As Aeronaves
Amigos da Pirataria
Alada...meu cordial ...Olá
Em tempos deste “Feliz Ano Novo” de 2022 com o maldito vírus
“coroado” sofrendo mutações enchendo o saco de todos além das águas que vem do
céu causando tragédias na terra , mantenho meu tempo sendo consumido por
lembranças de tempos menos eleitoreiros movidos pelos seres humanos , e menos
trágicos movidos pela natureza. Escrevendo as histórias (e algumas
estórias) me deparei com uma ferramenta presente em
muitas das publicações que contribui . Este ponto em comum , é a citada fermenta
( aeronave helicóptero), uma tem nome de
batismo outorgado por mim mesmo: Sea Baboon !. Muitos me perguntam por que Sea
Baboon ? Eu explico :
“Para quem não sabe Sea Baboon é o nome que batizei um dos
helicópteros que pilotei durante a minha vida profissional de piloto executivo.
Ele é uma máquina do modelo AS350 B2 projetado pela antiga Aérospatiale (hoje
Airbus) , francesa e montado pela subsidiaria brasileira Helibras. Essa
aeronave foi adquirida por um grupo empresarial para operar a bordo de um “Super
Yacht”(Karima) privado com capacidade de operar helicópteros de pequeno porte
tendo inclusive hangar para manter a “ferramenta” nas melhores condições de
preservação e manutenção. Essa ferramenta era utilizada principalmente para
transporte e lazer dos proprietários e seus convidados , além de apoio
logístico ao barco e eventualmente evacuações aero médicas se necessário.
Quando foi adquirido sob minha responsabilidade técnica , foi estipulado pelo
proprietário que a cor seria um verde acinzentado (mesma cor do Karima) .
Julguei essa cor como sendo uma mistura de verde oliva do Exército Brasileiro ,
com cinza ardósia da Marinha do Brasil. Era quase uma camuflagem. Inicialmente me
senti a vontade como militar veterano , no entanto preocupado com a
“camuflagem” caso fosse obrigado a pousar no mar ou em terra em emergência.
Seria mais difícil para os órgãos de socorro verem a “ferramenta” em apuros
camuflada. Depois de uma argumentação com o proprietário , obtive êxito
conseguindo pintar uma parte da ferramenta com cor “chamativa”. Seria um
alaranjado na cauda da ferramenta. Portanto seria (e foi ) um helicóptero cinza
esverdeado de cauda e cabeça do rotor alaranjado. Pode ser para alguns , um
gosto estético questionável , mas me deixou satisfeito. Esta ferramenta teria
como missão “saltar “ de um lado para outro tal um macaco. Teria a cauda (ou bunda)
vermelho alaranjada, tal um macaco babuíno. Operaria principalmente sobre o mar,
tal um macaco babuíno marítimo ( se existisse). Teria a matrícula de Bermuda (ex-colônia
inglesa) tal a bandeira do Karima de tripulação internacional. Então, nada mais
justo que batizá-lo de Sea Baboon ! (O Babuíno do Mar). Ninguém gostou (nem o
proprietário) mas foi assim que a ferramenta passou a ser chamada por todos e
ficou internacionalmente famosa.
Explicação nominal feita , passemos a falar sobre a máquina
AS 350 B2 ... VP-BFL...a Sea Baboon.(assim mesmo , de gênero feminino “A
aeronave”, como eu a tratava).)
Quando o proprietário comprou o Karima na Itália ele operava
com um AS 355 bimotor, vermelho.
(nunca gostei muito desta cor , normalmente associada na aviação a "emergência" )
A Marinha havia recebido 11 helicópteros desse modelo
na Aérospatiale , na França em 1986/7, num contrato de aquisição ,
portanto eu já era qualificado no modelo (logo, conhecia a máquina) e não gostava das suas
características de voo, principalmente da sua potência em condições de clima
quente, além do peso com 2 motores e equipamentos duplicados para ser
homologado IFR (voos por instrumento o que exigiria também , duplo comando e
dois pilotos) na época. Dessa forma , o proprietário me deu liberdade de
escolher o helicóptero que eu achasse mais conveniente para o tipo de operação
para a qual seria utilizado.
Eu havia passado por uma experiência , quando Chefe da Polícia
Naval da Capitania dos Portos do Estado de São Paulo , em 1997 durante a
enchente do Vale do Ribeira. Fui encarregado de chefiar o grupo de resgate
aéreo que era composto de várias aeronaves da Marinha , da Força Aérea e da Polícia
Militar do Estado. As aeronaves sob minha coordenação eram do tipo AS 350
montadas pela Helibras a exceção da AS 355 da Marinha . Foi uma tragédia com número baixo de mortos , muito em
função dos resgates aéreos executados pelos helicópteros. Sendo qualificado no modelo 355 , pude observar melhor a situação, como copiloto em
alguns resgates . Baseado em Registro, pude admirar a capacidade daquela aeronave
em condições diversas , tanto quanto a resistência , facilidade de manutenção e
eficiência operativa em geral comparada aos 350 dos outros operadores.
Recordando desta experiência e conversando com colegas de
Marinha que operavam essas aeronaves no HU-1 (Primeiro Esquadrão de Helicópteros
de Emprego Geral ) , me decidi por 350 , no seu modelo mais potente analógico ,
o B2. A modernização digital do B3 não me atraiu devido aos problemas
eletrônicos que poderiam ser gerados no ambiente úmido salino onde iriamos operar,
baseados num iate permanentemente no mar. Foi a decisão correta , o hangar do Karima havia sido projetado para ela.
Outro fator que contribuiu para a decisão , foi a grande
rede de assistência técnica espalhada pelo mundo , uma vez que essa aeronave é
operada em todos os cantos , seja por Forças Armadas ou Policiais, além de
atividades civis (comerciais e executivas) dos mais diversos países.
As atividades da dupla (Pirata Alado & Sea Baboon) foram
iniciadas com operações a bordo da Nau Karima no Mar Terreno do Mediterrâneo
próximo a costa italiana. De lá seguimos para as ilhas gregas no Mar Egeu.
Estreamos os voos sobre a mítica Mikonos. Foi inesquecível, tanto pelo visual
quanto pela facilidade de operação a bordo. Várias outras ilhas gregas se
seguiram, inclusive a impressionante Santorini , que emprestou seu aeroporto
internacional para o primeiro pouso para transporte de convidados para o
Karima.
Do Egeu, a dupla, continuou a escrever a história no Adriático,
nas Baleares e por todo o sul da Europa naquela primeira temporada de verão. Nesse
período enfrentamos algumas tempestades e nos safamos muito bem, até numa
tempestade de neve no início do inverno na Cote D’Azur. No inverno permanecemos
operando na Suíça sob muita neve . Com a chegada do verão a dupla se deslocou
da Suíça até a Inglaterra ultrapassando os Alpes a 12 mil pés e cruzando o
Canal da Mancha até pousar em Stansted próximo a Heathrow nas cercanias de
Londres. Ao regressar ficamos baseados em Cannes na França. No final do verão
Europeu de 2006 deixamos o Mediterrâneo com destino as Canarias no Atlântico.
De lá a Sea Baboon cruzou o grande Oceano até a América do Sul fazendo uma parada
esportiva piscosa na ilha de Ascensão , a bordo do Karima.
Na América do Sul , partindo de Vitória, a dupla encarou
tempestade de granizo, além das torrenciais tempestades de verão no hemisfério
Sul até curtir a gelada Patagônia pontuando em Ushuaia e Punta Arenas. De Punta
Arenas , passando por Santiago encaramos o Deserto do Atacama , com sua secura
extrema e muita areia em elevação diminuindo a visibilidade , por 7 horas de
voo até pousar em Iquique, extremo norte do deserto chileno.
(👇filminho sobre esse período)
https://youtu.be/cvWZ8wpuXj8
Da América do Sul seguimos pelo Grande Oceânico Pacifico para
operar na Polinésia Francesa e suas inúmeras Ilhas. Foram voos deslumbrantes em
pelo menos 2 temporadas. Voamos muito na Nova Zelândia até nos aventurarmos no
Sudoeste Asiático , estreando pela Tailândia, seguindo para a Malásia e
posteriormente para as ilhas de Andamã e Nicobar na Baia de Bengala,
pertencentes a Índia. Da exótica e burocrática Índia, seguimos para a linda e
mulçumana Maldivas com intenções de cruzar por meio do Mar Arábico para a
África do Sul , curtindo no caminho as Seychelles e Madagascar. Infelizmente a
atividade dos piratas da Somália em 2009 fizeram com que o Proprietário
desistisse da África nos enviando para
Austrália. Essa decisão tornou possível que fizéssemos meia volta , na
volta ao mundo e fossemos para a diversificada Indonésia.
A temporada da Indonésia iniciou na Ilha de Borneo. La o
calor e a umidade da floresta famosa, testou a capacidade do Sea Baboon de
resistir as condições semelhantes às da nossa Amazônia( coisa que a Marinha do
Brasil já realiza há muitos anos ). Mesmo nesta ilha isolada encontramos apoio
técnico para uma inspeção de manutenção no Sea Baboon.
Na Indonésia a dupla teve oportunidade de
conhecer além do macaco
Probocis de
Borneo (primo do Sea Baboon), o dragão de Komodo tendo sido o primeiro
helicóptero a pousar naquela área proibida preservada por conta do seu dragão.
Conhecemos os milhares de morcegos gigantes de Satonde , em sobrevoo ao Karima.
Entramos na cratera do vulcão de Tambora a 12 mil pés e conseguimos sair não
tornando o Sea Baboon um monumento dentro do vulcão. Nos despedimos da
Indonésia curtindo a Copa do Mundo de futebol de 2010 em Bali , indo para a
Austrália. Foi o ponto final da dupla Pirata Alado & Sea Baboon.
No grande , lindo e alegre país ilha dos cangurus , a
Austrália, muitas coisas aconteceram . Uma grande inspeção realizada na
Eurocopter (antiga Aérospatiale) de Brisbane, com cumprimentos dos técnicos , pelo
estado de manutenção em que se encontrava
o Sea Baboon. Fiz um grande amigo australiano que muito me ajudou na
lida profissional. Fiquei maravilhado com aquela ilha , que na minha opinião
tem um padrão de vida típico dos Americanos do Norte, cultura dos seus
colonizadores britânicos e alegria típica de povos tropicais como os
brasileiros. O único problema da Austrália , é a sua distância do Brasil (do
outro lado do mundo). Esse fator e o nascimento da minha única neta determinaram
a separação consensual da dupla. Assim foi colocado o ponto final na história
deste , vitorioso, aventureiro e agradável relacionamento entre o Pirata Alado
e a “raçuda” Sea Baboon.
Que me perdoe a minha querida companheira de aventuras , a
Sereia Pi, mas tenho que confessar o meu amor por essas máquinas que classifiquei
certa vez como “ ovos que voam”.
Desde a infância tenra desenvolvi um sentimento amoroso
infantil pela aeronave Bell Jet Ranger ( onde fiz meu primeiro voo). Era uma demonstração
do fabricante para oficiais da FAB no Campo de Marte. Tive o privilégio de ser
aceito num dos voos quando ao final o piloto me batizou de “Baby Bell” por ter
sido a primeira criança do mundo a voar naquele tipo de helicóptero em 1962 . Posteriormente
, em 1980, a Marinha me ensinou a controlar aquele ovo que voava selando a
minha paixão por aquela máquina. Ficou registrado que o meu primeiro amor , foi uma
aeronave americana, mas durou pouco. A mesma Marinha me apresentou o meu maior amor,
a aeronave Westland Lynx WG13, conhecida na Marinha como SAH-11 Lynx.
Essa aeronave me conquistou instantaneamente. Foi paixão à
primeira vista. Era linda , nos esplendor da sua tenra juventude. Era guerreira
temida. Forte , potente , rápida , ágil e imprevisível. Como todas jovens, apresentava
problemas de formação surpreendendo aqueles que tentavam dominá-la. Foi um
relacionamento intenso e passional. Era inglesa puro sangue. Me fez esquecer
rapidamente a minha paixão adolescente americana.
Depois de algumas DRs ( discussões
de relacionamento) comuns em qualquer relacionamento amoroso , a Marinha nos
separou. Fui mandado para a França e lá flertei com algumas francesas, mas jamais
esqueci a minha paixão inglesa (meu verdadeiro amor) . Quando voltei da França reativamos
o relacionamento
e acabamos nos unindo
em 1998. Ela estava mais linda e poderosa agora conhecida como AH-11A Super
Lynx. Nosso relacionamento íntimo foi rompido quando sai da Marinha e caí na
vida civil . Ela não podia me acompanhar ... era uma aeronave militar.
Logo comecei a namorar uma francesa novinha a aeronave
Colibri EC 120. Era jovem , linda e charmosa, mas não tinha a força e agilidade
do meu amor verdadeiro. Tivemos um bom relacionamento , até ela me apresentar a
prima : a aeronave AS350B2 Écureuil , também francesa. Ela já de uma idade
madura, experiente e confiável. Logo nos tornamos amantes. Foi um período
difícil . Tive que controlar as duas francesas, mas o tempo comprovou toda qualidade
da Écureuil ...a batizei de Sea Baboon ...e foi minha inseparável amante
aventureira
por 5 anos ... mas no fundo ,
nunca consegui esquecer meu grande amor ... ela me inoculou com seu sangue ...
o “sangue de Lince”. O sangue dos outros animais , tanto da garça como do
esquilo, além de colibris, golfinhos e pumas ainda circulam pelo meu corpo , mas nada que
se compare ao efeito do sangue de lince. Depois de me afastar
da Pirataria Alada ativa, ainda flertei com
outras francesas do tipo EC-135 ... mas nada me emocionou . Elas eram muito
regradas e não me proporcionaram nenhuma emoção. Pareciam até meio prostituídas
. Pegavam qualquer um.
Consultando a Internet me
deparei com esta informação que copiei de um site aeronáutico.
Entre inúmeros recordes, a cidade de
São Paulo acaba de incorporar (em 2021) mais um. É a campeã em frota de
helicópteros no mundo inteiro. O dado é da Abraphe (Associação Brasileira dos
Pilotos de Helicóptero). Segundo o levantamento, publicado oficialmente, a
cada 45 segundos um helicóptero pousa na capital paulista. O movimento é
tão intenso que a FAB (Força Aérea Brasileira) criou um sistema inédito para
garantir a segurança desse intenso tráfego. Com isso, é também a única cidade
do mundo que possui um controle de tráfego aéreo exclusivo para helicópteros. O
Brasil está à frente de países como México, Venezuela, Argentina, Colômbia e
Chile, no que diz respeito ao mercado de aviação executiva na América Latina.
Se é verdade , ou não ...não
posso afirmar, mas me senti orgulhoso por ter feito parte desta estatística.
Afinal , nasci e trabalhei nesta atividade da minha megalópole. (algumas vezes
acompanhado do meu grande amor)
Assim , gostaria de homenagear a novíssima geração , no estado da arte , de “WILDCAT”.
Essa aeronave , de sangue anglo atalianado que estão invadindo a “Caverna dos
Linces” estão começando a escrever um novo capítulo no HA-1. Se souberem honrar
o legado deixado pelo meu grande amor , dedicarei respeito e reconhecimento por
essa “sex” iniciante tecnológica. No entanto parece que a tecnologia avança
tanto que em breve os “réles” mortais que se candidatam a dominá-las podem
tornarem-se “supérfluos” sendo substituídos por “jogadores de vídeo game”. O tempo dirá. Enquanto aguardo o curto tempo
que tenho disponível, já garanti que a verdadeira História do HA-1 se perpetue por
meio deste moderno equipamento (a INTERNET), antes que os antigos meios de
comunicação (e instrução) : “os livros “ se queimem com o tempo.
GOD SAVE THE QUEEN ( and pirates )
https://youtu.be/bC8S55exogY
Fazer uma volta ao mundo com essas características narradas só cabem a um bom Pirata Alado, como vc. Acredito que vc hoje tenha a sensação do dever cumprido. A jovem rebelde, imprevisível e temperamental Lince também deixou marcas em outros Piratas, acredite. Muitas emoções a lembrar.... Abçs!
ResponderExcluirCaro Compa, você como poucos entendem as características da nossa rebelde "Lince". Assim ela conquistou corações. Evoluiu , se modernizou , se tornou mundialmente respeitada e ultimamente (depois do casamento italiano ) mudou de nome. Confesso não saber se essa mudança afetou sua marcante personalidade mas, independente disso permaneço fiel a ela dos tempos de solteira , a "Guerreira Puro Sangue Britânica" indomável que só respeitava aqueles que se dedicavam com amor a ela. Resistiu dignamente a invasão dos "chips"... e dignamente, assim como o mundo moderno, capitulou aos interesses que hoje dominam o Universo.
ExcluirMesmo triste eu entendo ... e sei que estará eternamente tatuada no coração de vários guerreiros que tiveram o privilégio de "desfruta-la".
Obrigado pelo comentário...meu amigo.
Forte abraço
Espetáculo poder conhecer vários países trabalhando no que se gosta, com muita competência e experiências, e ainda tendo por perto muitos amores rsrsrs
ResponderExcluirContinue nos contando as suas aventuras.
Caro "Unknown"
ExcluirObrigado pelo seu comentário elogioso. Realmente viajar é um espetáculo. Nas condições que tive oportunidade , considero um privilégio. Os "amores" se desenvolvem por vários fatores. Quando se ama uma máquina fica mais fácil de explicar.... se não for maquina aí .... é complicado.
As aventuras que ainda sobreviverem na minha memória serão sempre compartilhadas.
Até breve.
Um abraço
Parabéns amigo Barreira. Uma descrição das sus aeronaves digna do seu cabedal literário. Aquela nossa foto com o AS 355, Ecureil, na Aerospatiale me remeteu a um passado maravilhoso. Nossa odisseia no GFRHF, em Marignane. Parabéns por mais esse "mot" que você escreveu.
ResponderExcluirAthayde
Muito obrigado amigo Athayde.
ExcluirA foto foi escolhida a "dedo " pensando em você e em todos que participaram do importante processo desenvolvido no GERHF. Aquela comissão na França foi muito importante para eu desenvolver a minha opinião sobre as características das várias aeronaves que tive a oportunidade de usar como "ferramentas" profissionais. Procurei não detalhar muito , para não me tornar enfadonho tecnicamente , em respeito aos leitores "aventureiros". Coisa de Pirata.
Obrigado pelo seu comentário. Quando publicar seu excelente trabalho sobre a história do GFRHF, me avisa. Terei imenso prazer em divulga-lo.
Forte abraço