Amigos da Pirataria Alada , meu cordial... Olá
Em tempos de comemorações de 200 anos de nossa Independência
de Portugal , me surpreendi pensando no “grau” de independência que atingimos.
Entre outras , me deparei com um problema que ainda nos atrasa em relação ao
mundo civilizado:
“a burocracia estatal”.
Eu só me dei conta desse problema , quando passei a lidar
com burocracia de vários países das mais variadas culturas, políticas
governamentais, orientação religiosa e graus de corrupção. Foram mais de 30
países onde, por força da minha atividade profissional, fui obrigado a lidar
com a “burocracia estatal” de cada um desses países (particularmente na
atividade aérea). Minhas atividades aéreas exigiam uma grande quantidade de :
vistos, autorizações, qualificações, homologações e por aí vai. Em todos esses
países eu era um “estrangeiro” como cidadão brasileiro e assim sempre fui
tratado como um “estrangeiro”, até aqui no Brasil porque , mesmo sendo cidadão
brasileiro, em uma única vez (2006), entrei no país pilotando uma aeronave com matrícula
estrangeira : o VP-BFL , matrícula de
Bermuda que operava com um Certificat
of Validation de ATPL ( Airline
Transport Pilot’s Licence ) emitida pela DCA ( Department of Civil Aviation)
daquele país.
No Brasil a atividade aérea era regulamenta pelo DAC (Departamento
de Aviação Civil) órgão controlado pelos militares do Ministério da
Aeronáutica. Em dezembro de 2005 foi criada a ANAC (Agencia Nacional de Aviação
Civil) , que passou a funcionar em 2006 sob controle do Ministério da
Infraestrutura . Essa mudança fez parte de um processo executado pelo
Presidente Lula, visando diminuir a influencia dos militares , na estrutura
política do país. A partir de então, o controle da Aviação Civil estava nas
mãos dos políticos da estrutura eleitoreira que se apossou do Brasil.
A Entrada no
Brasil
Eu, em
2006, operava
um EC-120 (colibri) de matrícula brasileira , com minha licença ANAC de PLAH (Piloto
de Linha Aérea – Helicóptero) onde constavam as minhas qualificações de equipamentos
(aeronaves) assim como a validade do meu exame médico renovável anualmente.
Operava ao mesmo tempo , o VP-BFL de matrícula da Bermudas com licença do DCA
com minha qualificação de AS-350B2 (esquilo
B2) , revalidando o meu exame médico da minha licença brasileira da ANAC.
Foi naquele ano de 2006 , no mês de dezembro ,que a Nau
Karima ( com o Seababoon VP-BFL, hangarado a bordo) atracou no porto de Vitória
, proveniente da Base Militar anglo-americana de Ascenção , no meio do
Oceano Atlântico. Por ser uma Base Militar estratégica, não fui autorizado a
voar sobre aquela ilha. Sendo assim , vim para o Brasil operar com o Colibri
brasileiro e aqui estava quando a Nau Karima atracou em Vitória para
abastecimento e posterior deslocamento para a Patagônia. Esta parada do Karima
foi providencial porque me daria a oportunidade de executar uma das inspeções
de manutenção previstas , no país que havia fabricado o Seababoon (na
Helibras).
Para voar no Brasil, eu precisava dar a entrada
internacional voando o Seababoon que teria decolado do exterior. Isso só
poderia ser feito em voo , pousando num aeroporto Internacional , caso
contrário , a aeronave seria encarada como “carga” do Motor Yacht Karima sem
autorização de voo no país e exigiria um processo burocrático de Importação
temporária (segundo instruções da ANAC e da Receita Federal.
De posse dos detalhes burocráticos internacionais exigidos
pelos vários órgão estatais de fiscalização no Brasil , decidi em comum acordo
com o Comandante do Karima ( recém assumido em Tenerife), que após abastecer em
Vitória, o Karima quando atingisse “aguas internacionais “ (12,5 Milhas Náuticas
da costa brasileira) eu decolaria com o Seababoon, com Plano de Voo
Internacional FROM M/Y Karima TO SBGL (aeroporto internacional do Galeão) no
Rio de Janeiro, cumprindo assim todas exigências burocráticas da ANAC , Receita
Federal e Policia Federal).
“Controle Rio ... VP-BFL ...bom dia .... helicóptero AS-350
... visual ... decolado do Motor Iate Karima navegando em águas internacionais ...12,
5 milhas náuticas traves leste de Vitória... com destino SBGL mantendo 500
pés... estimando 2 horas e 30 minutos para entrada no seu circuito. “
Chamei o controle de
acordo com as instruções da ANAC quando passei meu plano de voo por telefone antes
da decolagem.
Me senti orgulhoso quando pousei no Galeão sem nenhum tipo
de problema. Era um grande prazer falar português usando aquela aeronave
estrangeira depois de mais de um ano tendo que me virar com meu inglês
macarrônico, com meu portunhol e o meu francês de rua por toda a Europa
Ocidental nos últimos anos. Afinal , consta na minha licença ANAC “PORTUGUES
NÍVEL 6 “.
A Polícia Federal foi a primeira a inspecionar a aeronave em
busca de drogas ( provavelmente ). Além do meu maço de cigarros brasileiro ,
nada foi encontrado e, portanto, fui autorizado a entrar no país. Em seguida
vieram as autoridades da Receita Federal que inspecionaram principalmente a
bagagem em busca de algum contrabando. Minha bagagem era uma mochila cheia de
documentos, nada que merecesse ser taxado. Antes de me darem o papel que me
liberava , o agente me perguntou:
“ Comandante , qual foi o último aeroporto de onde decolou
?”
Sorri e respondi :
“ Decolei de um Iate privado chamado Karima de porto de registro Hamilton – Bermuda navegando em águas internacionais”
“Comandante , desculpa ... mas preciso de um registro de
aeroporto internacional , caso contrário o computador da Receita , não aceita
para emitir a autorização de entrada no Brasil”
Fiquei pasmo e argumentei :
“ ... mas o ultimo aeroporto internacional que decolei foi o
de Marina de Campo , na ilha de Elba na Itália quando saímos da Europa há uns 6
meses “.
“ Não faz mal ... é só para o computador aceitar e emitir a
sua autorização “.
“ a matrícula do aeroporto de Marina di Campo é EBA “ . Respondi constrangido.
“ Ok . Resolvido. Aqui está sua autorização de entrada no
Brasil . Tenha uma boa estada no Brasil Comandante “.... e me entregou o papel.
Ainda estava perplexo segurando a autorização da Receita
Federal quando chegou o Inspetor da ANAC. Ele pediu toda documentação da aeronave
, os meus documentos da DCA Bermudas minha
licença ANAC e a autorização da Receita Federal. Ficou lendo tudo por uns 10
minutos enquanto eu aguardava .
“ Comandante a sua licença médica vencerá dentro de 1 mês”. Disse
o inspetor depois de analisar toda papelada em detalhe.
“ Eu estou ciente. Já estou agendado para fazer os exames no HASP (Hospital de Aeronáutica de
São Paulo) na semana que vem. “ Respondi confiante.
O inspetor ficou em silêncio analisando a autorização da
Receita Federal , quando sorrindo me perguntou de forma sarcástica :
“ Comandante... o senhor está de sacanagem ? quer nos
convencer que veio voando de helicóptero monomotor de Marina di Campo , em Elba na Itália
até o Brasil ? “
Quando ouvi aquelas palavras senti como se um vulcão
estivesse entrando em erupção dentro de mim. Tive vontade de pegar o pescoço do
inspetor com as duas mãos e esganá-lo até as minhas forças se exaurirem .
Pensei que meus olhos fossem pular como bilhas de aço perfurando o cidadão a
minha frente e naqueles 30 segundos de mudez eu pensei nos vários corruptos que
enfrentei durante os quase 30 anos de profissionalismo que havia vivido até
aquela data em várias atividades pelo mundo e sob um excepcional controle
emocional , consegui responder :
“ Não senhor inspetor da ANAC. Eu não estou de SACANAGEM. Eu
estou aqui há mais de 1 hora sendo inspecionado por vários órgãos estatais e
repetindo a mesma coisa. Eu decolei de um Iate em Águas Internacionais no
traves de Vitoria e pousei aqui. No entanto , se a limitação tecnológica dos
nossos computadores ou a limitação profissional dos nossos funcionários
públicos são incapazes de entender a situação me obrigando a informar
oficialmente absurdos , o senhor vai me desculpar , mas quem está de SACANAGEM
, não sou eu “.
O inspetor da ANAC parou de sorrir , assinou um papel e me entregou
, dizendo :
“A sua aeronave está autorizada a voar no Brasil por 1(um)
mês , até a validade do seu exame médico.”
Virou as costas e foi embora sem me cumprimentar.
Em qualquer país uma aeronave estrangeira quando entra no seu
espaço aéreo mediante voo internacional , tem por regra autorização para ficar
no país estrangeiro pelo período de 3 meses . Se ultrapassar este período , é
obrigado a sair do país ou processar uma “importação temporária”.
Não me preocupei com a malcriação do inspetor, limitando a
aeronave , a uma restrição do piloto. Eu faria o exame médico na semana
seguinte enquanto o Seababoon faria inspeção de manutenção na Helibras , em São
Paulo. Em menos de 1 mês nós estaríamos de volta ao Karima que estaria em Montevideo
se preparando para a temporada de Patagônia (o Fim do Mundo).
A Permanência no
Brasil
Cumpri meus exames no HASP. Estava em perfeitas condições
médicas para continuar em segurança nas minhas atividades aéreas pelo mundo.
Enviei o resultado para o DCA das Bermudas por meio digital que fez a
revalidação imediatamente emitido a minha licença atualizada on-line. Do HASP
atravessei a rua no Campo de Marte e fui visitar o Seababoon em fim de inspeção
de 100 horas, na Helibras .
Tudo corria como planejado e resolvi passar a noite
em São Paulo dedicando a noite a uma pizza de muçarela (única no mundo) na
famosa Pizzaria do Bruno ne Freguesia do Ó. Desde criança quando morei em
Santana nos anos 50/60, e me habituei todos os domingos a almoçar naquela
pizzaria degustando, além da deliciosa pizza de muçarela
, a especial salada da casa com aliche. Teria
sido um dia perfeito ao lado da minha Sereia Pi , se não tocasse o meu celular.
“ Pirata... o Karima está com problemas no canal de São
Sebastião. Apareceu um grande vazamento pelo eixo que está embarcando muita
água. Assim que o Seababoon estiver pronto vá para São Sebastião . Pode pousar
no heliponto da Marina Igaracê, que está dando apoio ao Karima”
Era o Chefe me dando a ordem de fornecer apoio logístico a
Nau Pirata em dificuldades em águas brasileiras. Isso teria várias alterações
de planejamento e de burocracia para mim . O Seababoon só teria uns 20 dias de
autorização de permanência em território brasileiro, segundo a ANAC. Eu teria
que exigir o cumprimento da legislação internacional , sobre o VP-BFL , agora sem a limitação
médica do seu piloto.
No dia seguinte fui a Helibras
fazer o voo de Check pós inspeção de 100hrs. Estava
tudo perfeito . Fiz
o pagamento com
cartão de crédito e decolamos eu e a Sereia Pi para o Guarujá.
A Sereia desembarcou e segui para a Marina
Igaracê em São Sebastião. Lá conheci o Sérgio , proprietário, que prestava
apoio ao Karima , fundeado próximo , dado ao seu tamanho (170 pés)
que impedia a atracação. O Karima estava
adernado visando manter o local do vazamento (retentor do eixo) fora da água. Me
reuni com o Capitan Roy, que havia assumido há pouco tempo. Já o Magiver
(Claus) meu amigo e chefe de máquinas me deixou a par do tipo de apoio que
deveria prestar. Deveria ir ao Rio de Janeiro pegar no Galeão os técnicos italianos
que estavam chegando para analisar e resolver os problemas do Karima e depois
ficar a disposição para o que fosse necessário.
No dia seguinte pousei no Galeão pagando um taxa
internacional de pouso consideravelmente alta (comparada as que estava
acostumado a pagar na Europa). Enquanto esperava a chegada dos técnicos
italianos fui ao escritório da ANAC pedir
a extensão da autorização legal que a aeronave tinha direito de
permanência no Brasil , de 3 meses .
“ Sem problemas comandante. Realmente a aeronave tem direito
aos 3 meses de permanência. Basta o senhor fazer um requerimento de próprio
punho e apresentar na sede da ANAC no centro da cidade , que no mais tardar em
5 dias úteis será analisado e provavelmente será autorizado , caso contrário o
senhor deverá tirar a aeronave do território brasileiro “
Foi a instrução que o agente da ANAC me passou. Não respondi
e fui buscar os técnicos italianos que estavam desembarcando. Me lembrei da
corrupção que tive contato nos aeroportos do Suriname e Guiana (ex inglesa) com quem
fui obrigado a me relacionar profissionalmente durante a minha temporada no
Panamá. Afinal somos todos Sul Americanos.
Deixei os técnicos no Karima e acompanhei ansioso o
andamento do trabalho mirando o último dia que estaria autorizado a voar com o Seababoon
em território brasileiro. Nesse período de cerca de 10 dias voei freneticamente
entre São Sebastião e Rio de Janeiro , prestando os mais variados apoios recebendo
material e pessoal , vindos e indo para a Europa. Evitei o pouso no Galeão em
função das taxas abusivas cobradas pela INFRAERO. Encontrei um local de apoio no
Rio que seria muito mais barato, o Heli Rio que na época permitia pouso de
helicópteros executivos na Barra da Tijuca a preços honestos. Além de mais
baratos , evitavam a burocracia estatal do Galeão.
O tempo estava terminando e o os reparos do Karima evoluindo
a contento. Me reuni com o Capitan Roy e
avaliamos a situação e tomamos a decisão: Tirar o Seababoon do Brasil , voando
para Montevideo no Uruguai , no limite da autorização. Comunicamos nossa conclusão
ao Chefe , que concordou e autorizou nosso plano. Chegando em Montevideo eu
aguardaria a chegada do Karima.
Antes do dia para a saída do Brasil , ainda fui uma vez ao
Rio de Janeiro para levar alguns tripulantes que estavam desembarcando.
Pernoitei no Rio. No dia seguinte pousaria no Karima , embarcaria o Sergio
(proprietário da Marina Igaracê) que pediu para me acompanhar no voo ao Uruguai
, aproveitando a oportunidade da aventura.
No dia seguinte , já era janeiro de 2007 , o dia amanheceu com aquela bruma colada ao
mar já minha velha conhecida de outras aventuras. Ainda bem que eu não estava
no Galeão . Se estivesse, não teriam me
autorizado decolar . Provavelmente não estaria operando VFR ( visual). Já na
Barra da Tijuca com o mar ao meu alcance, não foi difícil decolar mantendo uns
300 pés. O Humberto , meu fiel escudeiro (mecânico do seababoon) me acompanhava
naquela empreitada.
Decolado tracei uma rota por cima d’agua no GPS, direta
entre Rio de Janeiro e São Sebastião , mantendo 200 pés .
Ao passar pelo traves da Barra de Guaratiba , sobre o mar com
visual da pedra da tartaruga já
degradado pela camada que se adensava a minha frente , chamei o controle militar
da Base Aérea de Santa Cruz :
“Santa Cruz... helicóptero AS350 b2 VP-BFL ... visual de
Heli Rio na Barra da Tijuca para Motor Iate Karima no Canal de São Sebastiao....
mantendo 200 pés ... 120nós.....com 2 no POB.”
“ VP-BFL ... Santa Cruz ... mantenha-se em condições visuais
e acione transponder código YYYY ... confirme nome do piloto e licença de voo”
Percebi que o controlador militar da Base Aérea de Santa
Cruz ficou preocupado com o meu voo sobre o mar , em condições de voo visual com
uma aeronave estrangeira em condições meteorológica degradada na minha altitude
. Algo semelhante havia me ocorrido em 2002 na chegada ao Panamá.
“ Santa Cruz... VP-BFL ... Comandante Barreira ... licença
ANAC PLA-H número XXXX... acionando transponder YYYY”.
quando disse meu nome e numero da licença ANAC , percebi que o controlador militar já me conhecia , de tantos voos realizados naquela rota , com o Colibri. Ele me cumprimentou.
Quando a bruma aumentou , diminui a velocidade para 60 nós
diminui a altitude para 50 pés e ajustei o alarme de radar altímetro para 20 pés.
Neste momento o controlador da torre de Santa Cruz percebeu pelo transponder a minha
dificuldade e transmitiu :
“ VP-BFL .... Santa Cruz ... topo da camada a 2500 pés ....
se preferir ascender por segurança está
autorizado e monitorado radar ....”
“Santa Cruz ... VP-BFL .... abandonando 50 para 3.000 pés
.... na proa ...200°... 500 pés / minuto de ”Rate de Subida". .
Transmiti e me concentrei nos instrumentos em total silêncio
na cabine. Cinco intermináveis minutos
se passaram nestas condições , quando senti o sol clarear a cabine e transmiti
sobre um tapete branco de nuvens por baixo.
“ Santa Cruz .... VP-BFL ... Em condições totalmente visuais
... estabilizado em 3000 pés...aumentando para 120 nós .... estima Ilha Bela em
mais 48 minutos... obrigado pelo apoio”
“ Bom trabalho VP-BFL .... mantenhas as condições e acuse
abandonando Santa Cruz ... bom voo comandante “
Desfrutando daquele visual impagável sobre o tapete branco
pensei: “ estou ficando especialista em varar camadas com segurança voando
aeronaves não homologadas, sem piloto automático. Tudo é uma questão de concentração
e “scan” preciso e contínuo. Foi assim que meus mestres nessa arte me ensinaram
na Marinha, inicialmente nos Bell Jet Rangers (IH-6) do HI-1, complementado nos
Lynx (SAH-11) do HA-1. A esses “mestres” dedico o prazer que estava sentindo
naquele momento. Havia sentido a mesma sensação ao cruzar a Cordilheira dos
Andes e a serra do mar a bordo de um Colibri , os Alpes suíços e agora a Baia
de Ilha Grande com o Seababoon .
Já com a bruma dissipada na proximidade de Ilha Bela ,
pousamos no Karima já estabilizado e se preparando para zarpar .
A saída do Brasil
No Karima embarcamos o Sérgio . O Capitan Roy estava
satisfeito com nosso apoio logístico e marcamos um encontro em Montevideo.
Desejamos mutuamente boa viagem quando decolei para um abastecimento no Guarujá
(a Base do Colibri). A Sereia Pi , nos recepcionou. Enquanto o Humberto
abastecia o Seababoon dei uns beijos na Sereia e nos despedimos com meu retorno
sem previsão , como já era de praxe naquela época.
Decolamos eu nos comandos, o Sérgio ao meu lado curtindo uma
de copila observando a navegação na tela do GPS e o Humberto confortavelmente
instalado no banco de trás , como passageiro , para um voo direto, sobre o mar a
1000 pés previsto para 2,2 horas com destino a Itajaí na costa catarinense. Foi
um voo tranquilo e exótico para o Sérgio em alto mar, sem visual de terra , na
área mais distante 40 milhas náuticas da costa.
Pousamos em Itajaí . Enquanto o Humberto abastecia o Seababoon
, Sergio e eu fomos ao terminal de passageiros do Aeroporto de Navegantes,
cumprimentar meu grande amigo parceiro de outras aventuras , o Pirata Prático
Paulo Ferraz . Foi um rápido e fraterno encontro. Decolamos de Navegantes com destino a Porto Alegre. Seria um
voo visual de 2,5 horas em rumos
práticos evitando condições meteorológicas adversas , comuns próximo a Serra
Gaúcha /Catarinense.
Quando sobrevoávamos uma região de fazendas próximas ao pé
da Serra na região de Criciúma , fomos atingidos por uma forte tempestade de
granizo. Eu já havia enfrentado , em voo, várias tempestades de água e até de neve, .... mas de granizo
era a primeira vez. Quando senti o barulho das pedradas de gelo no para-brisa ,me
assustei e preferi pousar no pasto de uma das fazendas. Ficamos dentro do Seababoon
nos protegendo das pedras de gelo . Não demorou para aparecer uma picape oferecendo
ajuda. Em pouco tempo estávamos cercados de picapes. A chuva parou e percebi
que havíamos nos tornado atração turística daquelas simpáticas famílias rurais
catarinenses. Nos confraternizamos. Agradeci a todos o oferecimento de ajuda e
pedi que afastassem suas picapes, para minha decolagem . Inspecionei o
Seababoon quanto a danos causados pelas pedras de gelo. Nada de grave além de pequenas “mossas” na
estrutura foi constatado. O seababoon sobreviveu dignamente ao ataque
meteorológico da natureza. Decolei e pousamos no Aeroporto internacional
Salgado Filho de Porto Alegre , já no crepúsculo. Dali faríamos a saída do
Brasil no dia seguinte.
No meu planejamento eu havia previsto um problema para
retirar o Seababoon do Brasil , a autonomia
de 2hs 45 min da aeronave. Para sair de um
aeroporto internacional do Brasil (Porto Alegre) e chegar num Aeroporto
Internacional no Uruguai (Montevideo ) eu não teria autonomia. A solução seria
entrar no Uruguai via Aeropuerto Internacional de Melo, no Uruguai.
O aeroporto internacional de Cerro Largo, em Melo no
Uruguai, localizado no pampa uruguaio próximo a fronteira Brasil/Uruguai há 1h
20 minutos de Porto Alegre preenchia todos
os requisitos de entrada de uma aeronave estrangeira, além de abastecimento.
Era perfeito para mim.
Apresentei meu plano de voo internacional que foi aceito sem
restrições pelos órgãos de controle brasileiros, para minha surpresa.
A entrada no
Uruguai
Decolei e depois de uma hora de voo , ao cruzar a fronteira
chamei o controle do Uruguai. Não obtive resposta. Imaginei que seria a minha
baixa altitude de voo (500 pés) . Estava com meu transponder acionado no código
alocado no plano de voo , num dia lindo com total visibilidade , por isso não
me preocupei, e continuei o voo .
Ao me aproximar do aeroporto de Cerro Largo chamei na frequência
prevista em todas as publicações oficiais.
“Cerro Largo ... VP-BFL ... buenos días ... helicóptero
AS350 ... visual ... desde Porto Alegre Brasil ... a Melo ... con 3 en el POB
.... 500 pies .. .120 nudos ... 15 minutos para el circuito ... instrucciones.”
Aguardei contato e ... nada. Prossegui o voo e ao ver a
pista repeti a transmissão acrescentando que estava transmitindo “AS CEGAS”, já
no circuito para pouso. Não obtive resposta. Sobrevoei o aeroporto que estava
completamente vazio e sem nenhum tipo de movimento. Preocupado, resolvi pousar
economizando combustível.
Pousado, tive a sensação de estar num filme de suspense. O
aeroporto parecia ser fantasma . Não havia ninguém. Me aproximei de um , único
pequeno prédio, que parecia ser o terminal. Nele, havia um papel na porta ,
fixado por fita adesiva , dizendo:
“Si necesita ayuda llame al número” ... e seguia-se um
número telefônico.
Peguei o celular e liguei o número indicado. Alguém atendeu
gentilmente, com voz feminina. Eu me apresentei e aguardei a resposta que veio depois
de alguns segundos com uma voz gentil masculina.
“Encantado de conocerlo, Comandante ... mi nombre es Juan y
estaré allí en 10 minutos ... gracias”.
O telefone foi desligado e eu fiquei pasmo , sem ação.
Aguardei e 10 minutos depois o Juan chegou pedalando uma velha bicicleta.
Nos cumprimentamos e ele se antecipou dizendo que o Pablo
estava a caminho para fazer a papelada de ingresso no Uruguai...e para operar o
abastecimento de QAV do Seababoon.
O Pablo chegou e 1 hora depois eu estava com toda
documentação aduaneira, sanitária e policial necessária , além do Seababoon
abastecido com QAV de boa qualidade , atestado pelo teste efetuado por um Humberto
desconfiado. Efetuei um plano de voo visual para Montevideo, que o Juan aprovou
imediatamente , me fornecendo um código transponder.
Guarnecemos a aeronave e chamei a “rádio Cerro Largo”. O
Juan atendeu prontamente e autorizou minha decolagem desejando boa viagem .
Decolei e ao fazer o circuito fiz uma passagem baixa observando o Juan junto ao
Pablo acenando para nós da porta do pequeno prédio. Próximo a eles havia uma
mulher e me surpreendi .
“ Aquela é a Eleonore , mulher do Pablo . Ela me entregou um
bolo de milho para nossa viagem enquanto o marido estava abastecendo o
Seababoon“
Era o Humberto esclarecendo a minha surpresa pelo comunicação
interna da cabine.
“Vou sentir saudade da PACATA e PROGRESSISTA MELO “......disse
o Sérgio pela fonia interna.
Permanecemos calados abordo pela hora seguinte de voo
monótono sobre os extensos pastos do pampa uruguaio. Eu pensava em qual seria a
razão para ter um aeroporto “internacional” em Melo , e naquelas condições.
Imaginei várias possibilidades , mas acabei deixando pra lá...meu problema
estava resolvido . Chamei a torre de “Carrasco” pela segunda vez . A primeira
havia sido em 1982 , quando a bordo de um LYNX SAH-11 a bordo da Fragata
Independência, participando de uma Operação Fraterno , tínhamos que decolar
para fazer um voo Check pós troca de motor, em águas territoriais uruguaias ,
na entrada do Rio da Prata.
“Carrasco ... VP-BFL ... buenas tardes ... helicóptero AS350
... visual ... de Melo a Montevideo ... 500 pies ... pista en el visual ...
instrucciones”
“ VP-BFL... Carrasco... Buenas tardes ... te tengo en mi
vista ... te informo viento tranquilo .... libre aproximación directa ...
cabecero 19”.
Pousamos tranquilos. Apresentamos toda documentação
fornecida em Melo. Estava tudo correto. O Sergio ficou no aeroporto para pegar
um voo comercial para São Paulo . Eu e Humberto fomos para um hotel aguardar a
chegada do Karima dali há alguns dias, fazendo turismo pelo belo Uruguai, país
conhecido como “ A Suíça sul-americana”. (deve ser em função da falta de “burocracia
estatal”...pelo menos em 2007).
Alguns dias depois , num domingo , decolei de Carrasco e me aproximei para pouso no Karima. Percebi um agito turístico na praia da Enseada de Ramirez. Imaginei que seria para acompanhar o meu pouso a bordo do Karima. Não era !... logo atrás se aproximava o iate OCTOPUS , do Paul Allen (maior iate do mundo na época).
Por que será que o Paul Allen preferiu atracar em Montevideo ...e não no Brasil ?... mas o KARIMA atraca...