha foi interditada por décadas por receio das autoridades aos efeitos de radiação que a bomba produziria por anos.



No começo dos anos 2000 a interdição da ilha foi suspensa e o “caçador de peixes” (meu chefe) resolveu ir em busca de mais um recorde mundial naquelas águas . Por que logo ali ? Porque segundo ele , o local preservado por tanto tempo sem pescadores era onde os “grandes” peixes se desenvolveriam. Ele estava certíssimo ! Não só os grandes peixes , assim como toda vida marinha e vegetações típicas, se desenvolveram isoladas do contato humano. Conclusão : “não é a radiação nuclear que destrói o mundo. Quem faz isso ...é o ser humano “

Deixando a filosofia de lado e voltando as anotações, conheci um habitante local que entre um papo e outro , me falou sobre uma ilha “deserta” da Polinésia no Arquipélago das Marquesas no extremo noroeste. Isso era de grande interesse para o meu chefe “caçador de peixe” que logo foi informado e determinou nosso deslocamento imediato para a Ilha de Eiao.


Antes que iniciássemos o deslocamento , o meu interlocutor polinésio me alertou que a Ilha já fora habitada por “canibais” e que agora só eram vistas cabras pastando, mas...que tomasse cuidado se avistasse algum humano perambulando . Nunca se sabe , né? Vai qui ! disse ele.

Depois de uma navegação turbulenta, em águas pouco pacíficas do Pacífico, chegamos as cercanias de Eiao ( a ilha onde esqueceram das consoantes).


Resolvemos fazer um sobrevoo de reconhecimento com o Sea Baboon, por garantia. A ilha inóspita com muitas pedras grandes de vegetação escassa e rasteira, apropriada somente para cabras , que foram vistas em pequenos bandos. Observei do alto algumas formas quadradas , aparentemente de cimento e resolvemos (eu e meu chefe caçador de peixe) nos aproximarmos do solo e analisar os quadrados , semelhantes a hilipontos. Eram de fato de cimento com algumas pontas de ferro saindo da estrutura que indicavam serem resistentes ao peso de um helicóptero pequeno.  Nos sentindo seguros , o chefe me perguntou . “dá para pousar ? acho que dá, respondi....então tenta, disse ele. Me aproximei com cautela e testando “leve nos esquis” acabei pousando. Era seguro.

Cortei o motor e descemos ressabiados. O chefe saiu explorando o local e eu fiquei tomando conta do SeaBaboon . Vai que uma cabra resolve experimentar um pedaço dele.

Fiquei apreciando a linda paisagem daquele ponto alto da ilha onde havia pousado e pensando na “lenda dos canibais de Eiao” que havia pesquisado na noite anterior .

Diz a lenda que os franceses queriam fazer ali os testes nucleares que acabaram acontecendo em Moruroa nos anos 60 . Por que não fizeram em Eiao? Na verdade, não sei ... mas a lenda conta que quando os franceses desembarcaram na ilha , com material para construção das estruturas para os testes nucleares , encontraram uma sociedade de indivíduos isolados que sobreviviam praticando canibalismo. Os franceses , antes de saberem desse pequeno detalhe , desembarcaram trazendo na bagagem algumas cabras prenhas visando o abastecimento de leite durante o período de trabalho. Uma vez que as cabras se adaptassem as condições inóspitas da ilha.


Já os locais canibais, vendo a chegada de “carne fresca” aos seus domínios, representado  pelos ” braquelos “ europeus e seus bichinhos leiteiros, os receberam com simpatia e cordialidade, até que estivessem descansados , confortavelmente  instalados  e prontos para “o abate”. Na teoria dos locais, nessa situação “as carnes” estariam mais macias, sem a tensão natural de enfrentamentos.

Sem querer me estender em detalhes, diz a lenda que depois de se alimentarem de todos  os franceses, os canibais locais , se voltaram para o produto nacional , na falta de “importados”. A ingestão de produtos importados parece ter diminuído o apetite sexual dos naturais de Eiao, devido ao baixo teor de libido, característica do recém consumido “ alimento importado”. Por este motivo a reposição de estoque de alimento nacional diminuiu a ponto de sobrar apenas um cidadão humano em Eiao que acabou morrendo por desnutrição tornando-se alimento para as cabras que havia se reproduzido em grande quantidade, alimentando-se de qualquer vegetação rasteira entre as pedras e restos de antigos banquetes de humanos.


Se tudo isso é fato , ou lenda ... não posso afirmar ,mas que na ilha de Eiao só tem cabras e provas materiais de que humanos com conhecimento de “ concreto armado “ (talvez para fazerem testes nucleares) passaram por ali ... ah isso é verdade..

“Vamos embora ... nessa ilha só tem pedra, umas ruinas velhas e cabra... e uma delas ficou me encarando”.

Era o chefe que tinha voltado meio revoltado.

Vou pescar que é melhor .... ele completou.

Dei partida no SeaBaboon , dei uma olhada em volta e reparei num majestoso bode , que do alto da ilha numa pedra se impunha observando toda movimentação a distância , de focinho empinado sob um par de chifres imponentes como se estivesse dizendo:



Aqui em Eiao ... mando eu !!





Se quiser....Vai pescar



4 comentários:

  1. Caro amigo Pirata, você destruiu a narrativa de que " terra dos Bodes sempre é um bom destino..." Bem, depende dos Bodes, né..rsrs

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    1. Caro Compa
      Prazer em tê-lo a bordo de novo.
      Quanto a sua afirmação, acho que devemos submete-la a avaliação do famoso Pirata Alado "Bode" Wilson. Acho que ele é doutor em "pirataria bodesca "
      abraço ( cuidado com o gancho do braço esquerdo)

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  2. Precisa publicar um livro com essas estórias! Parabéns! Muito boa!

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    1. Caro "Unknown"
      Obrigado pelo elogio. Isso infla o EGO de qualquer pirata.
      Quanto ao livro...se houver alguém interessado em publicar, pode ficar a vontade. Estórias bem contadas é o que me move...."moedas"... são bem vindas a qualquer pirata...mas por si só não trazem a alegria de momentos vividos.
      Obrigado pelo comentário
      Forte abraço (cuidado com o gancho)

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Obrigado.👍👍
Pirata Alado