terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Companheiros de Alvorada - a Série

 


Amigos da Pirataria Alada..." paz na terra aos homens de boa vontade " ( alguém já desejou isso algum dia )... que assim seja ( pelo menos aos de boa vontade ... )

Dito isso, considerando os tempos que vivemos , o Veterano resolveu deitar letras sobre um " conto" que tem assaltado ( no bom sentido) as minhas noites mal dormidas.
Assim , próximo ao final deste novembro e ao som de  "Red Hot Chili Peppers"...nasceu o  conto dos "Companheiros de Alvorada ".




COMPANHEIROS de ALVORADA

PREFÁCIL
O INCIDENTE AÉREO

Era uma vez num verão quente há uns 50 anos , numa Praia Grande do litoral
sudeste de um grande país da América ( a do Sul que fique bem claro ).
A praia , apesar de “bem grande” estava lotada de banhistas se refrescando nas
águas amenas e tranquilas . Havia banhistas de diversas origens . De norte a sul
do grande país sulamericano . Muitos convergiam no verão pelos mais diversos
motivos . Uns estavam gozando de merecidas férias , outros mesmo trabalhando
desfrutavam das maravilhas litorâneas , inclusive das belas donzelas que por ali
arejavam seus jovens corpos torneados e bronzeados a beira mar . Alguns
aproveitavam a suave brisa marinha que soprava para praticar esportes radicais
aéreos suspensos por paraquedas sem motorização conhecidos como
“parapente”. Era o caso do Jair , jovem Campineiro de nascença que encantado
pelos alunos de uma Escola de “defensores da Pátria “, iniciou sua formação de
“Lider Militar” se especializando em se lançar do céu de uma rampa ou de uma
aeronave , ficando pendurando no ar apenas preso ao paraquedas por cordas
(como o próprio nome diz ... o tal artefato só serve para “aparar a queda “ ). O
controle do artefato exige um certo treinamento , de “ puxa e solta , cordas “ até
se adquirir o controle que o faça “aparar a queda “ numa superfície , terrestre ou
aquática , dependendo do objetivo almejado.
Outro frequentador da Praia Grande , era um rapaz, chamado Luiz , de família de
migrantes nordestinos , que por falta de recursos financeiros para manterem a
imensa família no agreste do sertão resolveram embarcar num “ Pau de Arara “,
desembarcando na rica Capital produtiva do sudeste. Lá não faltaria trabalho nem
muitos trabalhadores sendo empregados formalmente com direitos trabalhistas
garantidos por contrato , de acordo com remuneração e deveres aceitos em
comum acordo. O Luiz logo cedo conseguiu arrumar emprego de metalúrgico , ou
seja , cortador e soldador de metal para fabricação , basicamente de automóveis .
O Luiz trabalhava numa cidade satélite onde, há séculos, os Jesuítas haviam
fundado aquela cidade que viria a ser o “motor “ daquele enorme país. 

O esporte predileto dele era pescar e por esta razão estava tentando pescar boiando numa boia vermelha de criança ( o Luiz não sabia nadar porque no agreste em que vivianão havia água ). Dizem que a boia vermelha , ele “pegou emprestada “ de uma criança desatenta a beira mar (há dúvidas sobre isso ). Assim sendo o Luiz boiava
tranquilo e seguro degustando um “méezinho alcoólico do demônio” numa
mamadeira plástica (que estaria próxima a boia) que depois de utilizada seria
descartada na água ( ele adorava mamar ... se não leite , por que não um
“méezinho” só pra esquentar ?)
Foi quando tudo aconteceu .
O Jair meio desgovernado , procurando um lugar seguro para atingir a superfície
“aparando a queda”, longe da areia lotada na Praia Grande , mirou na boia
vermelha ... e TChhuUUMM ! pousou na água próximo ao Luiz . O parapente
desinflou sem o ar causado pela descendente e cobriu os dois que ficaram “ Tete a
Tete” quase tocando ambas as bocas , tal qual um beijo romântico. Isso só não
ocorreu porque a extensa barba do Luiz incomodou a face do Jair que se afastou .
Os olhares se cruzaram sob a cobertura do parapente .
Na praia todos observavam o desfecho daquele acidente aéreo praiano. Curiosos
os banhistas em função da demora de algum movimento tentavam chamar o
SAMU . Demorou muito porque naquela época não havia “celular” para agilizar o
processo . Os banhistas só não sabiam o diálogo que rolava entre o Jair e o Luiz
sob o manto do parapente .
- Pô ... Companheiro ! ... que Porra é essa ? Questionou o Luiz usando os termos
comuns entre os trabalhadores metalúrgicos .
- Foi mal ... Mêu ! Desculpa aí !! Foi um incidente aeronáutico . Respondeu
educadamente o jovem milico Jair.
- Incidente o Cacete !!!... você além de me assustá ... derrubou o meu “méezinho
“....e a minha mamadeira cheinha ...eu vô querê reparação dos danos . Tenho
Doutô do Sindicato que vai te processá !
- Peraí... Você sabe com quem está falando ??? !!! Perguntou o Jair.
A situação estava começando a se tornar ... “ríspida” , quando o Luiz (que tinha
“língua presa”) meio preocupado naquela época , tentou apaziguar .
- Peraí você ... Vamô negociá ! Quem você é?
- Sou Oficial Militar de Caxias. Disse o Jair. O seu Doutor do Sindicato só vai me
processar depois que houver uma Investigação Aeronáutica da Força que Voa
decidindo que fui eu, a causa principal do acidente e não, a falha do material
aeronáutico . Nesse caso seu Doutor vai processar o fabricante da Aeronave
parapente com sede nos Norte Americanos Estados Unidos . Será que o seu
Doutor vai querer encarar ?? Disse o Jair de nariz em pé.



- Tá bom ...vamô deixá prra lá . Oví uma sirene lá fola . serrá que é da tua turrma?
Se fô , põe a cabeça prra forra da tenda e diz que tá tudo bem.
O Jair de pé ainda dentro d’água rasa, puxou o parapente fazendo o sinal de Ok
para todos os banhistas e do SAMU ,que aplaudiram os dois “acidentados
abraçados “.
- Qual o seu nome ? Perguntou educadamente o Jair .
- Inácio... Luiz Inácio ...Disse o metalúrgico estendendo a mão esquerda com 4
dedos , em sinal de Paz.
O Jair estendeu a mão direita espalmada com 5 dedos... bateram as mãos
espalmadas
- Messias ... Jair Messias . Disse o Jair milico se apresentando, e completou .
- Ta pescando o que , aqui numa água que dá pé , numa boi vermelha... e sem vara
de pescar ?
- Num sei nadá ...peguei a boia de um amiguinho . Tô pescando... Pôvo...aquele
peixe cheio de pernas mole cumpridas ! ...Ia dizendo o Luiz quando foi
interrompido .
-.... Peraí ...”não é pôvo...é polvo” ...e o nome é lula que é menor e a gente come os "tentáculos” picadinho ... não as “pernas moles”. O prato se chama “Lula à Dorê". Além disso, a lula não é peixe ... é “molusco “ ! ... e não é “pescado ... é caçado com rede . Cadê a tua rede pra caçar a lula ? Afirmou e perguntou o Jair.
- Qui rrrêde nada ... eu dô é porrrada na cabeçona do Pôvo ou da Lula sendo lá “
malusca “ ou pêxe ... não me interessa ... eu como as perrnas moles ... picada e
dourrada ... ou não “! Disse o Luiz encerrado a conversa sendo puxado pelo Jair
para areia da Praia Grande.
Quando se sentiu seguro , já com a boia vermelha na areia , sob aplausos dos
banhistas ... o Luiz agradeceu fazendo um “L” (de Luiz) e um “J” (de Jair) com os
dedos indicadores e polegares das duas mãos (a da esquerda fazendo o “L” e a da
direita fazendo o “J “.... dizendo : - Vâmo tomá um mé na conta dos metalúrgicos
na barrraca ...vem comigo.
O povo banhista seguiu os dois que se sentaram na barraquinha praiana .
- Me dá uma 51 ...disse o Luiz pro barman,
- Eu quero uma número 1 do Romário ! Disse o Jair levantando a mão direita com o
dedo indicador em riste , apontando para o céu.



CAPÍTULO 1

NASCE um RELACIONAMENTO

O papo entre os dois acidentados , na barraca da grande praia , já rolava solto depois de alguns brindes de 51 e da número 1. A plateia de banhistas foi diminuindo porque muitos desistiram de ver uma disputa envolvendo uma “queda de braço “ sobre a mesa. Tanto o Luiz (mais idoso e menos fisicamente preparado ) e o Jair ( mais novo e mais preparado fisicamente nos quarteis) chegaram à conclusão de que ,nem aquele palco e nem o momento , seriam apropriados para uma disputa filosófica , jurídica ou físicas. Isso poderia esperar. Afinal a “lula a Dorê” estava uma delícia. Mudaram de assunto. 

- Como você perdeu o dedo ? Perguntou um curioso Jair.

- Fiz “besterra” no trabalho ...e o dedinho foi cortado na máquina...e o Doutô medico não deixou nem o “cotoco” pra coçá narriz...kkk. Disse o Luiz

- Que pena... cotoco seria legal . Conheci um cara metido a Pirata durante as disputas esportivas entre as Escolas de Milicos que me contou uma história  interessante sobre cotocos . Dizia ele que quando era criança , tinha um amigo do pai dele que era mecânico de aviação . Ele estava vendo uma partida de futebol no interior , numa arquibancada feita de tabuas de madeira com pregos . Num gol do time dele , na comemoração , o tio do Pirata pulou esticando o braço esquerdo . quando o dedo anular esquerdo enroscou a aliança (de recém-casado) num prego e na aterrisagem do pulo arrancou uma parte do dedo , deixando só o cotoco.

 Depois de tratado , ele usava o cotoco pra coçar o nariz . Meu amigo Pirata, ainda criança, achava que ele havia enfiado metade do dedo no nariz . Resultado: ele dizia que era perigoso usar aquele “aro “ matrimonial no dedo , dependendo da situação . Contou o Jair entre um gole e outro da  número1.

O Luiz achou graça e brindou com a 51, dizendo sabiamente sorrindo .

- KKK bela filosofia do seu conhecido Pirata. É melhó mesmo mantê as vez o “aro” no bolso ...Só não pode esquecê de dá uma oiada no “bolso do aro “. Tem que ficá esperrto. Se perrdê o aro ... pode dá ruim  com as mulé kkkk”.

- É verdade . Concordou o Jair .-A gente pode chamar de “bolsodoaro” kkk.

- Falando em Mulé ...você tem ? Perguntou o Jair.

- Tô na segunda . A primeira deu pane. E você ? Respondeu perguntando o Luiz 

- Também estou na número 2 . A número 1 me deu O 1 , O 2 e O 3...já A número 2 me deu A1 ! Na caserna aprendi que é melhor numerar para não perder a conta né? Isso sim é disciplina ! Respondeu o Jair orgulhoso.

- É melhó mesmo ... porque Mulé é complicado  ... Eu já perrrdí a conta ...acho que devo tê ... uma meia dúzia de fiô ...e Mulé , só conto as que são do Sindicato. Além disso só uso o “bolsodoaro”  ... quando precisa né? Estou em campanha! Afirmou o Luiz sorrindo sarcasticamente .

Depois de alguns goles , o Jair perguntou :

- O que você fez depois de perder o dedo , já que não podia mais trabalhar ?

O Luiz já “amaciado” pela 51 explicando com o mesmo,  sorriso sarcástico nos lábios moles , disse:

- Pois é ... trrabaiá ... dá muito trrabaio ...aí resolvi virrar “sindicalista” usando só a minha lábia pala convencê  os trrabaiadorrs prra pedi aumento. A gente ganha pôco. Voce não ?

- Também ganho pouco mas jurei defender o país com a própria vida ...até com fome, independente de salário , mas “um algum a mais “, não faz mal , né?- disse o Jair.

O dia na Praia Grande escurecia . O sol se punha na linha do horizonte e os banhistas haviam abandonado o bar onde aqueles dois bebuns só falavam besteiras. Haveria um show na praia , com artistas famosos, entretendo os felizes frequentadores curtindo o verão em segurança.

- Lindo porr do sol ...né? Perguntou o Luiz completando - ...mas eu prefiro a alvorada ! 

- Por do sol é lindo ... mas depois vem o escuro da noite. Concordo com você . A alvorada é muito melhor. As coisas vão ficando mais claras . A gente vai descobrindo um monte de coisas boas e a imensidão da criação do Senhor. – Disse o Jair apontando o dedo indicador direito para o céu.



O show  na grande praia começou. O som das guitarras elétricas soou alto dando ritmo a voz do cantor. Os dois novos amigos de barraca  ouviram a música ... de um pequeno  grupo que batalhava para aparecer no cenário musical . A Banda chamada “Ultrage a Rigor “...cantava um refrão dizendo .... “ Inútil ... a gente somos inútil... “. Os bebuns não deram bola pra música e continuaram o papo tomando todas...e comendo o “Pôvo Dourrado de perrrrninhas picadinhas” (segundo o Luiz Inácio).

Quando a noite findava , o Ultraje já havia encerrado o show a rigor. A praia quase vazia só era compartilhada pelos “bebuns” restantes e o pessoal da limpeza praiana (os faxineiros)...e pela dupla de novos amigos  observando aquela ... alvorada. O prato de “ povo dourado” já estava vazio  quando os dois bebuns cambaleantes se despediram.

- Tchau companheiro de alvorrrada . Disse o Luiz já de boca mole

Com o sucesso alcançado como sindicalista eleito Presidente (do Sindicato) , o Luiz resolveu fundar um Partido Político para trabalhadores. Se lançou como candidato a representante do povo que trabalhava (porque ele já estava aposentado por falta de dedo) no sistema legislativo vigente .  Eleito , adquiriu o direto de votar para Presidente (do Grande País Sulamericano) , representando o povo , no sistema eleitoral indireto , semelhante ao sistema eleitoral do grande país do norte das Américas , que havia vencido a Segunda Grande Guerra. Adotou o nome do molusco que , gostava de pescar e passou a caçar, quando aprendeu que lula não era peixe , mas era gostoso picadinho a “ dorê “. 

Já o Jair , voltou a caserna com ideias de sindicalista sobre salários (e trabalho) aprendidas naquele incidente aéreo com o Luiz , na Praia Grande. Implementou as idéias do Luiz junto aos seus subordinados ( que gostaram) . Os seus superiores , quando perceberam a atividade “sindicalista” do Jair na caserna, consideraram inapropriada e o puniram de acordo com as regras militares. 

O Jair inconformado com a punição , pendurou a farda e se dedicou a uma atividade semelhante à do seu novo conselheiro , o Luiz . Se candidatou a uma atividade , mais rentável . Foi eleito representante de uma parcela do povo nos fóruns de debates parlamentares . Fez sucesso entre os militares que eram minoria se comparados aos “trabalhadores “.mas mesmo assim conseguiu manter seu discurso sendo reeleito diversas vezes , assim como o Luiz.

Com o sucesso das “mudanças” em sua vida , o Jair resolveu abrir as portas dos Parlamentos Legislativos municipais , estaduais e federais , para seus filhotes . Afinal as portas das casernas , que pagavam pouco e exigiam muito, não seriam uma opção. Teriam que estudar muito e fazer concursos muito disputados. Isso era coisa para o povo , sem ambições “financeiras “. (medalha de honra não paga conta de picanha regada a número 1).Entrar pra Política era mais fácil. Era só fazer promessas (que não seriam cumpridas ) e depois dizer que a culpa era dos outros . Bastava ser bonitão com mulher bonitinha e andar de moto fazendo foto com o povo .


Queridos leitores...este conto é tipo seriado. Assim sendo, se estão curiosos , ou se gostaram , solicito que se manifestem favorável ( ou não).
A sequência já está em edição. 

Respeitoso beijo no coração de todos ( e todas ).